Eurocentrismo? A visão da Azimut sobre a nova ordem mundial dos mercados

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Os primeiros meses de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos têm aumentado o otimismo da Azimut em relação à Europa. No centro da tese da gestora de patrimônio, com € 113,9 bi (R$ 754 bilhões) em ativos sob gestão, está a política tarifária do novo governo americano.

“Estamos assistindo a uma mudança que nunca tinha acontecido depois da Segunda Guerra Mundial. Achamos que a Europa vai ter, outra vez, uma centralidade para os investidores a nível global, pela confiança e segurança que os governos da região proporcionam aos mercados”, diz Stefano Del Papa, head de gestão de ativos da América Latina da Azimut, em entrevista ao NeoFeed.

Na avaliação de Papa, os Estados Unidos estão “se excluindo dessa equação”, diante da desconfiança gerada pelas idas e vindas nas tarifas de exportação. Um dos reflexos, afirma, é a desvalorização do dólar. Desde o início do ano, o euro subiu 10,4% frente à moeda americana, sendo 5,65% apenas em abril.

“Em um momento como esse, de aversão ao risco, o dólar se valorizaria. Mas não foi o que aconteceu. E isso é uma mudança extremamente importante. A reação do dólar mostra que os mercados não gostaram nada da atuação do governo. Então o capital foi embora dos Estados Unidos.”

Papa pontua que não só a queda do dólar e das bolsas americanas contribuíram para a pausa temporária na aplicação de tarifas pelo governo americano, mas especialmente a queda dos treasuries, que elevou os juros de longo prazo nos EUA. Outro efeito foi a abertura dos spreads de crédito — a diferença paga por um título privado em relação aos papéis soberanos.

“Esse spread também aumentou na Europa, só que o patamar já era muito mais alto. Acreditamos que, além desse carrego atrativo, há oportunidade de ganho de capital quando esses spreads se fecharem”, afirma. Nesse mercado, Papa vê as melhores oportunidades nos títulos híbridos, que oferecem maior retorno em troca de menor proteção.

“Se a empresa quebrar, os detentores dos títulos híbridos são os últimos a receber, mas eles pagam um spread de até 7 pontos percentuais a mais em relação aos títulos sêniores”, diz. Para as companhias, a vantagem é que apenas parte dessa dívida entra no cálculo de alavancagem, o que preserva o rating de crédito.

Dentro da Azimut, Papa afirma que, no ano passado, fundos focados em híbridos chegaram a render 10 pontos percentuais acima do CDI. Isso porque, além do retorno nominal em euro, a gestora aplica hedge cambial para os investidores brasileiros — o que adiciona à rentabilidade o diferencial de juros entre Brasil e União Europeia.

“O carrego é muito próximo ao de um fundo de crédito privado no Brasil. Mas com a diferença de que você está investindo em empresas com grau de investimento na Europa, com exposição global.”

Bolsas europeias

Papa também vê uma oportunidade melhor na renda variável europeia do que na americana. Diferentemente do crédito privado, porém, a tese em ações é de médio a longo prazo. “É preciso mais propensão ao risco, porque o mercado deve se manter volátil neste ano, devido às incertezas relacionadas às tarifas.”

O executivo lembra que, historicamente, os múltiplos de empresas americanas são maiores que os das europeias, devido ao maior crescimento nos EUA. “Mas acreditamos que esse gap deve se fechar, com essa nova oportunidade que está se criando.”

Além de ver uma Europa mais bem posicionada diante do reposicionamento americano, Papa destaca que o continente também deve se beneficiar do plano de investimentos da Alemanha, de € 500 bilhões — uma resposta à menor participação dos Estados Unidos no apoio à guerra contra a Rússia.

“A Alemanha está entrando em um novo paradigma. Foi um dos países que menos investiu nos últimos anos, e agora vai inverter essa lógica radicalmente. Achamos que agora também está se construindo um case de investimento para a renda variável da Europa.”

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Neofeed

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