Veja exemplos do poder transformador das aulas de educação financeira nas escolas


A educação financeira é um instrumento amplo, que dá o conhecimento para a gente se planejar, controlar gastos, criar uma reserva de emergência – se for possível -, usar o crédito disponível no mercado de uma maneira equilibrada. Confira a última reportagem da série sobre educação financeira
O Jornal Nacional apresenta nesta quarta-feira (16) a terceira e última reportagem da série sobre educação financeira . O Hélter Duarte mostra que, nas escolas, ela tem mudado a vida de alunos.
A pobreza não foi a única adversária do especialista em investimentos Matheus Alves. Ele nasceu com baixa visão por causa de uma catarata congênita, o que atrasou a alfabetização. Passou por quatro cirurgias. Mas depois, voou! Foi de estagiário a gerente de um banco e está cursando economia.
“Acredito que minha missão hoje, por mais que seja mínima, é transformar a vida de outras pessoas através de investimentos, através da educação financeira de um jeito simples”, diz Matheus Alves.
Missão que o Matheus vai cumprindo com o próprio exemplo.
“Eu comecei a criar boletos para os meus sonhos. Por exemplo, eu tinha o sonho de comprar um carro. Eu peguei o valor desse veículo, dividi em 48 ou 60 vezes, é um exemplo, e aquele valor que deu, ao invés de eu me enfiar em um financiamento e pagar muito mais caro, eu preferi trabalhar de forma extra para poder pagar aquilo ali”, conta Matheus.
O dinheiro desse “boleto do sonho” ia direto para uma aplicação no banco.
Matheus Alves: Comprei o carro. Levou quatro anos.
Repórter: Você foi juntando e depois comprou à vista? Foi isso?
Matheus: Sim, sim.
Repórter: Sem pagar juros?
Matheus: Sem pagar juros.
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O ponto de partida e os obstáculos. A educação financeira é um instrumento amplo, que dá o conhecimento para a gente se planejar, controlar gastos, criar uma reserva de emergência – se for possível -, usar o crédito disponível no mercado de uma maneira equilibrada. Mas onde e como aprender tudo isso? Na escola, diz a presidente do Todos pela Educação.
“A educação financeira é amplamente amparada pela legislação brasileira, também está prevista na Base Nacional Comum Curricular, que dita os parâmetros curriculares de todo o país. Está lá como um conteúdo transversal, ou seja, que pode ser trabalhado em diversas disciplinas. A disciplina mais óbvia é a matemática, mas ele também pode ser trabalhado, por exemplo, em língua portuguesa, porque em grande medida saber fazer o planejamento financeiro, saber interpretar textos é muito importante”, afirma Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação.
Veja exemplos do poder transformador das aulas de educação financeira nas escolas
Jornal Nacional/ Reprodução
O MEC – Ministério da Educação não tem um levantamento do percentual de escolas que cumprem a determinação. Mas há iniciativas como a da Bolsa de Valores B3 em parceria com a Secretaria de Tesouro Nacional. Escolas públicas de todo o país participaram da primeira Olimpíada de Educação Financeira. Os adolescentes aprenderam sobre orçamento familiar e investimentos e depois responderam às provas.
“Nossa premiação vai muito além da medalha. Esse ano pude ter o orgulho de comprar meu próprio material escolar sem precisar da ajuda dos meus pais, é muito incrível”, comemora o estudante Rian William Pinheiro.
“Eu aprendi a fazer listas, organizar o meu próprio dinheiro. Aprender tudo isso na escola pode nos ajudar para vida toda”, diz o estudante Darfran Lobato.
O professor Fábio Marinho dá aula de educação financeira para alunos de escolas municipais no Rio de Janeiro. Projeto que ele começou por conta própria 20 anos atrás. Prejuízos, dívidas, doenças, tristezas, problemas de relacionamento: essas são respostas que as crianças – de 6 a 11 anos – deram a partir de experiências em casa. Lá, os alunos aprendem o que é o consumo consciente.
“Essas questões socioemocionais também estão debaixo desse guarda-chuva da educação financeira”, afirma Fábio Marinho.
Nas aulas, os alunos aprendem o que é consumo consciente. Os alunos já terminaram a pesquisa. Eles compararam os preços dos mesmos produtos em encartes de vários supermercados. Agora é sair da sala. A aula continua no supermercado, agora na prática, na vida real. Importante também saber calcular o preço do produto pelo peso da embalagem.
“A gente estava indo comprar algumas coisas na feira, meu pai falou: ‘Vamos esperar chegar no final de feira’. A gente passou lá para comprar melancia, aí o moço falou: ‘Ô, tem essa melancia aqui que está equivalente a 3 kg, que está valendo R$ 30. Só que como é final de feira vou fazer por R$ 25’. Ele: ‘Não, está muito caro. Vou ali em outro lugar’. Ele: ‘Não, não, não. Eu faço por R$ 20 para você’. Aí meu pai pegou e levou”, conta o estudante Davi Santos.
Veja exemplos do poder transformador das aulas de educação financeira nas escolas
Jornal Nacional/ Reprodução
A enfermeira Débora Dias de Souza foi uma das primeiras alunas de educação financeira do professor Fábio:
“Todos esses ensinamentos me fizeram, sim, hoje uma pessoa bastante organizada, que tem noção do manejo desse dinheiro. O que vale a pena e o que não vale, como que a gente faz para poupar aqui para lá na frente ter resultado melhor, atingir um objetivo maior. Tudo isso fez total diferença, sem dúvida”.
“A educação precisa acompanhar a complexidade da economia da sociedade. Então, a educação financeira para hoje é muito fundamental”, afirma Priscila Cruz, presidente-executiva do Todos pela Educação.
“A educação financeira acontece no contexto onde a vida acontece. E você tem que ser o protagonista”, diz a psicóloga.
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