Comunidades do rio Arapiuns recebem ações voltadas à saúde, educação e cultura


A segunda expedição do Projeto Saúde na Floresta foi realizada pelo Projeto Saúde e Alegria (PSA) em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Santarém. Atendimentos realizados pelo projeto Saúde na Floresta fazem a diferença na vida das comunidades
PSA / Divulgação
Ao longo dos 13 dias de expedição, o B/M Saúde e Alegria navegou pelas águas do Rio Tapajós, Rio Arapiuns, Rio Aruã indo até a cabeceira do Rio Maró, atendendo as comunidades de Prainha do Maró, Cachoeira do Aruã, Mentai, Camará, Curi e São Pedro. Em cada parada da expedição, além do serviço de saúde, foi possível ver também o envolvimento da comunidade com ações educativas e culturais, tornando a saúde algo mais próximo, compreensível e acessível.
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A ação ofertou atendimentos dermatológicos especializados, oficinas de arte-educação em saúde e apresentações do Circo Mocorongo, promovendo cuidado integral à saúde e à vida comunitária. Para muitas comunidades, foi a primeira vez que um médico dermatologista esteve presente. É o caso da comunidade de Prainha do Maró.
“Estou há quase dois anos na comunidade e é a primeira vez que a gente recebe esse atendimento com especialista em pele. É muito importante, porque a maioria das pessoas que têm algum tipo de lesão não conseguem ir até a cidade. São pessoas simples, que não priorizam o cuidado com a pele por falta de acesso”, relatou o técnico de enfermagem Antônio Rian.
O técnico também destacou a importância do atendimento dermatológico. “Dermatologista é uma especialidade difícil até em Santarém. Imagina aqui, que estamos a 22 horas de viagem em tempos de cheia, na estiagem a viagem chega a bem mais que isso […] A médica conseguiu identificar casos suspeitos de câncer de pele e já deixou tratamento e acompanhamento. Isso muda vidas.”
Gran Circo Morongo fez a alegria de crianças e adultos entre um atendimento e outro
PSA / Divulgação
O enfoque dado à especialidade dermatologia nesta etapa do projeto, se dá pelo contexto das populações que residem na Amazônia, uma região com altas temperaturas e com períodos de estiagem e quentes cada vez maiores. Para as populações ribeirinhas, a exposição solar é corriqueira e está atrelada, muitas vezes, à rotina das suas atividades cotidianas, como a pesca e a lida na roça.
“A gente tá na região do país que tem maior incidência de sol, então a gente tem essa preocupação com a saúde da pele com foco no câncer de pele que é um câncer que a maioria dos casos tem um tratamento e tem cura se você consegue intervir rápido […] e os que têm as formas mais graves se você também intervém, diagnostica e trata ele tem uma chance de cura alta”, disse a médica Carolina Pôrto.
Oficinas educativas
Além do atendimento médico, as comunidades participaram de oficinas lúdicas e educativas com foco em saúde e meio ambiente. Os temas abordaram desde cuidados básicos em saúde e prevenção de doenças até as mudanças climáticas e seus efeitos sobre a vida na floresta.
“A gente aprendeu sobre as secas, as enchentes e como isso tudo tá mudando. A oficina foi divertida, a gente brincou e também aprendeu de verdade. Foi a primeira vez que falaram disso aqui com a gente assim, desse jeito”, destacou a estudante Ana Clara, de 13 anos, moradora da comunidade Cachoeira do Aruã.
Crianças que participaram de oficinas, atentas às apresentações
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Já Hadassa, jovem indígena da aldeia Camará, destacou a importância do diálogo com os povos originários. “Vocês trouxeram conhecimento que às vezes a gente até sabia, mas não tinha consciência do quanto é importante […] Falar sobre reflorestamento, saúde e clima é essencial para nós que vivemos da terra e da água.”
O Circo Mocorongo levou riso e reflexão com espetáculos interativos. Para Ian Arapiuns, presidente da associação da aldeia Camará, o impacto foi profundo. “Foi a primeira vez que vimos uma encenação teatral na nossa aldeia. Nossas crianças ficaram encantadas e aprenderam brincando […] Foi muito mais que diversão, foi aprendizado com afeto.”
Vozes das comunidades: liderança e participação
As lideranças locais participaram ativamente da organização da expedição. Valdinei Andrade, presidente da comunidade Cachoeira do Aruã, destacou a logística e a importância do esforço coletivo.
“A maioria das pessoas não tem como ir até Santarém. Então receber aqui uma médica especialista, ter oficina pras crianças e ainda levar conhecimento pra dentro da escola, isso é muito valioso.”
Keliane dos Santos, vice-presidente da comunidade de Mentai e agente comunitária de saúde, reforça que o projeto ajuda a preencher um vazio histórico. “A gente nunca teve dermatologista aqui. Na primeira visita, já foram feitos encaminhamentos. E agora vieram os retornos. Isso mostra cuidado, mostra que não esqueceram da gente.”
Vivenciando a medicina na floresta
A expedição contou com a participação de onze acadêmicos de medicina da UEPA/Santarém, que realizaram seu último estágio da graduação em plena floresta. Para muitos, foi uma experiência transformadora.
A estudante de medicina Yasmin Azevedo
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A estudante Yasmin Azevedo contou como foi desafiador sair da zona de conforto. “Dormir em rede, sem ventilador, atendendo onde às vezes nem tem luz… Mas foi muito mais gratificante do que difícil. Entendemos outra realidade, ouvimos histórias e nos emocionamos.”
Gisela, também acadêmica do último semestre, pontuou o impacto da experiência na sua vida profissional. “Na cidade, a gente vê só a ponta do iceberg […] Aqui a gente entende por que muitos pacientes chegam com casos avançados. Isso muda a nossa forma de atender.”
Para o acadêmico Luan Moraes, foi a melhor maneira de encerrar a graduação. “A gente aprendeu mais em uma semana aqui do que em muitos meses na cidade […] A medicina precisa conhecer e respeitar a realidade de quem vive longe da cidade.”
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