O vencedor do Oscar que une o Vale do Silício a Hollywood

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Muitos talvez não o reconheçam pelo nome, mas a maioria deve saber do que se trata. Flipbook é aquele livreto com uma coleção de imagens, que variam ligeiramente de uma página para outra. Quando elas são folheadas rapidamente, dão a impressão de movimento, criando uma sequência animada. Pois bem, fazer flipbook era a diversão de criança do americano Alex Henning.

Nascido em Berkeley, na Califórnia, ele sempre foi fascinado por cinema e tecnologia. Hoje, às vésperas de completar 49 anos, Alex já conquistou o Oscar de efeitos especiais pelo filme A invenção de Hugo Cabret, em 2021, e preside a Magnopus, o estúdio de realidade virtual e realidade aumentada mais influente do mundo que une o Vale do Silício a Hollywood.

Em 2013, Alex e Ben Grossman, seu parceiro no prêmio pelo longa de Martin Scorsese, se uniram aos brasileiros Marcelo Lacerda e Rodrigo Teixeira, e os quatro embarcaram em um projeto ousado: conectar os mundos real e digital, tornando as experiências em um o prolongamento do outro.

Com sede em Los Angeles, escritório em Londres e 250 funcionários, a Magnopus tem um portfólio poderoso de clientes: Disney, Meta, Amazon, Nissan, Jaguar, Epic Games, Kilter Films, HBO e Nasa, entre outras.

A companhia se tornou conhecida do público com o remake de O Rei Leão, de 2019. Dirigido por Jon Favreau, o filme é um marco na história do cinema, pela alta tecnologia empregada na produção.

Tradicionalmente, os supervisores e técnicos de efeitos visuais trabalham em monitores de computador. Por meio da realidade virtual, a Magnopus colocou a equipe de filmagem dentro do set virtual, em uma experiência semelhante à produção cinematográfica ao vivo.

“As fronteiras entre o mundo real e o virtual estão diluindo”, diz Henning, em entrevista ao NeoFeed. Mas ainda não chegamos a um estágio de conexão plena entre os dois universos. Quando acontecer, defende ele, as tecnologias imersivas poderão aproximar as pessoas — e não isolá-las, como prega o senso comum.

“Essa entrevista, por exemplo, está acontecendo por meio de uma experiência de vídeo online, em duas dimensões. Conforme as tecnologias avançam, poderemos conversar em três dimensões, como se estivéssemos na mesma sala — mesmo não estando. Eu estaria muito mais ciente do seu entorno e você, do meu” , explica.

Formado em artes pela Universidade da Califórnia em Santa Cruz, Alex, em breve, vem ao Brasil, para participar do South Summit Brazil, um dos principais encontros de inovação do país, no qual o NeoFeed é parceiro de mídia, que será realizado entre 9 e 11 de abril.

A Magnopus levou entre seis e oito meses no desenvolvimento do software usado no filme “O Rei Leão”, de 2019 (Foto: themoviedb.org)

Para Henning, o trabalho para a Expo Dubai 2020 é o exemplo perfeito de como as tecnologias imersivas podem facilitar a conexão entre as pessoas (Foto: magnopus.com)

Para a Nasa, a Magnopus desenvolveu o projeto “Mission ISS”, que permite aos usuários explorar a Estação Espacial Internacional (Foto: magnopus.com)

Ao lado de Rob Legato, Joss Williams e Ben Grossmann , Alex gannou o Oscar de efeitos especiais de 2012, por “A Invenção de Hugo Cabret”, de Martin Scorsese (Foto: themoviedb.org)

Veja a seguir, os principais trechos da entrevista de Alex para o NeoFeed.:

Qual era o status das tecnologias imersivas em 2013, quando vocês fundaram a Magnopus?
Realidade virtual e realidade aumentada já existem há algum tempo. Mas seu uso era exclusividade, sobretudo, dos cientistas e dos governos. Elas não estavam no mainstream. Minha primeira experiência com RV foi provavelmente em 1991 ou 1992. Mas era tudo muito, muito trabalhoso.

Muita coisa avançou desde então.
Hoje, essas tecnologias são usadas por milhões de pessoas. Os preços estão mais acessíveis. Cada telefone que chega ao mercado, seja Apple, Samsung, Google ou qualquer outro fabricante, é capaz de fornecer uma experiência de realidade aumentada ou mista. Essas tecnologias são usadas para treinamento, entretenimento, educação, pesquisa…. Estamos vendo do que essas tecnologias e nós somos capazes.

E de que somos capazes?
Hoje levamos a internet em nossos bolsos. Não precisamos mais sentar em uma mesa, inicializar o computador, usar um mouse e um teclado. Se preciso fazer uma pesquisa, posso perguntar qualquer coisa para o meu telefone ou clicar no meu smartwatch. O grande divisor de águas será quando tivermos a experiência de realidade mista, proporcionada hoje por um MetaQuest ou um Apple Vision Pro, em dispositivos como os óculos que você está usando agora. No futuro, se eu quiser, por qualquer motivo, interagir com a camada digital, será preciso apenas apertar um botão em meu óculos — ou talvez nem isso. Quando essas tecnologias se tornarem onipresentes para uso diário, elas atingirão seu ponto de inflexão massivo.

“A mistura do mundo físico com o digital é o que faz a magia dos efeitos visuais”

Qual será o impacto das ferramentas imersivas no modo como interagimos com o mundo?
As fronteiras entre o mundo real e o virtual estão diluindo. Agora estamos todos online. Eu posso ter todas as informações do mundo neste dispositivo [Alex mostra o celular]. Mas é como escanear um jornal, certo? É uma experiência bidimensional, que tira meu foco do ambiente ao menor redor. Essa entrevista, por exemplo, está acontecendo por meio de uma experiência de vídeo online, em duas dimensões. Conforme as tecnologias avançam, poderemos conversar em três dimensões, como se estivéssemos na mesma sala — mesmo não estando. Eu estaria muito mais ciente do seu entorno e você, do meu.

Essas tecnologias poderiam então aproximar as pessoas?
Acho que esses dispositivos se tornam mais importantes e mais relevantes para nós à medida que podem nos conectar; em vez de nos isolar.

Estamos longe desse futuro?
Não acredito. Em minha opinião, não é uma questão nem de décadas, mas de anos.

Como foi fazer o filme O Rei Leão?
Jon [Favreau, diretor do longa] e os Walt Disney Studios estavam comprometidos em abordar o filme de uma forma muito diferente e nos deixaram fazer o desenvolvimento de software por seis ou sete meses antes de entrar em produção. Isso é extremamente raro e, para nós, foi uma oportunidade incrível. O filme é baseado em alguns locais da África, mas não fomos filmar na África. Construímos o mundo de O Rei Leão usando tecnologia de mecanismo de jogo, em tempo real. A equipe colocava os headsets de realidade virtual e era levada para dentro desse universo. Os cineastas podiam ver os personagens se movimentando. Podiam mudar a posição do sol, mover as árvores, as pedras, as montanhas… para compor as cenas.

Só a primeira sequência do filme A invenção de Hugo Cabret levou mais de um ano para ficar pronta. É mais difícil fazer um filme com elementos do mundo real?
Havia muita coisa envolvida. Essa sequência, por exemplo, teve de ser filmada em diferentes partes. Algumas delas foram completamente geradas por computador, enquanto outras eram totalmente físicas, e ainda havia aquelas que misturavam os dois. Em seguida, veio o trabalho de juntá-las para transformá-las em uma cena contínua. A mistura do mundo físico com o digital é o que faz a magia dos efeitos visuais. Muito do trabalho da Magnopus é fazer com que o processo digital se pareça com o processo físico — proporcionar no virtual a experiência que as pessoas teriam no real. É sobre se sentir presente.

Como assim?
Um de nossos maiores projetos foi a Expo Dubai 2020. Estávamos envolvidos desde as primeiras fases do planejamento, ajudando organizadores a visualizar o layout. Construímos um gêmeo digital de todo o local de quatro quilômetros quadrados, acessível no celular, na web e em realidade virtual. E então preenchemos esse gêmeo digital com experiências; personagens…. As ativações eram acessíveis tanto lá, fisicamente, por meio de realidade mista, quanto no ambiente puramente digital. Era como a versão de um videogame, que oferecia aos participantes a oportunidade de interação. Isso foi para mim a melhor coisa. Se eu estivesseem Dubai, e você aí, no Brasil, com seu telefone, você poderia me ver como um avatar e viver as experiências comigo. Isso é conexão humana, certo?

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Neofeed

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