“MDB quer lançar candidato em 2026 sem compromisso com Lula ou Bolsonaro”, diz Alceu Moreira

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O deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), presidente da Fundação Ulysses Guimarães, afirma que o MDB quer lançar candidatura própria à Presidência da República em 2026 e isso sem estar atrelado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ou ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Para ele, o partido precisa resgatar sua identidade e construir um projeto independente, sem se tornar um mero coadjuvante no cenário político.

“O MDB não nasceu para ser caudatário de ninguém. Se queremos um candidato competitivo, ele tem que representar um projeto próprio do partido e não um compromisso com Lula, Bolsonaro ou qualquer outro grupo político”, afirmou Moreira em entrevista à Gazeta do Povo.

O parlamentar também reforça que a legenda deve se posicionar com clareza nas eleições, em vez de apenas apoiar candidaturas de outros espectros políticos.

“Não podemos ser um partido que apenas elabora um documento estratégico para o Brasil e, no final, entrega esse projeto como uma “nota de rancho” [sem participação] para outro grupo [executar]”, critica o deputado, ao defender uma candidatura independente do MDB.

Na entrevista, Moreira também falou sobre o novo manifesto do MDB, “O Brasil Precisa Pensar o Brasil”, e a necessidade de aprofundar debates sobre desenvolvimento econômico e governança. Além disso, comentou sobre a possibilidade de impeachment do presidente Lula, o cenário de polarização política e a posição do MDB sobre a anistia aos presos do 8 de janeiro.

Confira a entrevista na íntegra:

Em 2015, o MDB lançou o manifesto “Uma Ponte Para o Futuro” meses antes do impeachment da presidente Dilma Rousseff, trazendo diretrizes para enfrentar a crise econômica. Agora, o partido apresenta o manifesto “O Brasil Precisa Pensar o Brasil”. Em que momento do governo Lula esse documento chega?

Alceu Moreira: A intenção do manifesto não é necessariamente “chegar” ao governo Lula, mas sim propor um debate amplo sobre o Brasil. Nós já temos uma série de documentos formulados pela Fundação Ulysses Guimarães, e esse movimento vai percorrer o país inteiro para construir um tecido político fundamentado em discussões sobre desenvolvimento sustentável e organização do Estado.

O problema hoje é que a política se tornou rasa. Parece que estamos reduzindo o país a um embate entre Bíblia e Código Penal, e o Brasil real, suas necessidades concretas, não estão sendo debatidas.

O manifesto não é direcionado ao governo Lula, ele será público e acessível a qualquer cidadão. Vamos aprimorar esse documento até maio, quando consolidaremos um eixo de propostas, e em setembro realizaremos um grande seminário em Brasília para aprofundar as discussões.

A grande diferença entre esse documento e o “Ponte para o Futuro” é a sua capilaridade dentro do partido. O “Ponte para o Futuro” foi um excelente trabalho intelectual, mas não teve uma apropriação real pela base partidária. Agora, queremos que cada membro do MDB conheça e compreenda o que o partido propõe para o país.

O MDB começou a discutir a possibilidade de candidatura própria à Presidência em 2026. Já há uma ala do partido que defende o desembarque do governo Lula. O senhor acredita que o MDB conseguiria se desvencilhar dessa gestão para ter um candidato competitivo?

Alceu Moreira: O documento que estamos construindo não tem relação com permanecer ou sair do governo. Essa decisão cabe ao partido. O que queremos é ter um projeto político independente. O MDB tem 60 anos de história e não nasceu para ser caudatário [dependente] de ninguém.

Se quisermos lançar um candidato em 2026, ele precisará estar comprometido com o MDB e com as diretrizes que estamos elaborando. Não pode ser um candidato atrelado a Lula, a Bolsonaro ou a qualquer outro grupo político. O partido precisa ter autonomia para construir alianças e liderar debates.

O nome do governador do Pará, Helder Barbalho, tem sido cogitado como possível candidato do MDB à Presidência. No entanto, ele é um aliado do presidente Lula. Como conciliar essa relação?

Alceu Moreira: Para ser candidato pelo MDB, qualquer nome precisará se comprometer com o partido e com o projeto que estamos formulando. Se alguém deseja se candidatar, não poderá ter compromisso primário com Lula, com Bolsonaro ou com qualquer outra força política externa.

O MDB não pode ser um partido que elabora um documento estratégico para o Brasil e, no final, apenas entrega esse projeto como uma “nota de rancho” [sem participação] para outro grupo [executar]. Vamos garantir que o partido tenha um posicionamento claro e independente.

O Brasil vive um cenário de forte polarização política. O senhor acredita que ainda há espaço para um candidato de centro na corrida presidencial?

Alceu Moreira: Sem dúvida. A própria eleição municipal mostrou isso. Quando todos acreditavam que as eleições refletiriam o clima de polarização, os prefeitos eleitos foram, em sua maioria, políticos de centro. Isso demonstra que a população está saturada desse embate extremista. As pessoas querem soluções concretas para suas vidas, não discursos de ódio ou ataques entre grupos políticos. O MDB tem a oportunidade de oferecer um caminho viável, apresentando um projeto de desenvolvimento para o Brasil.

O projeto de lei que propõe anistia aos presos do 8 de janeiro já conta com o apoio de 181 parlamentares, incluindo 11 do MDB. Como o partido irá se posicionar caso essa pauta avance?

Alceu Moreira: Essa é uma questão que divide opiniões, mas, pessoalmente, sou totalmente favorável à anistia. O que temos hoje é um processo conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes de maneira absolutamente autoritária, sem respeito ao devido processo legal.

Não estou dizendo que não houve excessos no 8 de janeiro. Mas, quando comparamos as penas aplicadas a essas pessoas com outros casos semelhantes, vemos um desequilíbrio absurdo. Eu mesmo vi, ao longo dos anos, protestos promovidos por grupos de esquerda que resultaram em depredação de prédios públicos e não tiveram nenhuma consequência jurídica comparável. O MDB tem uma história de luta pela democracia. Para mim, quem votar contra a anistia estará indo contra os próprios princípios do partido.

Diante da queda de popularidade do presidente Lula e do cenário econômico desafiador, há setores do Congresso que já falam em impeachment. O senhor acredita que esse seria um caminho viável?

Alceu Moreira: O impeachment não é uma questão de desejo particular de ninguém, mas uma condição política. Ele acontece quando o presidente perde completamente sua capacidade de governar e se torna uma figura sem poder real de solução, como ocorreu com Dilma Rousseff. Chega um momento em que o chefe do Executivo se torna uma “alma penada” dentro do Palácio [do Planalto], sem diálogo e sem força política.

Hoje, o presidente Lula enfrenta uma queda de popularidade contínua, inflação em alta e um cenário econômico que gera desconfiança. Embora o governo tente minimizar os impactos, há um sentimento crescente de insegurança em relação às políticas econômicas adotadas.

O impeachment, no entanto, não ocorre apenas por esses fatores. Ele acontece quando a insatisfação popular atinge um ponto crítico e os parlamentares passam a sentir a pressão direta das ruas. Se esse cenário se intensificar, o Congresso naturalmente reagirá. Mas, por enquanto, é um movimento que depende da evolução do contexto político e econômico.

Crédito Gazeta do Povo

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Fonte:
Paulo Figueiredo

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