Outono é propício às crises alérgicas

Siga @radiopiranhas

Bronquite, rinite alérgica, viroses e asma são as doenças respiratórias mais comuns na transição entre o fim do verão e a chegada do outono, iniciado no último dia 20. Essa oscilação na mudança do tempo favorece a proliferação de vírus e bactérias, segundo os médicos alergistas. Nesse cenário, os cuidados com a saúde devem ser redobrados, especialmente em grupos mais vulneráveis.

Segundo a alergologista Roseane Dore, pelas condições de temperatura amena e elevada umidade relativa, esta estação é muito propícia à reprodução dos ácaros, a exemplo do Blomia tropicalis, predominante em regiões tropicais, como o Brasil. “Esses aracnídeos microscópicos provocam reações alérgicas principalmente em indivíduos mais suscetíveis, como as crianças, que ainda não têm o sistema imunológico formado, e os idosos, que já estão com a imunidade fragilizada”, explica.

Para reduzir a exposição a ácaros em ambientes fechados, Roseane recomenda manter uma rotina de limpeza regular e minuciosa, especialmente em locais onde os ácaros costumam se acumular. “Em vez de cortinas de tecido, cortinas de plástico; em vez de cobertas de lã, apenas de algodão. Também não recomendamos o uso do mosquiteiro, mas, se for indispensável, que ele seja lavado toda semana”, orientou. Manter o ambiente ventilado também é fundamental para diminuir a proliferação dos ácaros.

Tipos

Além do Blomia tropicalis, os outros três tipos de ácaros mais comuns no Brasil são o Dermatophagoides farinae, o Dermatophagoides pteronyssinus e o Lepidoglyphus destructor. Eles se abrigam principalmente em colchões, tapetes, carpetes, camas, sofás, bichos de pelúcia, almofadas, roupas de cama, materiais armazenados e alimentos. Podem provocar dermatite atópica, demodicose, conjuntivite, blefarite e rosácea, além dos problemas respiratórios já citados.

Vale ressaltar que não é o ácaro, em si, que desencadeia processos alérgicos, mas as proteínas presentes no seu corpo e nas suas fezes. Elas são capazes de induzir uma resposta imune e causar alergias, apresentando, como principais sintomas, a rinite e a asma. Apesar de o ácaro não ser visível a olho nu, é possível conhecer os tipos mais comuns e aprender sobre os seus hábitos.

Ambiente limpo

A psicóloga Maiara Limeira, 40 anos, convive com a rinite alérgica e a asma desde criança. Quando ocorrem as transições de estação e de temperatura, a alergia ataca. “Na primavera, por exemplo, o pólen das flores me causa muitos espirros e coceira, tanto no nariz quanto nos olhos”, conta. Atualmente, ela faz um tratamento de controle e prevenção em longo prazo, mas utiliza medicação durante as crises pontuais.

Maiara tem duas filhas, ambas com alergia respiratória. Portanto, na casa dela, o cuidado para manter o ambiente limpo e livre de ácaros é constante. “Lavo os ursinhos de pelúcia delas a cada 15 dias e troco a roupa de cama toda semana. Não tenho mais cortinas nem tapete, porque acumulam muita poeira e ácaro”, diz. Ela também abre os guarda-roupas frequentemente, para arejar, de 30 minutos a uma hora. “Quem é alérgico vive em luta permanente contra os agentes alergênicos. Devemos fazer o que está dentro do nosso alcance para evitar ácaros, poeira e mofo”, completa.

Tratamento

Antes da pandemia, os problemas de saúde de Maria Cícera Ferreira, 88 anos, estavam relacionados à mobilidade, devido à velhice. Em 2021, ela pegou Covid-19 e descobriu que tinha doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), uma doença inflamatória que dificulta a respiração. Desde então, a saúde dela ficou mais fragilizada. “Passei por várias internações ao longo do tempo. A última delas foi em janeiro passado. Além disso, quando tem mudança climática, fico com cansaço respiratório”, disse.

Nesse período, as filhas de dona Maria Cícera redobraram os cuidados com ela, monitorando a sua saturação e a sua pressão arterial, conforme conta a sua filha Juliana. “É preciso ficar vigilante, pois, quando o cansaço piora, a mudança de quadro é bem rápida, devido à idade dela”, diz.

De acordo com Roseane Dore, a asma não tratada durante a infância e a adolescência pode levar a sérias complicações na vida adulta — principalmente na velhice. “Quando os idosos têm um histórico de crises asmáticas não controladas ao longo da vida, isso pode resultar em problemas respiratórios crônicos, dificultando a sua qualidade de vida”, explica. A asma é a terceira doença crônica mais atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), no Brasil. “Ela pode levar a complicações graves, quando não tratada previamente, o que resulta em infecções respiratórias como a pneumonia”, conclui.

Rinite e asma

Os sintomas da rinite são caracterizados por coceira frequente no nariz ou nos olhos, espirros seguidos, principalmente pela manhã e à noite, coriza frequente e obstrução nasal, mesmo na ausência de resfriados. A rinite alérgica é mais comum depois dos dois anos de idade, atingindo cerca de 26% das crianças brasileiras. Em adolescentes, esse percentual vai a 30%. Já a asma acomete cerca de 10% da população do país, causando a morte de aproximadamente duas mil pessoas por ano.

Saiba Mais

Sol pleno não ajuda
Apesar da crença popular de que deixar o colchão e o travesseiro ao sol pode ajudar na limpeza, é comprovado que a ação tem o efeito contrário, de acordo com a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). No caso do travesseiro, os ácaros e microrganismos se localizam internamente, e não na superfície. Se ele for exposto aos raios solares, a temperatura do seu interior vai se elevar, o que favorecerá a proliferação de ácaros, fungos e bactérias. Ou seja, além de não matar os ácaros, o sol pode fazer justamente o contrário: ajudar na sua proliferação, já que aquece um ambiente normalmente úmido e repleto de resíduos de pele, deixando-os em uma temperatura ótima para os ácaros se alimentarem. Por isso, o ideal é sempre arejar e ventilar esses objetos, mas com luz indireta. 

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 23 de março de 2025.

source
Fonte

A União

Adicionar aos favoritos o Link permanente.