Os planos da Avion Express, a nova companhia aérea “white label” que aterrissa no mercado brasileiro

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O ano começou movimentado no mercado da aviação. Em janeiro, Azul e Gol comunicaram a proposta de fusão das operações. No início de março, a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspendeu os voos da Voepass por falta de segurança. Em meio a esses dois acontecimentos, uma nova companhia aérea aterrissou em solo brasileiro.

A Avion Express, uma empresa de origem lituana, recebeu da Anac o certificado de operador aéreo (COA) em 28 de fevereiro. Esse documento permite à companhia realizar voos comerciais em território nacional. A diferença é que mesmo com aeronave, tripulação, manutenção e seguro (ACMI, na sigla em inglês) a marca não será vista pelo consumidor.

O modelo operacional de uma companhia aérea “white label” é inédito no mercado brasileiro de aviação. Ao contrário de um voo charter, que serve para atender uma demanda específica, a Avion Express fornece o avião por um período mais longo, para criação, por exemplo, de uma rota regular. Ela customiza a aeronave com a marca do parceiro e oferece a prestação completa do serviço.

“No lugar de fazer um ou dois voos, você faz um contrato de alguns anos e suplementa a capacidade na alta temporada que uma linha aérea precisa para vender o serviço”, diz Esteban Lorda, CEO da Avion Express no Brasil, em entrevista exclusiva ao NeoFeed.

Para conseguir a certificação da Anac, a Avion Express precisou colocar um Airbus A320 em operação no País. O CEO projeta ter entre 5 e 10 aeronaves no Brasil neste ano para atender a temporada de verão de 2025/26.

Neste momento, Lorda tem conversado com os CEOs das companhias aéreas regulares brasileiras para explicar seu modelo de negócio, entender o momento de cada uma e qual seria a necessidade de equipamentos para deslocá-los de outras localidades para o País.

Desde o início da operação no Brasil, no segundo semestre do ano passado, a empresa fez um investimento de US$ 3 milhões – custo administrativo e de equipe, que não envolve a aeronave. A projeção é até o fim do ano colocar outros US$ 5 milhões na operação local.

Esse investimento engloba a conclusão da sede da empresa, que ficará na cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo, próxima ao hangar alugado no aeroporto de Viracopos. O lugar foi escolhido por ter condições de receber o centro de manutenção que a companhia pretende instalar no País – assim como tem em outros mercados.

Atualmente, a Avion Express tem 70 funcionários contratados, sendo 39 tripulantes locais (não são aceitos estrangeiros). A ideia é ter até 80 pessoas em funções administrativas. E a tripulação aumentará conforme a assinatura dos contratos com as companhias aéreas e a chegada das aeronaves.

“Em razão de toda a regulação e segurança aérea, a tripulação, o piloto, são nossos funcionários contratados pelas leis brasileiras. Eles são treinados no nosso avião em particular, com todo o manual de operações aprovado pela Anac para ele saber reagir em várias situações”, diz Lorda.

Made in leste europeu

A Avion Express é uma subsidiária do grupo lituano Avia Solutions Group, que tem sede em Dublin, na Irlanda, e possui 221 aeronaves espalhadas em operações ACMI nos seis continentes. É o grupo que investe e distribui seus aviões para suas controladas.

Criada pelo lituano Gediminas Ziemelis, que tem um patrimônio pessoal estimado em € 2,8 bilhões, a Avia Solutions Group reportou uma receita de € 2,1 bilhões de janeiro a setembro do ano passado, o que representou um crescimento de 25% sobre o mesmo período do ano passado.

A operação no Brasil é estratégica por estar em um mercado espelho do europeu: enquanto um está na alta temporada o outro está na baixa, o que possibilita o rodízio de aviões.

Na Europa, a Avion Express tem 54 aeronaves (há a expectativa de entrega de mais um nos próximos meses) e clientes do porte de Air France, Lufthansa e Ryanair, que reservam a quantidade de aeronaves que precisam para atender às projeções da alta temporada.

A ideia da Avion Express é atender esse mercado cíclico da aviação, sempre no melhor momento. Como na alta temporada a demanda aumenta entre 15% a 20%, a empresa maneja suas aeronaves entre os seus mercados.

Pela proposta da Avion Express, as companhias aéreas não precisam encomendar aviões para os fabricantes somente para atender uma expectativa de demanda futura. No modelo ACMI, a empresa consegue suprir a necessidade imediata daquela temporada, tira o custo do leasing do balanço e não deixa o avião em solo por falta de demanda.

Se o compromisso do leasing de uma aeronave é de 10 a 12 anos, os contratos firmados pela Avion Express, em sua maioria, variam de três a cinco anos.

“Meu custo por hora de voo não é menor que o de um avião alugado. Mas é a flexibilidade que as linhas áreas conseguem, ao maximizar o lucro delas na alta temporada sem o custo do ativo e da tripulação”, afirma Lorda.

Problema ou solução?

Para atender a demanda projetada do turismo global nos próximos anos, o grupo Avia Solutions encomendou 40 aviões Boeing modelo 737-MAX com entrega prevista para 2030.

“O modelo ACMI é um ajuste em função da demanda das empresas, mas é difícil de sustentar e não vai revolucionar o mercado local”, diz um executivo do setor de aviação que pediu anonimato.

“Há uma complicação adicional de configurar os sistemas de venda de passagens pelos modelos das aeronaves, que não fazem parte das companhias regulares. O desafio é muito grande”, complementa.

O modelo administrado por uma companhia independente é novidade, embora companhias aéreas já chegaram a ter acordos diretos com outras empresas. A Gol, por exemplo, até a pandemia, recebia aviões da holandesa Transavia na baixa temporada europeia e enviava suas aeronaves na baixa temporada brasileira.

Lorda é um entusiasta do modelo ACMI e enxerga vantagens para países com economias instáveis como a América Latina.

“Nossa região tem essa essa macroeconomia tão cíclica que você nunca sabe o que vai acontecer. Os contratos ou o investimento que você faz para você crescer em um ano podem se transformar em uma enorme dívida”, diz ele.

Engenheiro aeronáutico, o argentino Lorda começou sua carreira na Aerolíneas Argentinas. Lá, foi o responsável pela modernização da frota da companhia após a reestatização. Em um MBA na França, conheceu Mateus Pongeluppi, atual chief strategy officer (CSO) da Gol. Em 2018, chegou ao Brasil para trabalhar na companhia aérea.

“Grande parte de minha carreira foi em planejamento de frota, plano de negócio. Eu gosto de falar que a engenharia me ensinou a resolver problemas”, diz o CEO.

Seu “novo problema” é mostrar que a Avion Express pode ser parte da recuperação do setor aéreo brasileiro.

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Neofeed

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