Efeito inverso: tarifas dos EUA geram êxodo de investidores para bolsas no exterior

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Ao assumir a Casa Branca, em 20 de janeiro deste ano, uma das principais promessas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, era recolocar o país como centro da economia global em todos os sentidos.

A política de impor tarifas aos principais parceiros comerciais – como México, Canadá, China e União Europeia – tinha como objetivo reverter déficits comerciais de décadas, além de trazer a indústria e os empregos perdidos durante o período da globalização de volta para os EUA.

Às vésperas de completar dois meses no cargo, Trump não só avançou pouco em atrair empresas para os EUA como amarga um efeito inverso no mercado de ações americano – um êxodo de investidores, que começaram a retirar dinheiro dos EUA, realocando-o na Europa, na Ásia e até no vizinho México.

Desde a posse de Trump, o S&P 500 caiu 6%, enquanto o índice Dax na Alemanha subiu 10% e o índice Stoxx Europe – que monitora 600 empresas em 17 países europeus – ganhou mais de 4%.

Outros dois mercados também estão surpreendendo os analistas. O índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, subiu mais de 20% desde que Trump assumiu o cargo em janeiro, refletindo uma aposta maior nos esforços do governo chinês para estimular sua economia do que na metralhadora tarifária de Trump.

Até o índice IPC do México – um dos países mais prejudicados pela sobretarifas de Trump –, voltado para o mercado interno, avançou 5% nesses dois meses.

Mesmo mercados de ações que acumulam resultados negativos desde a posse do presidente americano estão se saindo melhor que o S&P 500.

O índice FTSE All-World – indicador financeiro britânico especializado em oferecer ofertas de índices para os mercados financeiros globais – caiu 2,9% desde o fim de janeiro. O índice TSX, do Canadá, recuou 2% e o Nikkei 225, da Bolsa de Tóquio, registrou queda de 3,6% – todos com melhores resultados que o recuo de 6% do S&P 500.

O movimento de realocação de investimentos para fora dos EUA é efeito de uma reação do mercado financeiro americano aos seguidos anúncios de aumentos e recuos de imposição de tarifas feitos por Trump nas últimas semanas.

Neste período, bancos, consultorias, fundos de ações e gestoras de Wall Street enviaram relatórios e apresentações para clientes recomendando um afastamento dos Estados Unidos.

“Respeite a resiliência, desvaneça o excepcionalismo dos EUA e se preocupe com choques políticos”, dizia o título de relatório do J.P. Morgan, assinado por Bruce Kasman, economista-chefe e chefe global de pesquisa econômica do banco.

O êxodo começou a ganhar força na semana passada. De acordo com a EPFR Global – empresa que monitora dados de fluxos de fundos e alocações de ativos -, a retirada totalizou US$ 2,5 bilhões até a última quarta-feira, 12, ainda pouco diante da entrada de cerca de US$ 100 bilhões nas primeiras nove semanas de 2025.

Mas se os investidores continuarem a retirar seu dinheiro de ações dos EUA e investir em mercados estrangeiros pode aumentar a pressão de venda que, na semana passada, arrastou o S&P 500 para a correção, definida como uma queda de mais de 10% em relação ao seu pico.

Caminho inverso

A recente retirada chama a atenção por reverter uma tendência de concentração de muito tempo do mercado de ações dos EUA em relação aos de outros países, atraindo investidores estrangeiros em busca de retornos muitos mais altos do que os mercados domésticos poderiam oferecer.

No ano que antecedeu a eleição presidencial, o S&P 500 superou outros índices em todo o mundo, subindo 32%. O segundo melhor foi o Dax da Alemanha, com alta de 27%. Dados da EPFR Global indicam que cerca de US$ 420 bilhões fluíram para fundos que compram ações dos EUA em 2024.

Como o mercado de ações trabalha em cima de previsão de riscos e incerteza política, nada impede uma recuperação das ações dos EUA no médio ou longo prazo. A aposta agora, neste sentido, reflete pontualmente a incerteza em relação às tarifas aliada ao aumento de gastos anunciado pela União Europeia para melhorar a defesa – em resposta às ameaças de Trump de cortar auxílio à Otan – e estimular a produção.

Como há desconfiança em relação à força econômica da Europa, os investidores mantêm as opções em aberto. “Acho que, eventualmente, toda essa incerteza se acalmará e ainda ficaremos com um EUA que têm vantagens que a Europa e outros países não têm”, disse Paul Christopher, chefe de estratégia de mercado global do Wells Fargo Investment Institute.

Alerta da OCDE

A perda de espaço do S&P 500 ocorre em meio a uma onda de pessimismo com a estratégia tarifária escolhida por Trump.

Nesta segunda-feira, 17 de março, a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) – fórum que reúne as 30 maiores economias do mundo – divulgou um relatório prevendo uma redução do crescimento global para este ano de 3,3% para 3,1%, supondo-se que a média global de tarifas impostas por Trump seja de 10%. A economia global avançou 3,2% em 2024.

Se Trump seguir com os planos de impor tarifas de 25% sobre quase todas as importações de mercadorias do Canadá e do México a partir de abril, a OCDE disse que a atividade seria afetada e a inflação, estimulada em todas as três economias.

O PIB dos EUA, previsto para crescer 2,5% em 2025, deve avançar 2,2% neste ano e recuar de 2,1% para 1,6% em 2026. O impacto é muito maior para México e Canadá. As previsões de crescimento do PIB canadense foram reduzidas em mais da metade para 0,7% neste ano e no próximo, enquanto o México agora está previsto para cair em recessão este ano, contraindo em 1,3%.

Outro estudo divulgado na segunda, 17, da Câmara de Comércio Americana para a UE (AmCham UE), adverte que o conflito tarifário entre EUA e o bloco europeu está colocando em risco negócios transatlânticos avaliados em US$ 9,5 trilhões anualmente.

“Ao contrário da sabedoria convencional, a maioria dos investimentos dos EUA e da Europa fluem entre si, em vez de para mercados emergentes de menor custo”, diz o documento.

As vendas de afiliadas estrangeiras dos EUA na Europa são quatro vezes maiores que as exportações dos EUA para a Europa, e as vendas de afiliadas europeias nos Estados Unidos são três vezes maiores que as exportações europeias.

Trump impôs recentemente tarifas sobre aço e alumínio ao bloco europeu. Depois que a UE definiu planos de retaliação, sobretaxando do whisky bourbon a motos Harley Davidson, entre outros produtos, o presidente americano ameaçou impor tarifas de 200% sobre vinhos e destilados da UE.

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