Emerson Luis. Esporte: Politização   

A Apan comemorou demais (ao menos nas redes sociais) a permanência na elite do vôlei masculino.

Pela sexta temporada seguida.

10º lugar.

6 pontos à frente do Monte Carmelo MG.

16 a mais do que o América Montes Claros MG.

Ambos, rebaixados.

Blumenau sempre comemorou classificações para fases decisivas, acessos, títulos.

Mas os tempos são outros.

Bem como a forma e a fórmula de se fazer esporte.

Que impactam diretamente no orçamento.

E na formação de elencos modestos, porém competitivos.

Jogadores vibram com ponto conquistado no Galegão. Foto: Giovanni Silva.

Que geralmente lutam por metas básicas.

Não menos importantes.

Diria que essenciais para a manutenção e estabilidade dos projetos.

Embora ninguém queira ter seu nome associado a um time coadjuvante.

Aos 41 anos, Jamelão foi um dos principais destaques da Apan na Superliga. Foto: Giovanni Silva

A queda para uma segunda divisão é um problemão.

Redunda na redução de receita.

Com patrocinadores.

Com sócios.

Com torcedores.

Jogadores da Apan vibram com resultado positivo. Foto: Giovanni Silva

É um retrocesso.

Pois tudo fica mais difícil.

Elenco do Bluvôlei montado para a Superliga. Foto: Reprodução/Bluvôlei

Todo recomeço é complicado.

Cheio de incertezas.

Que já são enfrentadas pelo Bluvôlei após a queda para a Série B.

Meninas do Bluvôlei comemoram ponto no Galegão. Foto: Lucas Prudêncio

Mesmo com os salários atrasados, o grupo montado para a Superliga viveu momentos de protagonismo.

Muito porque Rogério Portella, contando com a promessa do repasse de R$ 1,5 milhão prometido (e ainda não pagos) pela Fesporte, trouxe atletas de sua confiança, com muita bagagem.

Rogério Portela orienta as meninas durante treino. Foto: Reprodução/Bluvôlei

Ficarei em quatro exemplos.

Ana Cristina.

Levantadora.

Seu último clube foi o Sesc/Flamengo.

Passou por Osasco SP, Pinheiros SP, Sesi/Bauru SP…

Jogou na Suíça.

Foi bicampeã da Superliga pelo Finasa/Osasco (2003/2004-2004/2005).

Idade: 41 anos.

Ana Cristina quando defendeu o Sesi/Bauru SP. Foto: Reprodução/Internet

Edna.

Central.

Começou no Bluvôlei.

Jogou em mais 10 equipes.

Entre elas, Rexona RJ (Sesc/Flamengo), Pinheiros SP e Brasília DF.

Atuou na Eslováquia.

Idade: 40 anos.

Edna com a camisa do Brasília. Foto: Reprodução/Internet

Natasha.

Central.

10 clubes no currículo.

O último, antes do Bluvôlei, foi o Benfica de Portugal.

Defendeu ainda Taubaté e Osasco SP, Fluminense RJ, Minas MG.

Bicampeã da Superliga por Flamengo RJ (2013/2014) e Praia Clube MG (2017/2018).

Idade: 38 anos.

Natasha sendo apresentada em 2021 no Benfica. Foto: Victoria Ribeiro/SL Benfica

Mariana Cassemiro.

Ponteira.

14 clubes na bagagem.

Só começou no Fiat/Minas MG.

Jogou em seis países: Itália, Polônia, Suíça, Croácia, Turquia, Espanha.

Idade: 37 anos.

Mariana Cassemiro. Foto: Reprodução/Internet

O que elas têm em comum?

Trajetórias brilhantes e o iminente fim de suas carreiras.

Todas, é verdade, ainda têm condições de jogar.

Porém, não mais em alto nível.

Outra semelhança: conviveram com lesões.

E isso atrapalhou demais o rendimento do time.

Ninguém sabe o que vai acontecer.

Mas dificilmente o clube terá condições de mantê-las ou convencê-las a ficar, depois do que enfrentaram.

Edna e Portela com a filha. Foto: Reprodução/Internet

Edna, é um caso à parte, porque é casada com o treinador.

Que também se destacou.

Deve receber proposta.

Tem mercado.

Geovanna com o Troféu Viva Vôlei. Foto: Reprodução/Internet

Assim como outras atletas.

Como Geovanna.

Que arrebentou na competição!

Mesmo com apenas 21 anos de idade.

A ponteira que começou na Associação de Vôlei do Guarujá SP, subiu e caiu com o Brusque nas temporadas 2021/2022-2023/2024.

Antes, havia defendido o Mampituba de Criciúma, 6º colocado no campeonato estadual.

Parte do time que conseguiu o acesso para a Superliga. Foto: Reprodução/Bluvôlei

Um processo natural, inevitável, universal.

Quem se destaca vai embora.

Sempre foi assim – só acredito que a partir de agora, a frequência de evasões vai aumentar.

Franco foi um dos destaques da Apan na temporada 2019/2020. Foto: Raphael Guilherme Moser

Aconteceu com Franco.

O homem voou na temporada 2020/2021 e Guarulhos chamou.

O próprio Lucas Fonseca, que aparece ao seu lado na foto acima, junto com Evandro, foi chamado para jogar no Vôlei Renata/Campinas SP – este ano defendeu o Suzano SP.

Glenda tem ajudado muito Blumenau na Liga Nacional. Foto: Reprodução/BFB

Glenda do basquete vai pelo mesmo caminho.

A ala/pivô paraense de 30 anos, contratada junto ao Santo André SP, está comendo a bola na Liga Nacional.

Simplesmente a MVP (melhor em quadra) nas cinco vitórias de Blumenau nos 10 jogos do turno.

Isso também serve para os treinadores.

André Donegá, técnico da Apan e seu auxiliar China durante a Pandemia. Foto: Raphael Guilherme Moser

Vou sempre defender gente da casa.

Técnica Bruna Rodrigues do time de basquete de Blumenau. Foto: Reprodução/Internet

Só que é bem mais prático e cômodo manter um profissional da cidade (ou que está aqui já faz um tempo).

Que trabalha como professor em escolas particulares.

E não vai exigir tanto dos dirigentes.

Técnico André Germano do basquete adulto de Blumenau. Foto: Sidnei Batista

De qualquer maneira se já é difícil manter uma estrutura na Série A, imagina na segunda divisão.

Um bom exemplo é o basquete masculino.

Que está estagnado no Campeonato Brasileiro.

Derrota para o Santos no Ginásio do Ipiranga por 72 x 86. Foto: Sidnei Batista

Este ano tem uma vitória (67 x 62) contra a Liga Sorocabana SP, no Galegão.

E duas derrotas.

Para Brusque (59 x 69) na Arena.

E Santos (72 x 86) no Ipiranga.

Time da Apab disputou três partidas no Brasileiro. Foto: Sidnei Batista

É por isso que o futsal ficou em uma posição delicada após a mudança de regulamento.

Agora os quatro últimos colocados, na soma dos pontos das duas últimas edições, vão disputar a Série B, a partir de 2025.

Blumenau e Carlos Barbosa na estreia da Liga Futsal no Sesi. Foto: Sidnei Batista

Mesmo com a compra da franquia.

Que salvou a equipe do descenso quatro vezes.

Elenco campeão da Copa SC, com atletas da casa, com identidade, foi base para a Liga de 2018. Foto: Sidnei Batista

A melhor participação foi na estreia, em 2018, com o 11º lugar (caiu nas oitavas de final para o Copagril de Marechal Cândido Rondon PR).

Técnico Xande Melo no comando do time em 2021. Foto: Reprodução/Internet

Na atual competição, após três derrotas, está em 23º lugar, na frente de Brasília DF.

Blumenau e Sorocaba pela Liga Nacional de Futsal no Sesi. Foto: Sidnei Batista

Fazendo as contas dos dois últimos anos, é preciso tirar 9 pontos do 20º colocado, São Lourenço SC.

Que na soma tem 22 pontos (13 + 9).

21º Esporte Futuro/Toledo PR: 21 (20 + 1).

22º Taubaté SP: 16 (13 + 3).

23º Blumenau: 13 (13 + 0).

24º Brasília DF: 11 (11 + 0).

Raul sendo observado pelo público blumenauense diante de Sorocaba. Foto: Sidnei Batista

O time terá nos próximos cinco jogos uma sequência com apenas um rival direto.

O Esporte Futuro.

O jogo será no Paraná, dia 26.

Antes, enfrenta no Sesi o Tubarão, que no total tem 40 pontos (38 + 2).

A tabela completa está aqui.

Elenco do Blumenau Futsal para a Liga Nacional. Foto: Sidnei Batista.

A direção, mais uma vez com orçamento enxuto, manteve apenas quatro atletas (Kelvin, Diogo, Kaio e Passamani, que se recupera de nova lesão), além do técnico Juninho.

Trouxe de volta o ala Gamarra e contratou outros 9 jogadores.

Desconhecidos.

Baratos.

Mas com fome, com vontade de mostrar serviço.

Só isso, contudo, não basta.

Juninho, técnico do Blumenau Futsal. Foto: Sidnei Batista

É o que dá para fazer.

Juninho agora.

Antes, Xande Melo, Paulinho Cardoso, Egídio Beckhauser, André Deitos, que comanda o Sub 20…

Todos enfrentaram o mesmo problema: a disparidade de orçamentos e estruturas.

Não dá para fazer mágica.

Ginásio do Sesi lotado para Blumenau e Sorocaba. Foto: Sidnei Batista

Dar uma peitada, trazer um medalhão até dá.

Mas quem vai pagar?

Como fica o salário dos que estão aqui?

A renda dos dois jogos ajudou demais.

Contudo, não é o suficiente para “bater de frente”.

A propósito, Sesi cheio, contra Carlos Barbosa RS, e especialmente Sorocaba SP, com 2.320 expectadores.

Blumenauenses foram em peso para ver as estrelas do time paulista. Foto: Sidnei Batista

Por conta das estrelas.

Como Rodrigo.

Capitão Rodrigo sendo admirado por torcedores no Sesi. Foto: Pedro Trevisan

Leandro Lino.

Leandro Lino comemora gol contra Blumenau. Foto: Pedro Trevisan

Elisandro.

Pivô Elisandro desfilando sua habilidade no Sesi. Foto: Pedro Trevisan

Um bom termômetro vai ser a partida diante de Tubarão.

É uma regra.

Apan e Sada/Cruzeiro no Galegão. Foto: Giovanni Silva

Vale para todas as modalidades.

Thaisa, primeira à esquerda, vibra com vitória sobre Blumenau. Foto: Reprodução/Internet

Em qualquer evento.

Técnico do Flamengo Bernardinho. Foto: Reprodução/Internet

Os maiores públicos do vôlei foram registrados contra equipes de camisa pesada e com atletas (Thaisa do Minas e Wallace do Cruzeiro) e até treinadores (Bernardinho do Flamengo) badalados.

Galegão cheio em jogo do vôlei masculino. Foto: Raphael Guilherme Moser

Tem esporte que mesmo trazendo gente de ponta não motiva o público.

É o caso do basquete feminino.

Vira e mexe, o BFB contrata alguém com currículo de peso, com passagem pela seleção.

Desta vez trouxe duas gringas.

Uma norte-americana (que está machucada).

E uma colombiana.

São oito anos seguidos na elite.

No momento, faz uma bela campanha de recuperação.

7º lugar (11 participantes).

Com só quatro pontos a menos do que o líder Sampaio MA.

E três atrás do Sesi/Araraquara SP.

Seu próximo adversário, dia 19, no Galegão.

Oponentes com muito mais bala na agulha.

Elenco do BFB na Liga Nacional. Foto: Jorge Bevilacqua

Mesmo assim, não sensibiliza o blumenauense.

O máximo que conseguiu até hoje foi colocar 800 pessoas em uma semifinal contra Campinas em 2018.

Ultimamente tem aberto o ginásio (e cobrado apenas R$ 10 no ingresso) para 100, 150, 200 pessoas.

Dureza.

Amantes do basquete feminino no Ginásio Sebastião Cruz. Foto: Vitor Bett/BFB

Situação mais delicada vive o handebol feminino.

No auge, quando foi pentacampeão da Copa Brasil e seis vezes vice-campeão da Liga Nacional, com apoio, com jogadoras formadas em casa, cascudas, algumas rodadas, mobilizou a cidade.

Muitos foram acompanhar a modalidade no Sesi (até torcida organizada de futebol).

O time só não atraiu mais adeptos porque não podia jogar no Galegão.

Auge do handebol feminino de Blumenau na Liga Nacional. Foto: Reprodução/Abluhand

Hoje vive com o pires na mão (assim como o time masculino) com um orçamento minguado.

E a tendência é piorar.

O técnico Sérgio Graciano está se aposentando pela Secretaria Municipal de Educação – que paga seu salário.

São 37 anos dedicados ao handebol.

Graciano durante um jogo de Blumenau. Foto: Cinara Piccolo/Photo&Grafia

Quer continuar.

Mas já disse que por mais que ame o projeto, não vai trabalhar de graça.

E ex-goleira e também professora Josiane Hellmann (Josinha) já está de prontidão.

Ex-atletas prestaram homenagem pela “aposentadoria” de Graciano. Foto: Fran Laguna

O paranaense, que veio de Curitiba em 1987 para ser goleiro, que já foi técnico da seleção brasileira, abriu a boca essa semana na Imprensa (ao menos onde teve espaço como no quadro de esportes da NDTV).

Por meio de uma carta da Associação das Modalidades Esportivas, da qual é presidente, falou sobre os atrasos, desde janeiro, do Programa Bolsa Desportista.

Seu temor (de todos) é o cogitado corte de 12% no orçamento da Secretaria Municipal de Esportes (SME).

Sérgio Graciano na seleção brasileira. Foto: Reprodução/Internet

Agora presidida (pela terceira vez) por Sérgio Galdino do PSDB.

Que exercia a função de professor técnico na gerência de Esporte Educacional da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte).

O homem ideal, segundo fontes ligadas ao esporte, para apagar o incêndio e manusear o bisturi de maneira sutil e pragmática.

Sérgio Galdino, ex-atleta olímpico de marcha atlética. Foto: Reprodução/Internet

Quero estar enganado.

Mas politizado ao extremo, o esporte blumenauense tem tudo para viver dias (ou anos) turbulentos.

Com uma grande entressafra de talentos e conquistas.

Blumenau e Avaí no estadual de basquete de 2023. Foto: Victor Guião/FCB

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de repórter/setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é apresentador, repórter, produtor e editor do quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV Blumenau. Na mesma emissora filiada à TV Record, ainda exerce a função de comentarista, no programa Clube da Bola, exibido todos os sábados, das 13h30 às 15h. Também é boleiro na Patota 5ª Tentativa.    

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