Florianópolis decide manter troca de professores por auxiliares de sala na educação especial

A volta às aulas 2025 se aproxima em meio à polêmica da educação especial em Florianópolis. Mesmo após manifestações contrárias, a prefeitura manteve a decisão de substituir professores especializados por auxiliares de sala no atendimento aos alunos neurodivergentes ou com deficiência.

Novo secretário de Educação de Florianópolis, Thiago Peixoto, em entrevista ao Grupo ND

Em entrevista ao Grupo ND, o secretário de Educação Thiago Peixoto abordou a polêmica em torno do quadro de professores – Foto: Beatriz Rohde/ND

A portaria nº 28/2025, publicada pela Prefeitura de Florianópolis em 20 de janeiro, iguala as funções dos PAEEs (professor auxiliar de educação especial) e dos auxiliares de sala na rede municipal.

A gestão chegou a suspender as chamadas em 29 de janeiro, mas a seleção foi retomada no dia seguinte. Em entrevista ao Grupo ND na quarta-feira (5), Thiago Peixoto, novo secretário de Educação do município, reiterou que a medida vai entrar em vigor.

“Chegou-se à conclusão de que esse novo profissional consegue dar um atendimento de grande qualidade ao estudante. Uma coisa muito importante é o vínculo que se gera entre o profissional e a criança. Quando você está tratando de uma carga horária de professor, esse vínculo é interrompido pela hora-atividade”, explica o secretário.

Thiago Peixoto em reunião com o Sintrasem

O secretário de Educação se reuniu três vezes com o sindicato para debater a portaria – Foto: Divulgação/Sintrasem/ND

A hora-atividade é um período dentro da jornada de trabalho dos professores destinado a tarefas extraclasse, como organização e planejamento das atividades pedagógicas.

“Isso levava a uma rotação, uma substituição desse profissional durante um dia e meio da semana com o estudante. A gente entendia que isso gerava uma quebra de vínculo, e que a gente pode ter um vínculo mais forte nesse novo modelo”, ressalta Thiago Peixoto.

O secretário também afirmou que o novo modelo de contratação permitirá que o auxiliar de sala fique até as 18h30 com o aluno, sendo 1h30 a mais do que o professor de educação especial.

Thiago Peixoto e Eduardo Gutierres em entrevista ao Grupo ND

Thiago Peixoto veio de Goiás para substituir Eduardo Gutierres, que assumiu o posto de secretário-adjunto de Educação – Foto: Beatriz Rohde/ND

Além disso, Thiago Peixoto disse que está se reunindo com o sindicato para dialogar sobre as mudanças. Na última semana, foram três reuniões com representantes sindicais.

“O que a gente pode garantir em todo o processo que vai acontecer é o diálogo permanente. E o diálogo não só limitado ao sindicato, mas com as famílias. O centro é o estudante, é a criança”, assegura.

Sindicato se manifesta contra troca de professores de educação especial por auxiliares de sala

A troca de profissionais teria causado corte drástico no quadro funcionários de educação especial. Segundo o Sintrasem (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis), a quantidade de professores auxiliares caiu de aproximadamente 600 em 2024 para 18 em 2025.

Já o número de vagas para auxiliares de sala no atendimento a estudantes com deficiência, categoria que não existia, ficou em 312 para este ano letivo. A soma com professores de educação especial fica em 330.

O sindicato aponta para o sucateamento da educação especial em Florianópolis - Divulgação/Sintrasem/ND

1
4

O sindicato aponta para o sucateamento da educação especial em Florianópolis – Divulgação/Sintrasem/ND

A substituição de professores por auxiliares teria reduzido o quadro de funcionário de educação especial - Divulgação/Sintrasem/ND

2
4

A substituição de professores por auxiliares teria reduzido o quadro de funcionário de educação especial – Divulgação/Sintrasem/ND

A justificativa apresentada pela prefeitura é de que os horários dos professores quebravam o vínculo com alunos de educação especial - Divulgação/Sintrasem/ND

3
4

A justificativa apresentada pela prefeitura é de que os horários dos professores quebravam o vínculo com alunos de educação especial – Divulgação/Sintrasem/ND

A categoria afirma que a mudança

4
4

A categoria afirma que a mudança “desmonta a educação especial, joga professores no desemprego e sobrecarrega ainda mais as auxiliares de sala” – Divulgação/Sintrasem/ND

O sindicato argumenta que a decisão “não só reduz qualidade da educação especial, como afeta toda a educação pública, abre brecha para a terceirização do setor e joga centenas no desemprego”.

Em relação aos números apresentado pelo Sintrasem, a Prefeitura de Florianópolis afirmou que “o mesmo poderá apresentar oscilação tendo em vista a carga horária de cada profissional que será contratado no ano letivo de 2025”.

“Todas as crianças e adolescentes que precisarem deste profissional terão esse direito garantido para o ano letivo de 2025”, certificou a administração municipal.

Alunos da rede pública de Florianópolis

A prefeitura diz que não há diferença na formação dos professores e auxiliares – Foto: Ricardo Wolffenbuttel/Secom/Divulgação/ ND

Os servidores públicos municipais foram às ruas pedir a revogação da portaria. Profissionais se manifestaram nos dias 29 e 30 de janeiro e novamente na segunda-feira (3). O Sintrasem aponta que a mudança flexibilizaria a formação pedagógica dos profissionais para o ensino dos estudantes da educação especial.

“Ao determinar que crianças e estudantes da educação especial sejam acompanhadas por auxiliares de sala, e não mais por PAEEs, o governo ainda ataca as próprias auxiliares – que, mais uma vez, são exploradas e usadas como docentes, mas sem os mesmos direitos ou remuneração”, destaca o sindicato.

Professor auxiliar de educação especial acompanha aluna com deficiência

A prefeitura reiterou que o acompanhamento profissional será assegurado a todos os estudantes de educação especial – Foto: Divulgação/Gestão Escolar/ND

A Prefeitura de Florianópolis, por outro lado, afirma que professores e auxiliares possuem a mesma formação, não havendo graduação específica que os diferencie.

Em relação àqueles que realizaram concurso para atuar como PAEEs, a gestão municipal alega que pretende garantir que profissionais com formação equivalente a outro cargo disponível no órgão público possam ser chamados ao longo do ano.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.