O impacto das enchentes desde setembro de 2023 continua a assombrar muitas famílias do Vale do Taquari. Um estudo realizado pelo Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) identificou que cerca de 70% das vítimas da tragédia ainda sofrem com sintomas de estresse pós-traumático. Os dados apontam que, até o final de 2024, os moradores da região enfrentam uma batalha silenciosa contra as sequelas emocionais do desastre natural.
Em Cruzeiro do Sul, por exemplo, na comunidade de São Miguel, a situação é de reconstrução lenta. Apenas uma pequena parcela da população voltou para suas casas após a enchente, enquanto outras famílias continuam a reconstruir suas vidas.
Para quem morava no Bairro Passo de Estrela, os relatos de sofrimento persistem, e muitos ainda não conseguem passar pela área sem sentir angústia. Para Gizéli Lenhard, uma das líderes de uma iniciativa por um novo loteamento no município, a ansiedade é palpável. Ela descreve, junto com outros moradores, a sensação de pânico que acomete as famílias ao retornarem ao antigo bairro, agora completamente devastado pela água.
Gizéli destaca que a ansiedade dos moradores é tão forte que, ao passar pela antiga área de moradia, há casos de crises de pânico. Contudo, a esperança surge com a construção de um novo loteamento em uma área mais elevada e longe dos riscos das enchentes. “Estamos todos ansiosos para termos as casas prontas, com água e luz, em um local seguro. É um recomeço que nos dá força”, afirma ela. A chegada dos serviços essenciais, como água e energia elétrica, é aguardada com expectativa, para que, finalmente, possam começar a viver em paz, longe dos traumas do passado.
Enquanto isso, outros moradores do Vale do Taquari também enfrentam desafios similares. O estudo realizado pelo HCPA revelou que 24% das vítimas da enchente ainda enfrentam pesadelos, crises de ansiedade e sentimentos de tristeza, situações que são agravadas com o retorno das chuvas.
É comum que crianças e adultos fiquem agitados ao ver o céu nublado, temendo um novo desastre. Muitos procuram atendimento psicológico, mas o sofrimento continua, mostrando a importância de reforçar as redes de apoio emocional na região.
O acolhimento e a assistência mental têm sido intensificados nas unidades de saúde da área, mas ainda há muito a ser feito. Profissionais alertam que é essencial que a recuperação emocional das vítimas seja tratada com a mesma urgência das questões materiais, para que as famílias possam realmente se reerguer e encontrar a tranquilidade perdida.
O tempo para reconstruir não é apenas físico, mas também emocional. O Vale do Taquari, assim como outras regiões do Rio Grande do Sul, segue se reerguendo, com os moradores enfrentando não apenas as dificuldades de voltar à normalidade, mas também os fantasmas deixados pelas águas que inundaram suas vidas.
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