Wall Street Journal: Por causa de Bolsonaro, Lula pode entrar em confronto diplomático com Trump

A negativa em permitir que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participe da cerimônia de posse de Donald Trump, na próxima segunda-feira (20), tem gerado repercussão no cenário internacional. O Wall Street Journal destacou que o presidente eleito dos Estados Unidos convidou Bolsonaro, mas o governo brasileiro tem se mostrado contrário à viagem.

Em reportagem publicada nesta quinta-feira (16), o veículo de imprensa americano afirma que, com o impedimento, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encaminha para uma disputa diplomática com Trump.

“O líder de esquerda do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, está prestes a enfrentar um embate diplomático com o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, devido à recusa do país em permitir que seu antecessor de direita, Jair Bolsonaro, compareça à posse de Trump”, publicou o WSJ.

Um dos principais aliados de Trump na América Latina, Bolsonaro está impedido de deixar o Brasil desde o ano passado. A medida foi tomada após a apreensão de seu passaporte pela Polícia Federal (PF), no contexto de uma investigação sobre alegações de tentativa de golpe de Estado em 2022. As acusações incluem supostos planos de assassinato de Lula.

Em entrevista ao WSJ, Bolsonaro desabafou sobre a situação: “Eles estão tentando me humilhar… me pintar como o pior criminoso do mundo. A perseguição é implacável”.

Em novembro, Bolsonaro e 36 aliados foram acusados de conspiração para tomar o poder depois das eleições de 2022, com um relatório de quase 900 páginas detalhando a suposta trama. O ex-presidente disse ao WSJ que deixou o cargo pacificamente e passou seus últimos dias de mandato em Orlando, na Flórida.

Sobre as acusações, Bolsonaro afirmou na entrevista que não tinha conhecimento do documento: “Beira o ridículo… alguém já ouviu falar de alguém tentando um golpe de Estado da Disney? Poxa, pense em todas as pessoas que disseram que querem Trump morto!”. O líder conservador brasileiro classificou as imputações como “absurdas”.

Defesa de Bolsonaro, Moraes e PGR

Na semana passada, os advogados de Bolsonaro protocolaram um pedido junto ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, para que o ex-presidente pudesse viajar e participar da cerimônia de posse nos EUA. Moraes chegou a duvidar da autenticidade do convite e exigiu mais detalhes.

Os advogados de Bolsonaro, então, apresentaram uma defesa detalhada, ressaltando a autenticidade do convite enviado pela equipe de Trump, confirmando que ele foi emitido através de canais oficiais e com a devida formalidade. Diante disso, Moraes encaminhou o pedido à Procuradoria-Geral da República (PGR) para análise.

O procurador-Geral da República, Paulo Gonet, se manifestou contrário e afirmou que o pedido “esbarra na falta de demonstração pelo requerente de que o interesse público que determinou a proibição da sua saída do país deva ceder, no caso, ao interesse privado do requerente de assistir, presencialmente, à posse do presidente da República do país norte-americano”.

Consequências entre Brasil e EUA

A proibição de Bolsonaro de participar da posse de Trump pode aprofundar a oposição ao governo de Lula da Silva entre os líderes empresariais brasileiros, especialmente devido à importância estratégica dos EUA para o Brasil, que é o segundo maior parceiro comercial do país.

“A relação entre o Brasil e os Estados Unidos começa com o pé errado”, afirmou o analista político Leonardo Barreto, em referência à tensão crescente.

WSJ também menciona o atrito entre o empresário Elon Musk — dono da rede social X e hoje figura importante no governo Trump — e Moraes. O jornal relembra que o ministro fechou a plataforma no Brasil entre o final de agosto e início de outubro do ano passado, devido a alegações de que ela estaria espalhando “discurso de ódio”.

“Musk, que Trump nomeou para sua próxima administração, comparou Moraes a um ditador, enquanto o Partido dos Trabalhadores de Lula acusou o bilionário de ameaçar a soberania do Brasil. Moraes também emitiu advertências este mês sobre o movimento da Meta para afrouxar restrições ao discurso de ódio, colocando o Brasil e Lula da Silva na vanguarda da oposição global aos planos”, finaliza a reportagem.

Em março de 2020, o presidente Donald Trump, durante seu primeiro mandato, recebeu Jair Bolsonaro, então presidente do Brasil, para um jantar em Mar-a-Lago, na Flórida; na ocasião, os líderes conservadores também realizaram agendas oficiais na Casa Branca, em Washington, D.C.  (Imagem: Alan Santos/PR/Agência Brasil) 

Foto: Alan Santos

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