Eu Te Explico #122: ‘A força que emana de nós se tornou axé music’, diz Daniela Mercury ao celebrar legado na música


Entre os temas debatidos estão a possibilidade de novo circuito na folia, a relação dos empresários com artistas e as trocas de letras em músicas com símbolos religiosos de matrizes africanas. ‘Axé é a força que emana de tudo que é vivo. A força que emana de nós se tornou axé music’. É com palavras fortes, típicas de quem faz parte da história, que Daniela Mercury celebra o gênero musical que completa 40 anos em 2025. Com título de rainha da axé music e dona de um discurso engajado em causas sociais, a artista é a convidada do apresentador Fernando Sodake em mais uma edição do podcast Eu Te Explico.
Com vinte e três álbuns e sete DVDs gravados em mais de 40 anos de profissão, a carreira de Daniela ultrapassou as fronteiras da Bahia e ganhou o mundo. São 25 turnês internacionais e experiência que confere autoridade para falar de assuntos que estão aquecidos quando o assunto é carnaval.
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Entre os temas debatidos no podcast estão a possibilidade de novo circuito na folia, a relação dos empresários com artistas e as polêmicas trocas de letras de músicas que exaltam símbolos religiosos da fé ligada às matrizes africanas. [clique e confira o episódio completo no Spotify].
Daniela Mercury é entrevistada pelo apresentador Fernando Sodake no podcast Eu Te Explico
g1 BA
💰 Sem cachê por cinco anos
Questionada sobre a possível inclusão de um novo circuito no carnaval de Salvador, Daniela relembrou os desafios enfrentados na década 90, quando decidiu deixar o desfile do Campo Grande para inaugurar a folia entre a Barra e Ondina.
Na época, ela convocou os foliões do Bloco Crocodilo para desbravar um novo local de festa. Além da estrutura precária na região ainda sem condições de receber trios elétricos, ela lembra que foram cinco anos sem cachê e que precisou assumir riscos com os sócios do bloco para conseguir desfilar. Diante dessa história, seu vínculo é forte com o trecho Barra/Ondina.
“Não aguento sair da Barra, a Barra não sai de mim. Qualquer outro lugar é muito estranho”, comentou.
Daniela Mercury comenta sobre possível mudança no circuito do carnaval
g1 BA
‘Preferia deixar de cantar’, diz Daniela sobre polêmica de Claudia Leitte
Quando o assunto é axé music, um dos assuntos em alta é a polêmica em torno de Claudia Leitte e a troca de letras em canções. Vídeos da cantora viralizaram na web quando ela diz “Eu canto meu Rei Yeshua” (Jesus em hebraico) ao invés de cantar “Saudando a rainha Iemanjá”, na canção Caranguejo.
Daniela contou que tem relação de amizade, respeito e admiração por Claudia Leitte, e entende a sua impossibilidade de cantar algumas letras. No entanto, defende que o episódio é importante para o debate da intolerância religiosa em uma sociedade que, historicamente, violentou as religiões de matrizes africanas.
Contrária ao linchamento virtual aplicado a Claudia Leitte, ela acredita que o debate ajuda a entender como o racismo religioso se perpetua e precisa ser combatido.
“É importante que a gente discuta e as pessoas pensem e visitem a história. Vamos entender que não é um fato isolado. Isso, dentro do contexto, é duro e me incomoda. Eu preferia deixar de cantar a música”, disse.
‘O artista precisa aprender a ler seus contratos’
Daniela comentou a complexa relação entre artistas e empresários da música baiana, cenário que levou muitos talentos ao afastamento do carnaval de Salvador. São bandas e cantores que, após emplacarem sucessos nas décadas de 80 e 90, deixaram de aparecer no cenário ocupado por novas estrelas que surgiram.
“As indústrias sempre foram cruéis com os artistas. As gravadoras tiraram muitos royalties e deram pouco. Os meios de produção, muitas vezes, abusam do poder em relação aos artistas que precisam divulgar seus trabalhos”, disse.
Ela relatou como abriu mão de oportunidades com blocos de carnaval e deixou de assinar contratos ao perceber que algo poderia colocar em risco sua autonomia artística. Hoje, ela lembra que os novos artistas também enfrentam dificuldades com o mercado da arte.
“Os novos [artistas] hoje enfrentam dezenas de problemas com big techs, plataformas e streamings que não pagam. […] O artista precisa aprender a ler seus contratos e que não está no mundo somente para ser artista e cantar”, completou.
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