Reforço estrutural, torre e restauro: o que foi e ainda deve ser feito para preservar a Catedral de Ribeirão Preto


Com rachaduras observadas há pelo menos 20 anos, comissão da igreja tenta viabilizar projeto de quase R$ 15 milhões. Mais urgente, etapa estrutural orçada em R$ 2 milhões está prevista para começar entre julho e agosto. Catedral de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP
Aurélio Sal/EPTV
Quando assumiu como pároco, em 2005, o padre Francisco Jaber Zanardo Moussa já notava sinais de desgaste na Catedral Metropolitana de São Sebastião, em Ribeirão Preto (SP). “Comecei a tomar a frente da catedral, a conhecê-la mais, a ter um olhar mais perceptivo dela. E quando eu estava celebrando as missas eu estava observando no altar algumas rachaduras e me trouxeram algumas preocupações”, lembra.
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Talvez naquela época não fosse possível ainda prever a que patamar aquelas primeiras marcas levariam 20 anos depois, com aberturas cada vez maiores nas paredes, a constatação de um crescente deslocamento da torre da igreja – hoje de quase 25 centímetros – e a urgência de obras orçadas em quase R$ 15 milhões para manter um dos principais patrimônios históricos e culturais da região.
A expectativa, segundo o padre, é que entre julho e agosto deste ano comece a primeira etapa do projeto, orçado em R$ 2 milhões, para remodelar a estrutura da torre por meio da colocação de estacas de aço no solo. Desse montante, metade foi obtida por meio de incentivos fiscais da Lei Rouanet e de campanhas de captação da comunidade, mas a falta de R$ 1 milhão ainda inviabiliza a obra.
“A comunidade precisa se envolver, o trabalho que vai ser realizado realmente não é um trabalho digamos assim, barato, porque é uma obra artística, é um museu no centro da cidade, que envolve também uma série de trabalhos, de equipes capacitada, de empresas que tenham conhecimento, capacidade técnica para realizar esse trabalho”, diz.
A seguir, entenda o que é mais importante relacionado à preservação da Catedral de Ribeirão Preto.
Padre Chico com Brasília sorteada em 2016 em uma das campanhas para ajudar a preservar a Catedral de Ribeirão Preto
Eduardo Guidini/ G1
Os primeiros sinais
Padre Chico conta que, assim que assumiu a igreja, em 2005 já notava rachaduras na igreja e, por isso, acionou os primeiros especialistas para avaliar a situação, embora ainda tudo fosse preliminar. “O engenheiro disse: ‘olha padre, é importante que o senhor também chame mais uma outra equipe pra dar uma olhada nessas rachaduras. Em um primeiro momento elas não são preocupantes, em 2005, em 2006 não tinha as rachaduras na parte de trás”, diz.
No entanto, o pároco relata que, pouco tempo depois disso, com a descentralização do sistema de transporte público e uma maior concentração de ônibus trafegando pelo entorno, a situação ficou mais preocupante e, por sugestão de outro especialista, em 2008, começou a pesquisar empresas para fazer um estudo mais aprofundado.
Em 2009, em meio a essa preocupação, o prédio foi tombado pelo Conselho de Preservação do Patrimônio Artístico e Cultural (Conpacc).

Reforço estrutural
Contratada pela Cúria Diocesana para os estudos, uma empresa de São Paulo divulgou, em 2013, um laudo que culpava as infiltrações existentes na região da Catedral como as principais causas das rachaduras. O documento mencionava que o terreno onde a catedral foi construída, em 1904, é de baixa capacidade de suporte e muito sensível a presença ou trânsito de água.
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Em 2014, o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) autorizou o tombamento da Catedral Metropolitana no estado, incluindo o conjunto arquitetônico do entorno, com a praça da catedral, a Praça das Bandeiras e o Palácio Episcopal, residência oficial do arcebispo.
Rachadura na Catedral Metropolitana de Ribeirão Preto registrada em 2018
Alexandre Sá/EPTV
Entre 2015 e 2016, o padre Chico conta que a equipe estava preparando um amplo projeto de restauro da igreja quando precisou aprovar uma primeira obra de reforço estrutural na parte de trás da igreja. Isso porque a largura das rachaduras havia aumentado de 1 para 6 centímetros. Naquela época, um outro laudo associava os danos ao tráfego de ônibus no entorno.
Orçada em R$ 1,8 milhão, a obra foi financiada por meio de campanhas realizadas pela igreja junto à comunidade e foi realizada entre 2017 e 2019. Foi em meio a essa intervenção que a empresa contratada, segundo o padre, emitiu pela primeira vez um parecer indicando um deslocamento na torre, que fica na parte da frente da catedral.
Estabilidade da torre
Desde então, o deslocamento da torre, principalmente frontal, aumentou de 20 para 24 centímetros e aumentou a urgência das obras de estabilização da estrutura, que fica na parte da frente do templo, mas repercute em rachaduras em outras partes da igreja.
Somente esta etapa está orçada em R$ 2 milhões, com R$ 814 mil garantidos por captações junto a empresas por meio da Lei Rouanet, além de R$ 220 mil arrecadados por campanhas e rifas.
“Nessa primeira fase a obra principal é o reforço estrutural. É o que sustenta a igreja e a preserva de todos os problemas estruturais que ela vem enfrentando. Essa é a primeira fase, que é a mais emergencial.”
O projeto está aprovado pelo Condephaat, segundo o padre, e o orçamento já foi feito com uma empresa especializada.
“Já existe uma previsão de pelo menos compramos o material. Que é o aço, pra gente já poder ir estocando, por causa do mercado, da oscilação do valor do aço no mercado, então a gente já vai estocando esse aço dentro da própria catedral e pra isso trazer uma certa visibilidade pra comunidade poder perceber e ver que a gente está trabalhando com transparência.”
Rachaduras na Catedral Metropolitana de São Sebastião, em Ribeirão Preto (SP).
Carlos Trinca/EPTV
A expectativa é de que, até julho ou agosto, todo o dinheiro tenha sido levantado e as obras comecem. Nelas, estacas de aço serão levadas até atingirem 18 metros de profundidade, no chamado “ponto de resistência”. Depois de iniciada, a intervenção deve durar um ano, sem prejuízo aos eventos da igreja.
“Depois que eles colocam essas estacas até encontrar esse ponto de resistência eles vão injetando concreto líquido sob alta pressão e esse concreto vai preenchendo os vazios e vai chegando em volta dessa microestaca até encontrar o ponto de resistência do alicerce e dar a sustentação, o apoio a essa torre”, explica o padre.
VÍDEO: engenheiro explica riscos estruturais da Catedral de Ribeirão Preto
Reforma geral e restauro
Ainda sem data e recurso para ser concretizada, uma segunda etapa desse projeto está orçada inicialmente em R$ 12 milhões e deve renovar de maneira mais significativa a estética da catedral. “O trabalho é longo e ainda a gente precisa fazer a captação desses recursos.”
Nessa etapa haverá reformas na parte hidráulica e elétrica, troca do madeiramento do telhado e pinturas interna e externa da igreja. Vencida essa fase, virá o restauro do patrimônio artístico que existe dentro da catedral, como as telas de pintor Benedito Calixto, que ilustram a vida de São Sebastião, e o piso da igreja. Melhorias na praça que fica no entorno também fazem parte dos planos.
“A questão aqui não é só a catedral, eu penso que a catedral vai ser o chute inicial de todo um trabalho de conscientização de preservação do patrimônio, de cuidado que a gente precisa ter. A nossa cidade precisa pensar na sua história.”
Catedral Metropolitana de São Sebastião em Ribeirão Preto, SP
Aurélio Sal/EPTV
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