Exposição no Louvre mostra como conceito de beleza mudou radicalmente ao longo dos séculos


Mostra tem obras que refletem sobre percepção e idealização da aparência. Psicóloga fala da importância de levantar questão para jovens acostumados com filtros de redes sociais. Museu do Louvre faz exposição inédita sobre a definição de ‘beleza’ através da história
Há milênios os humanos reverenciam a beleza. Sempre atual, o tema se expressa através da arte, na natureza e nas obsessões por um padrão estético. A partir disso, o Museu do Louvre, em Paris, apoiado pela Colaboração L’Oréal, começa 2025 com uma exposição inédita que promete levar o público a explorar como diferentes culturas e civilizações definiram a estética durante séculos.
Intitulada “De todas as belezas!”, a exposição leva os visitantes a uma viagem guiada para conhecerem e explorarem ações, rituais, objetos e práticas que mulheres e homens associaram à beleza ao longo de mais de 10 mil anos de história.
São obras que levantam discussões sobre percepções idealizadas de beleza e como escolhemos nos representar. Também questionam as nossas identidades – ou a criação dessas identidades – e mostram como a ideia sobre as aparências mudou ao longo das civilizações.
O curador da exposição, Gautier Verbeke, explica que a mostra é uma jornada que abrange a totalidade dos espaços do museu, com uma seleção de 108 obras que contribuem para o debate sobre a história da beleza.
“Ao longo da história, as civilizações adotaram o que chamamos de cânones de beleza, idealizações do que é belo”, afirma.
“Queremos algo que seja extraordinário, fabuloso. Mas estes cânones de beleza mudam de uma civilização para outra, de uma época para outra. Eles podem mudar radicalmente de uma área geográfica para outra.”
As obras reforçam a ideia de que a beleza transcende fronteiras culturais e temporais. “De todas as belezas!” concentra-se em gestos, rituais, práticas e visões idealizadas de beleza, incluindo pinturas como “Mulher com um espelho”, de Ticiano, e “Vênus, a deusa romana do amor e as três graças apresentando presentes a uma jovem”, de Botticelli.
Museu do Louvre abre exposição que explora conceito de ‘beleza’ através da arte e da história
AP
Uma das esculturas expostas, chamada “O hermafrodita adormecido”, possivelmente do século II d.C., foi escolhida pela ligação com o tema da fluidez de gênero. A tela levanta questões sobre a noção de gênero e a beleza do Hermafrodita (hoje, usa-se o termo Intersexual para se referir a pessoas que desenvolvem características sexuais que não se encaixam nas noções sobre sexo feminino ou masculino).
Outra obra, “Voltaire nu”, de 1776, retrata o filósofo francês com rosto e corpo magros, vestido com um lençol simples. A obra do francês Jean-Baptiste Pigalle representa a “verdade do envelhecimento”.
Museu do Louvre abre exposição que explora conceito de ‘beleza’ através da arte e da história
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Para Delphine Urbach, diretora de Arte, Cultura e Patrimônio do L’Oréal Groupe, é necessário utilizar a arte para trazer esse tema ao público jovem.
“Queremos tornar a diversidade mais acessível a todos por meio da arte porque vemos que há uma questão em nossa sociedade com os jovens sobre seus corpos e realmente queremos destacar esse tópico e conversar juntos e criar um diálogo entre a instituição e essas civilizações”, afirma.
A psicóloga Ana Clara Dumont, especialista em Logoterapia e Sexualidade Humana, destaca a dificuldade que os jovens têm de lidar com o tema:
“Ninguém parece estar satisfeito com o próprio corpo, com sua aparência física. Muitas vezes, essa insatisfação leva a um grande sofrimento ou até a transtornos mais sérios e graves.”
“Eu vejo, quase diariamente, meninas — e falo sobre meninas porque são a maioria — chorando por não estarem dentro desse padrão e, de alguma forma, se sentirem socialmente excluídas.”
Pelas redes sociais, jovens aplicam filtros em aplicativos que simulam os ideais de belezas de diferentes momentos. Ana destaca a importância de trazer a questão dos “padrões de beleza” para o debate através da arte ou de redes sociais.
“Quanto mais falamos sobre o tema, mais as pessoas se tornam conscientes dessa pressão estética, dessa imposição de um padrão de beleza quase inatingível,. Consequentemente, podem se tornar mais críticas a tudo isso e se protegerem”, afirma.
A exposição no Louvre ficará aberta até março de 2027.
Museu do Louvre abre exposição que explora conceito de ‘beleza’ através da arte e da história
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