Dólar abre em alta na primeira sessão do ano e bate R$ 6,22

O dólar abriu em alta nesta quinta-feira (2), primeira sessão do mercado de câmbio em 2025. Investidores realizam apostas iniciais para o ano de olho no cenário fiscal brasileiro e nas perspectivas para a economia global.

Às 9h41, a moeda norte-americana subia 0,69%, cotada a R$ 6,222. Na segunda-feira (30), caiu 0,17% e encerrou o ano cotado a R$ 6,179, acumulando alta de 27% em relação ao real ao longo de 2024, segundo dados da plataforma CMA.

O último recorde do dólar foi de R$ 6,26, atingido no dia 18 de dezembro. As disparadas do ano passado não são atribuídas a um único motivo, de acordo com especialistas consultados pela Folha. São três principais: dois vindos de fora do país e um doméstico.

O primeiro deriva da política monetária dos Estados Unidos. Desde a pandemia, em 2020, o Fed (Federal Reserve, o banco central norte-americano) vinha sustentando a taxa de juros do país em níveis elevados para conter a inflação, e a grande expectativa era sobre quando os cortes começariam. A economia dos EUA é considerada a mais segura do mundo e, em tempos de juros altos, é comum que investimentos saiam de outros países e sejam dirigidos para lá.

Por isso, quando a inflação norte-americana e o mercado de trabalho começaram a dar sinais de arrefecimento, no final de 2023, se instalou “um grande oba-oba entre os investidores”, explica Thais Zara, economista sênior da LCA Consultores.

As leituras de inflação e de desemprego se tornaram o grande foco do mercado. Os investidores se ajustavam a cada nova bateria de dados para tentar antever quando o primeiro corte chegaria, “criando várias ondas de valorização e desvalorização do dólar”, diz Zara, até a redução de fato acontecer em setembro.

Mas, em paralelo, um componente nacional começou a pressionar o câmbio: a percepção de risco sobre a estabilidade das contas públicas do país.

Gestado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda no primeiro ano do governo Lula 3, o novo arcabouço fiscal foi posto em prática em 2023 e despertou otimismo no mercado financeiro. Inicialmente, a meta era zerar o déficit primário em 2024, seguido por um superávit de 0,5% em 2025 e de 1% em 2026.

Em abril deste ano, porém, as metas foram alteradas. O governo passou a prever déficit zero em 2025 e traçou uma nova trajetória para os anos seguintes.

O resultado foi uma erosão da credibilidade criada pelo arcabouço fiscal e de uma percepção crescente de que, caso ajustes não fossem feitos, a trajetória da dívida pública perderia a previsibilidade.

“Começou a ficar claro que várias despesas estavam furando o arcabouço. A gente já tinha visto esse filme antes, com o teto de gastos anterior, e as projeções do mercado mostravam que, ao longo do tempo, as contas públicas ficariam de novo sob uma regra insustentável”, explica Zara.

“Quando você tem um endividamento público explosivo em um determinado país e a percepção de que o governo não vai conseguir conter esse crescimento, os investidores se sentem menos confortáveis de investir nele.” (FSP)

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