Veja os locais do mundo onde a população está mais vulnerável ​​a inundações até o fim do século


Levantamento foi realizado na plataforma Human Climate Horizons (HCH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Climate Impact Lab. A pesquisa indica que 0,64% da população brasileira pode ser afetada por inundações até o fim do século. Inundações causadas pelo furacão Laura atingem área ao redor de rodovia no estado de Louisiana, nos EUA; foto de 28 de agosto
Gerald Herbert/AP Photo
Um levantamento realizado na plataforma Human Climate Horizons (HCH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do Climate Impact Lab, apontou quais são as regiões ao redor do mundo que podem ter o percentual populacional mais afetado por inundações até o fim do século.
Os dados são derivados de observações de satélite, marégrafos e conjuntos de modelos do Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). O documento se baseia em pesquisas sobre o efeito das mudanças climáticas na mortalidade, trabalho e demanda de energia, divulgados em 2022, informou o HCH, em nota.
💡 Vale destacar que apesar das regiões estarem no topo do índice, não quer dizer que, em números absolutos, esses países são os mais afetados – já que, por exemplo, 20% de mil pessoas é menor que 10% de 100 mil habitantes. Ou seja, os dados abaixo não são comparáveis.
Veja abaixo as regiões que podem ser mais afetadas:
Guiana – 19,55% da população total do país;
Ilhas Marshall – 18,89%;
Suriname – 18,24%;
Ilhas Turcas e Caicos – 12,39%;
Maldivas – 12%;
Ilhas Cocos – 10,39%;
Quiribati – 9,35%;
Tuvalu – 8,19%;
Ilha de São Martinho – 7,58%;
Guiana Francesa – 6,67%;
Ilhas Salomão – 6,37%;
Tonga – 5,67%;
Vietnã – 5,63%;
Seychelles – 5,29%; e
Gibraltar – 5,11%.

O levantamento acima considerou o horizonte temporal de 2080 até 2099 e a partir de emissões intermediárias de gases de efeito estufa, que podem resultar em um aumento de temperatura até 2100 de aproximadamente 2,7ºC.
Essa projeção é próxima ao cenário estimado pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC) no ano passado, que indicou um aumento de temperatura global de 2,6ºC até 2100.
O HCH coleta dados de 24 mil regiões sobre resultados climáticos e socioeconômicos para projetar a população impactada.
🌎 Considerando as mesmas métricas, o Human Climate Horizons indica que 0,64% da população brasileira pode ser afetada por inundações até o fim do século.
☀️ Por que essas regiões podem sofrer inundações?
Especialistas entrevistados pelo g1 explicaram que existem dois grandes motivos para esses lugares estarem no topo de regiões afetadas por inundações:
aumento do nível do mar; e
quantidade de habitantes em zonas litorâneas.
Sobre o primeiro aspecto, a professora Kyssyanne Oliveira, da Universidade Federal do Espírito Santo, do Departamento de Oceanografia e Ecologia, explicou que o nível do mar sobe porque o oceano está aquecido.
O excesso de calor gerado pelas emissões de gases do efeito estufa é absorvido pelo oceano, o que deixa as águas mais quentes e resulta no derretimento das geleiras e do gelo marinho, aumentando o nível do mar”, declarou a professora.
Ela destacou que por meses, as três grandes bacias oceânicas estiveram com temperaturas acima da média por longos períodos. Veja abaixo como ficou a temperatura diária da superfície do mar.

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🌪️ Furacões e ciclones extratropicais
Os oceanos, cada vez mais aquecidos, atuam também como combustível para os furacões, permitindo que esses fenômenos se tornem ainda mais intensos.
As águas cada vez mais quentes fornecem uma fonte de combustível ideal para a tempestade. É como adicionar uma dose extra de cafeína ao café da manhã — não é o suficiente para fazer a tempestade acontecer, mas o suficiente para dar a ela um impulso extra
Esses fenômenos tendem a soprar água em direção às regiões litorâneas – porém, a depender do local, as técnicas de drenagem podem não ser suficientes, acabando por inundar algumas regiões. Isso aconteceu, por exemplo, durante a passagem do furacão Milton, nos Estados Unidos, e no litoral do Rio Grande do Sul, em maio deste ano.
🌊 Assim como os furacões, a passagem de ciclones extratropicais ao longo da costa brasileira também reduz a pressão atmosférica ao nível médio do mar e sopra água em direção à costa, resultando em um aumento momentâneo do nível do mar – esse fenômeno dificulta a saída das águas dos rios durantes eventos extremos de cheia.
Drone grava ondas de até 8 metros no furacão Milton
🧑 Mais habitantes nas costas das regiões
Ricardo de Camargo, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), destacou que as zonas litorâneas dessas regiões concentram uma maior densidade populacional do que as regiões centrais – por isso o percentual de habitantes afetados é alto.
❌ E se mais pessoas passarem a residir nesses locais ao longo dos próximos anos, maior poderá ser a porcentagem de pessoas que podem ser impactadas por inundações.
A três regiões que podem ter mais impacto até o final do século tem menos de um milhão de habitantes. Segundo o compilador de dados Worldometer, a população da Guiana em 2024 é estimada em 831.087 pessoas; das Ilhas Marshall, 36.973 habitantes; e Suriname, 634.431.
O g1 entrou em contato com o governo desses países para entender quantos habitantes moram nas zonas litorâneas, mas não teve retorno até a publicação.
“As pessoas tendem a morar em zonas litorâneas muitas vezes por questões de facilidade, trabalho esporádico ou até por viverem de recursos da pesca. De todo modo, vale destacar que toda essa população não chegou hoje a esses locais. Então, elas não sabiam que poderiam correr risco ao optarem por morar nessas regiões”, diz o professor.
🆘 O que pode ser feito para ajudar as pessoas?
Segundo os especialistas, todos os países que emitiram – e ainda emitem – gases de efeito estufa têm responsabilidade e deve pensar em soluções para não subir a temperatura ao redor do mundo. Para tal, eles sugerem algumas formas de contribuição:
A nível individual: indicam que o brasileiro opte, por exemplo, por utilizar mobilidade urbana ao invés de carro, reduza o consumo de energia elétrica e pressione os governos de terem políticas públicas voltadas para as questões climáticas.
A nível nacional: os países devem se responsabilizar em âmbito municipal, estadual e federal para auxiliem na redução dessas emissões. Eles sugerem melhorias no transporte público – para haver redução no uso de carro – e participação de eventos e organizações que pensem no futuro do planeta, como a Cúpula do Clima, também chamada de COP.
“Se você não tiver uma ação coordenada e conjunta [para não existir um aumento de temperatura], os impactos das ações isoladas não serão tão fortes. De todo modo, é preciso que cada indivíduo pense no futuro do planeta e haja para que todos consigam viver da melhor forma possível”, destacou o professor do departamento de ciências atmosféricas.
Em novembro, os países participantes da 29ª conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a COP29, entraram em acordo sobre o estabelecimento de um mercado global de carbono.
Essa decisão aconteceu meses após ter sido confirmado o aumento da temperatura global ultrapassou 1,5 ºC ao longo de um ano (de fevereiro de 2023 a janeiro de 2024).
🤝 O que é a COP?
A conferência do clima da ONU é um evento que reúne governos do mundo inteiro, diplomatas, cientistas, membros da sociedade civil e diversas entidades privadas com o objetivo de debater e buscar soluções para a crise climática causada pelo homem.
A conferência vem sendo realizada anualmente desde 1995 (exceto em 2020, por causa da pandemia) e o termo COP é uma sigla em inglês que quer dizer “Conferência das Partes”, uma referência às 197 nações que concordaram com um pacto ambiental da ONU no início da década de 1990.
O tratado, chamado de Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC), tem como principal objetivo estabilizar a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e, assim, combater a ameaça humana ao sistema climático da Terra, cada vez mais evidente nos últimos meses.
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A próxima COP será em Belém, capital do Pará, no Brasil. Foi a cúpula da COP28 que oficializou a decisão de eleger a cidade como a sede da COP30, em 2025.
Com isso, o município se tornará o palco crucial para as discussões sobre mudanças climáticas e estratégias globais para combater os efeitos adversos do aquecimento global.

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