Entrevista: crônicas escritas por Drummond sobre cinema ganham edição da Record

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Kubitschek Pinheiro

Um livro inédito de Carlos Drummond de Andrade, acaba de ser lançado pela Editora Record. Drummond era apaixonado pelo cinema. Em “O cinema de perto: prosa e poesia” o poeta mineiro se revela mais ainda o melhor cronista brasileiro – um admirador da sétima arte por meio de crônicas e poemas e claro, presta homenagem as atrizes, cineastas e toda a luminosidades das telas.

Uma coleção de textos, organizada por Pedro Augusto Graña Drummond, neto do autor, e pelo editor Rodrigo Lacerda. O livro está em todas livrarias do país e traz um prefácio primoroso do crítico de cinema Sérgio Augusto, contextualizando a visão única de Drummond sobre o universo cinematográfico.

O livro é o olhar encantador de Drummond, apaixonado pelas divas Greta Garbo, Ingrid Bergman e Catherine Deneuve e outras, mas também sobre o cinema brasileiro: Fernanda Montenegro e Sônia Braga são citadas e os cineastas como Glauber Rocha, estão no livro de Drummond.

Um texto chama atenção em que Drummond “inventa” que a atriz Greta Garbo veio a Belo Horizonte e coube a ele ciceroneá-la, nos passeios públicos mais duradouros e apaixonados. Drummond disse que ela veio e ponto final. “Greta Garbo teve um lugar especial nesse panteão de estrelas que ele admirou. E ele disse assim: “…imaginei, maquinei, vesti, amei Greta Garbo.”, e logo afirmou “Mas definir Greta Garbo é difícil.” Foi um verdadeiro amor platônico no sentido mais amplo da expressão”, revela o neto Pedro Augusto.

No prefácio, Sérgio Augusto descreve Drummond como “um ativo cronista cinematográfico em publicações de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, ao longo de praticamente seis décadas. […] Era uma voz permanentemente solidária contra a censura e um entusiasta do que de melhor o cinema brasileiro produziu”.

Se a vida imita o cinema e cada um tem o filme da sua vida, o leitor vai encontrar muita coisa além da arte em “O cinema de perto: prosa e poesia”

O MaisPB conversou Pedro Augusto Graña Drummond, o neto do poeta e traz mais informações da obra, organizada por ele.

MaisPB – Como veio essa descoberta fantástica de trazer à tona esses textos, poesia e prosa, de seu avô Carlos Drummond de Andrade, sobre a sétima arte?

Pedro Augusto Graña Drummond – Estou acostumado a “passear” pelo arquivo de crônicas deixado por Carlos para atenuar a saudade dele e porque já organizei algumas coletâneas, como ´O gato solteiro e outros bichos – com textos sobre os animais´. Nessas pesquisas pelo legado jornalístico e literário de Carlos, verifiquei que há temas recorrentes. E o assunto ´cinema´ é um dos que mais lhe inspiraram crônicas e versos ao longo da vida: o primeiro texto dele publicado em jornal, em 1920, e o penúltimo poema que meu avô escreveu, “Os 27 filmes de Greta Garbo”, do livro Farewell, incluídos nesta coletânea, revelam o quanto ele gostava da sétima arte.

MaisPB – A gente percebe que Drummond está em todas as sessões e para ele, o cinema teve uma forte influência – isso está bem inserido nessa publicação com textos inéditos, não é?

Pedro Augusto Graña Drummond – A experiência de ir ao cinema para as pessoas da geração de Carlos era basicamente diferente da que temos e sentimos hoje em dia, quando os filmes chegam a nós na palma de nossas mãos. Naquele tempo, tanto a linguagem cinematográfica como a percepção dessa nova forma de expressão narrativa e artística estavam em desenvolvimento. O encantamento que o cinema provocou nas primeiras gerações de espectadores não passou em branco pela sensibilidade do poeta itabirano. Boa parte dos trabalhos incluídos na coletânea O cinema de perto permanecia inédita em livro até agora. Desses textos publicados há décadas podemos ver que há várias questões relativas ao cinema, até de ordem social e política, que ainda são vigentes.

MaisPB- Na apresentação de Sérgio Augusto, traz essa imaginação incrível do encontro de seu avô com Greta Garbo, uma sensação de que aconteceu mesmo e também porque Drummond era um homem apaixonado pela beleza da mulher. Estou certo?

Pedro Augusto Graña Drummond – Carlos adorava várias atrizes! No poema ´Retrolâmpago de amor visual´ ele deixa claro seu encantamento por muitas atrizes. Mas Greta Garbo teve um lugar especial nesse panteão de estrelas que ele admirou. E ele disse assim: “…imaginei, maquinei, vesti, amei Greta Garbo.”, e logo afirmou “Mas definir Greta Garbo é difícil.” Foi um verdadeiro amor platônico no sentido mais amplo da expressão.

MaisPB – Ele mesmo nos remete ao fato na página 38, ao citar Macunaíma e a confissão da mentira naquele momento, Drummond assegura de que realmente Greta Garbo esteve em BH. Isso é muito dele, né?

Pedro Augusto Graña Drummond – Carlos confessou a mentira admitindo a verdade: bem que ele teria gostado que essa ficção tivesse acontecido realmente! Os bons escritores têm essa capacidade de nos convencer a embarcar na história por eles contada, como nos bons filmes, né?

MaisPB – Como foi sua convivência com esse avô precioso, o maior poeta brasileiro, Carlos Drummond de Andrade?

Pedro Augusto Graña Drummond – Carlos costumava perguntar, com habitual modéstia e humildade, se alguém já tinha medido quando lhe diziam que ele era o maior poeta brasileiro, pois não há como medir nem comparar a poesia dos grandes poetas que temos por aqui. A convivência com ele foi a de um neto com seu querido avô. Não tive a sorte de conviver com meu avô paterno mas o amor que Carlos nos brindou supriu com folga a falta do pai de meu pai. Ele era brincalhão, atencioso, corretíssimo e, em seu jeito mineiro de ser, muito carinhoso.

MaisPB – Aliás, são tantas coisas nesse livro, que deveria ser adotado nas escolas assim como acontece com os poemas da vida toda, não acha?

Pedro Augusto Graña Drummond Na página 101 do livro, há uma crônica de 1964 chamada ´O parque´ que conta uma experiência realizada no Colégio Estadual Brigadeiro Schorocht. A professora Maria José Alvarez teve a excelente ideia de propor a produção de um filme aos seus alunos e o resultado foi um conga-metragem chamado “O Parque”, que comoveu Carlos pela qualidade da história e pelo exemplo didático pois, como ele mesmo diz, o cinema está na vida de todos nós.

MaisPB – Assim como a literatura…

Pedro Augusto Graña Drummond  – Podemos dizer o mesmo da literatura, que é um dos pilares da criação cinematográfica. O estímulo à leitura sempre propiciará uma base sólida para a formação de qualquer indivíduo. Nesse sentido, o cinema de perto poderia ser um bom apoio nas salas de aula, como exemplo de escrita, como referência de costumes, como registro de um tempo passado, mas relativamente presente.

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