EXCLUSIVO: Gigante americana compra o controle da Clear Aligner

Siga @radiopiranhas

Fabricante de alinhadores dentais transparentes, a brasileira Clear Aligner atraiu uma série de investidores desde que chegou ao mercado, em 2015. Entre eles, Renato Velloso, cofundador da Odontoprev, e Tarek Farahat, ex-CEO da P&G na América Latina e ex-chairman da JBS.

Agora, a dupla e seus pares vão ter companhia. Avaliada em US$ 8,5 bilhões na Nasdaq, a Henry Schein, gigante americana de distribuição de suprimentos e equipamentos médicos e odontológicos, está assumindo o controle da empresa. A informação foi antecipada com exclusividade ao NeoFeed.

No acordo, cujos termos financeiros e de participação não foram revelados, os demais investidores da Clear Aligner seguem na operação. A lista inclui, entre outros nomes, Luiz Chacon Filho, fundador da SuperBAC, de biotecnologia, e Antonio Luiz Droghetti, ex-CEO da Lifemed.

“A relevância que a Henry Schein tem entre os dentistas é absurda. Isso vai além das próprias operadoras, das quais, uma eu cofundei”, diz Renato Velloso, sócio da Clear Aligner. “Nós já temos cerca de 6 mil dentistas clientes. O que faltava era justamente um canal de distribuição relevante.”

Na outra ponta, o grupo americano já vinha buscando um ativo para ingressar nesse espaço no Brasil há cerca de cinco anos. E, de lá para cá, viu o apetite pelo mercado ortodôntico, considerado o mais valioso da odontologia, ser alimentado pelo avanço dos alinhadores dentais no País.

“Em 2024, esse segmento vai movimentar R$ 1,5 bilhão em sell-out no Brasil. E a projeção é chegar a US$ 1 bilhão em três a quatro anos”, diz Henrique Mendes, vice-presidente de tecnologia dental e projetos especiais da Henry Schein, que traça uma meta a partir do acordo.

“A Clear Aligner já está no top five desse mercado”, afirma. “Nosso objetivo é crescer dez vezes mais já em 2025 e assumir rapidamente a terceira ou a segunda posição do segmento.”

A meta de curto prazo indica que a Clear Aligner, agora turbinada pela Henry Schein, está com a “faca nos dentes” para avançar no mercado brasileira. Mas sua grande corrida, de fato, é entrar no páreo pela liderança do segmento no País, hoje nas mãos de outra gigante americana, a Align Technology.

Fundada em 1997, a Align Technology foi a pioneira no mercado de alinhadores dentais, com a marca Invisalign. Avaliada em US$ 15,9 bilhões e dona de uma receita de US$ 978 milhões no terceiro trimestre de 2024, a empresa abriu capital na Nasdaq em 2001 e, três anos depois, desembarcou no Brasil.

A Henry Schein traz um bom fôlego para a Clear Aligner nessa disputa. Fundada em 1932 e listada desde 1995, a empresa tem presença em 33 países e mais de um milhão de clientes. E apurou uma receita de US$ 3,1 bilhões no terceiro trimestre, sendo US$ 1,85 bilhão no segmento dental.

Embora não revele dados locais, é fato que o Brasil está cada vez mais inserido nesse mapa. No País, entre outros M&As, o grupo comprou a distribuidora Dental Cremer, de distribuição, em 2017, e a S.I.N., fabricante de implantes dentários, em 2023, em uma transação estimada em R$ 1,5 bilhão.

Alinhamento com a verticalização

Juntamente com o potencial do mercado brasileiro, outra questão que contribuiu para que a Clear Aligner se tornasse a mais nova peça dessa coleção foi o seu modelo verticalizado. Isso inclui desde a produção em sua fábrica em São Paulo até os softwares e demais tecnologias proprietárias.

“O que brilhou muito nossos olhos foi essa verticalização e o fato de que eles já tinham um processo fabril criado, com domínio da matéria-prima e um controle de produção muito apurado”, diz Mendes. “Além do diferencial técnico e do conhecimento deles em alinhadores.”

Velloso, por sua vez, destaca outra vantagem nesse modelo. “A Invisalign, por exemplo, não tem fábrica no Brasil”, afirma. “E nós, por conta desse formato, conseguimos atender todo o mercado brasileiro, em um prazo de dois a sete dias.”

Essa estratégia começou a ser viabilizada em 2015, quando Rolf Faltin, sócio-fundador e diretor clínico da Clear Aligner, fechou um acordo exclusivo de licenciamento de tecnologias e fornecimento de matérias-primas com a alemã Scheu Dental Tecnology.

O contrato com o grupo, cujo chairman, Christian Scheu, também investe na Clear Aligner, é válido por vinte anos, renováveis automaticamente.

“Existem inúmeros concorrentes que usam matéria-prima de um fornecedor, softwares de outra empresa e equipamentos de uma terceira companhia”, afirma Faltin. “A grande diferença é que temos tudo isso dentro de casa.”

Além de recursos como equipamentos de impressão em 3D e softwares que planejam, antecipam e personalizam todo o tratamento do paciente, outra aposta da Clear Aligner é a aplicação de uma técnica com três alinhadores, contra a média de um ou dois do mercado.

“A Clear Aligner consegue reduzir o prazo de tratamento em 40% em relação à concorrência”, diz Mendes. “E, por consequência, entregar uma economia na faixa de 30% a 40% em custos clínicos, algo que, no Brasil, faz ainda mais sentido, por ser um mercado muito sensível ao preço.”

Um dos primeiros focos com a entrada da Henry Schein na operação é um rebranding da Clear Aligner. A nova marca será apresentada oficialmente durante o CIOSP, principal congresso de odontologia da América Latina, que será realizado no fim de janeiro em São Paulo.

Além do acesso à sua base de dentistas, cujo número não é revelado, o grupo americano vai estender o acesso à sua plataforma de treinamentos técnicos e de gestão de clínicas aos clientes da empresa brasileira.

É outra etapa, porém, que melhor retrata o combustível que será fornecido na “perseguição” à Align Technology e à Invisalign. A nova sócia já está colocando os mais de 2,2 mil funcionários do seu time dedicados unicamente à distribuição no Brasil à disposição da Clear Aligner.

“Temos uma capilaridade dedicada e, principalmente, uma área de vendas muito forte”, afirma Mendes. “Isso vai nos permitir avançar nesse mercado com bastante velocidade.”

source
Fonte
Neofeed

Adicionar aos favoritos o Link permanente.