A crítica e o cinema fantástico brasileiro

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Assombrações, extraterrestres, viagens no tempo… Tudo isso também é assunto para os filmes nacionais. É o que lembra (ou conta) o livro Cinema Fantástico Brasileiro – 100 Filmes Essenciais, composto a partir de uma eleição da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) com seus associados e convidados. É o quinto de uma série que começou com Os 100 Melhores Filmes Brasileiros, em 2016, e depois abarcou os documentários, curtas-  -metragens e filmes de animação, nos quais cada título recebe o texto de um crítico. Eu escrevo em todos — nesse, sobre A Princesa e o Robô (1983), animação com a Turma da Mônica.

A nova edição não é mais horizontal em capa dura, como as anteriores, e a capa trocou a montagem com os muitos cartazes por uma ostentiva imagem de José Mojica Marins, diretor e intérprete dos filmes de Zé do Caixão.

Não é à toa. Mojica dirige não só o filme que ficou em primeiro lugar na lista (À Meia-Noite Levarei Sua Alma, 1966), como também o segundo (Esta Noite Encarnarei em Teu Cadáver, 1967). Ainda tem o décimo (Ritual dos Sádicos, 1969), o 11o (O Estranho Mundo de Zé do Caixão, 1968), o 17o (Encarnação do Demônio, 2008).

Três filmes entre os 10 primeiros, cinco entre os 20 primeiros!

E não para por aí. Trilogia de Terror, no qual Mojica assina um dos três epísódios, é o 25o. Exorcismo Negro (1974) comparece em 30o. Em As Fábulas Negras (2015), ele entra com um dos quatro episódios do filme, que ficou em 57o lugar.

Por muitos anos uma figura solitária representando o cinema de horror brasileiro, Mojica tem essa posição refletida na — com trocadilho — assombrosa quantidade de filmes na parte de cima da lista. É visível, na relação, que ele ganhou a companhia de muitos cineastas jovens que abraçam o fantástico sem, qualquer receio, em filmes como As Boas Maneiras (2017, 3o na lista), Mate-me por Favor (2015, 15o) ou Quando Eu Era Vivo (2014, 16o).

O livro também mostra que Mojica tem a companhia de outros cineastas que também emplacaram um conjunto de filmes. Caso, por exemplo, de Carlos Hugo Christensen, Walter Hugo Khouri, Jean Garrett e Juliana Rojas. O paraibano Ramon Porto Mota entrou com dois longas de horror: A Noite Amarela (2019, em 73o) e O Nó do Diabo (2017, 95o).

Contrastando com a hiperrepresentatividade de Mojica, fica o registro da pouca atenção ao cinema infantil. Um gênero onde o fantástico é bem presente só aparece pela primeira vez na lista, salvo engano, num modesto 60o, com A Dança dos Bonecos. O primeiro de meros seis filmes. Menos que os oito filmes de Mojica e todos abaixo do filme dele pior colocado.

O que isso diz sobre o que ganha atenção da crítica brasileira? Parece que-me já é hora do livro Cinema Infantil Brasileiro – 100 Filmes Essenciais.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 18 de dezembro de 2024.

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A União

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