Emerson Luis. Esporte: Consequências

Na vida é preciso ter um plano B.

Em tudo.

Não dá para depender dos outros.

Nunca.

Principalmente acreditar que algumas promessas vão ser cumpridas.

Comissão de Esportes e Lazer da Alesc discute repasse de verbas para o esporte. Foto: Agência Alesc

As quartas de final da Superliga Feminina de Vôlei começaram esta semana.

Melhor de três jogos.

Nos primeiros confrontos:

Flamengo foi o melhor time da 1ª fase. Foto: Paula Reis/CRF

(8º) Barueri SP 1 x 3 Flamengo RJ (1º)

(2º) Osasco SP 3 x 0 Pinheiros SP (7º)

(3º) Minas MG 3 x 0 Fluminense RJ (6º)

(4º) Praia Clube MG 3 x 2 Bauru SP (5º)

Atual campeão, Praia Clube faz o mata-mata contra o Bauru. Foto: Internet

O prognóstico, talvez, soe exagerado.

Especialmente pela disparidade de investimento dos oito concorrentes.

Mas o Bluvôlei poderia estar nos playoffs.

Não chegou – e a trajetória mostra isso – por conta das adversidades enfrentadas fora de quadra.

A união e a vibração foram marcas registradas do Bluvolei. Foto: Lucas Prudêncio

De qualquer maneira, merecia, no mínimo, se manter na elite.

Pela entrega e profissionalismo de um grupo que chegou ao seu limite.

E o esgotamento emocional, físico, técnico e tático (na visão de quem está de fora) aflorou contra o Fluminense.

Na 20ª rodada.

Na derrota, de virada, dentro do Galegão.

Quando abriu 2 x 0 no placar e poderia ter fechado a partida.

Derrota de virada para o Fluminense diante da torcida. Foto: Lucas Prudêncio

Posteriormente (e naturalmente) vieram as derrotas de 3 x 0 para os dois principais candidatos ao título: Flamengo e Osasco.

Flamengo e Bluvôlei no Tijucas Tênis Clube. Foto: Internet

Uma vitória.

Foi o que faltou para ficar na primeira divisão.

Para ficar com a mesma pontuação e superar Brasília DF.

Adversário (com orçamento maior) que foi derrotado nas duas vezes que se enfrentaram na 1ª fase.

Equipe vibrando na vitória sobre Brasília no Galegão. Foto: Lucas Prudêncio

3 x 2 no Galegão.

3 x 1 em Taguatinga DF.

Brasília e Bluvôlei no Distrito Federal. Foto: @guerreirofotografia

No vôlei, quem tem mais dinheiro geralmente vence um campeonato.

Para efeito de comparativo, o orçamento do Praia Clube de Uberlândia MG, campeão da última edição, foi de R$ 15 milhões.

Outro exemplo, embora contraditório.

Em 2020, o Serviço Social do Comércio do Rio de Janeiro (Sesc/RJ) repassou R$ 18 milhões em patrocínio ao time criado pelo técnico Bernardinho, o Rio de Janeiro Vôlei Clube (RJVC), hoje Sesc/Flamengo.

Até aí, tudo bem.

Ocorre que a bolada foi transferida sem que a equipe entrasse em quadra por conta das restrições na pandemia, como apontou auditoria da Controladoria Geral da União (CGU).

Bernardinho, no Rexona-Sesc/Rio de Janeiro, em 2017. Foto: Márcio Rodrigues/MPIX/Terceiro

Certo ou errado, não há como competir.

São atletas e staff que se concentram apenas em treinar e jogar.

Que não se preocupam com o 5º dia útil.

Alguém do naipe da meio-de-rede Thaisa, 36 anos, bicampeã olímpica (2008/2012), deve ganhar no Minas mais do que todo o elenco de Blumenau.

Que projetou uma média salarial (em 10 meses) de R$ 120 mil.

Tendo como base, o repasse da Fesporte de R$ 1,5 milhão (também oferecido para Apan e Joinville, os três representantes do estado na Superliga).

Thaisa voltou a defender a seleção após 5 anos. Foto: Instagram

Os clubes não pediram esse dinheiro.

Foram chamados para uma reunião em Florianópolis.

A Fesporte ofereceu o recurso.

Prontamente aceito.

Quem recusaria?

Apan também não recebeu o dinheiro da Fesporte. Foto: Reprodução/Apan

Verba que seria repassada por meio de um edital (só descoberto a partir do momento em que o trâmite burocrático foi brecado por problemas apontados pela Ouvidoria da Fesporte e pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE).

Também se comenta que outras modalidades berraram.

Foram cobrar o seu quinhão.

E o processo não foi em frente.

Derrota em casa do Bluvolei para o Barueri SP. Foto: Lucas Prudêncio

De todo modo, talvez o erro do Bluvôlei tenha sido contar com essa grana.

Bom lembrar que antes mesmo da “garantia” do governo, pelo menos 50 empresas de Blumenau e região foram visitadas.

A busca era por um patrocinado master.

Ninguém teve a noção do tamanho da visibilidade que a marca teria.

Aliás, poucos têm dimensão do impacto e repercussão que o esporte produz.

O SporTV transmitiu 13 partidas ao vivo do Bluvôlei- das 22 disputadas.

Sem contar os jogos mostrados em tempo real pelo Canal Vôlei Brasil e YouTube.

Grupo vice-campeão da Superliga B. Foto: Reprodução/Furb

Deu no que deu.

Meses de salários atrasados.

Que começaram a impactar lá atrás, em outubro.

Arianne apresentando sua principal credencial na vitória sobre Maringá. Foto: Lucas Prudêncio

No próximo dia 10 de abril vence o terceiro mês de atraso.

A direção está buscando alternativas para honrar o compromisso com atletas e comissão técnica.

Jogo de ida contra o Minas em Belo Horizonte. Foto: Intternet

Acredito que tenha sido o primeiro profissional a divulgar o que estava rolando nos bastidores.

Percebia um comportamento estranho.

Antes e depois dos jogos.

Questionei membros da comissão técnica e diretoria.

Que pediam para segurar a informação (poderia atrapalhar ainda mais o ambiente e a busca pela grana na capital).

Por respeito aos profissionais envolvidos, segurei o quanto pude.

Uma hora não deu mais.

Elenco que disputou a Superliga. Foto: Reprodução/Bluvôlei

Até que veio a repercussão nacional.

Nos últimos jogos transmitidos ao vivo.

Teve gente criticando a repercussão.

Na qual o time (a cidade, no geral) não tinha condições de fazer o básico.

Minas venceu o Bluvolei em jogo polêmico. Foto: Lucas Prudêncio

O equívoco foi a forma com que o tema foi ecoado.

Dando a entender que a culpa era dos parcos, porém fiéis, patrocinadores e parceiros.

Que estão juntos há tempos.

Desde a base.

Desde a Superliga B.

Prefeitura e Secretaria Municipal de Esportes (SME) são os maiores investidores.

Além da injeção de R$ 250 mil que foi dada para alavancar o projeto, pagam bolsas de atletas, salários dos treinadores, fazem o transporte até os aeroportos, bancam o aluguel do Sesi e do Galegão.

Não fazem mais do que a obrigação, afinal o time representa o município nos eventos.

Contudo, sem eles, não haveria nem participação.

Tal consequência negativa motivou o clube, inclusive, a soltar um comunicado.

“A Diretoria do Blumenau Voleibol Clube vem a público comunicar que os seus patrocinadores estão em dia com o clube. O exposto se refere ao edital cancelado pelo estado de Santa Catarina (FESPORTE), onde seriam contemplados com um valor as modalidades esportivas do estado.

Tal fato, prejudicou a continuidade dos processos financeiros do Clube”.

Bluvolei e Flamengo no Galegão lotado. Foto: Lucas Prudêncio

Não tenho dúvidas que a direção vai resolver esse impasse em breve.

As dificuldades maiores ainda estão por vir.

A queda para a Série B e a volta de Brusque para a Série A (ao lado do Mackenzie de Belo Horizonte) não foram nada agradáveis.

Time da última temporada sofreu várias mudanças. Foto: Bluvolei

O rival deu a volta por cima em um ano (depois de perder os 22 jogos da última temporada).

Manteve o técnico Maurício Thomas (por aqui, o replanejamento passa pela permanência de Rogério Portela).

Reestruturou e rejuvenesceu o elenco.

Média de idade de 22,7 anos.

A equipe cresceu na reta final e superou Recife PE.

Brusque comemora vitória na Arena sobre o Recife PE. Foto: Internet

O vôlei blumenauense volta ao antigo patamar.

Vai ser preciso muita paciência e apoio para a reconstrução.

Ficou explícito que ter uma equipe na Superliga é viável.

Desde que a cidade – não só a torcida – abrace e compre a causa.

1º Pedágio do Bluvolei foi em 2016. Foto: Internet

De todo modo, um representante de uma competição nacional de ponta não pode depender de um pedágio para sobreviver.

O time adulto só não esteve nos semáforos porque na época, em dezembro, jogou em Maringá.

No entanto, em agosto, quando efetivamente começaram a chegar na cidade, as atletas venderam e ajudaram a servir os pratos da feijoada, em outra ação promovida para levantar fundos.

Também não dá para aceitar que um PIX Solidário seja criado para quitar dívidas.

Assim como é um absurdo dois integrantes, o presidente Ruy Dornelles e o treinador Rogério Portela, fazerem empréstimos pessoais para o barco não afundar.

Técnico Rogério Portela orienta jogadoras no Galegão. Foto: Bluvôlei

É humilhante!

Para dizer o mínimo.

Giovanna, de frente, vibrando contra o Brasília. Foto: Internet

Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de repórter/setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é apresentador, repórter, produtor e editor do quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV Blumenau. Na mesma emissora filiada à TV Record, ainda exerce a função de comentarista, no programa Clube da Bola, exibido todos os sábados, das 13h30 às 15h. Também é boleiro na Patota 5ª Tentativa.  

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