Sírios e brasileiros na Síria relatam alívio com queda da ditadura, mas temem futuro


As impressões e expectativas de brasileiros e sírios ouvidos pelo *Jornal Nacional* nesta segunda-feira (9) variam conforme o local onde estão e os planos que têm para os próximos dias. Sírios e brasileiros na Síria relatam alívio com queda da ditadura, mas temem futuro
Reprodução/TV Globo
Sírios que vivem no Brasil e brasileiros que estão na Síria têm relatado alívio com a queda da ditadura, mas também angústia em relação ao futuro.
Enquanto, por mais de uma década, a Síria vivia sua sucessão de crises e conflitos, os moradores sobreviviam a uma sucessão de tragédias.
“Eu estava com minhas filhas na rua, quando caiu uma bomba grande. Minha filha perdeu o olho esquerdo e a outra filha, ela perdeu uma parte do pé. E eu tenho fragmentos por todo meu corpo. Até no meu estômago também”, conta Rama Alomari, refugiada síria.
A Rama e as filhas foram atingidas em uma explosão em Damasco. E ela seguiu o caminho de outros mais de 4 mil refugiados que hoje vivem no Brasil. Conseguiu um visto emergencial para tratar as meninas aqui em 2017.
“Eu queria muito viver outra vida. Eu queria viver na paz, eu queria viver uma nova vida, mas, infelizmente, eu não consigo. Eu não consigo porque a dor que ficou aqui dentro de mim, eu não consigo esquecer. Ele é uma pessoa, um ditador. Ele matou muitas pessoas, ele matou muita gente. A gente está feliz, mas também a gente está muito triste.”
Sírios e brasileiros na Síria relatam alívio com queda da ditadura, mas temem futuro
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Já a Renata Isam Issa fez um caminho inverso. Antes de a guerra civil começar, em 2011, ela mudou para Síria. Hoje, cerca de 3.500 brasileiros vivem no país. Renata é filha de sírios e casada com um sírio. Nos últimos anos, viveu as dificuldades do país em guerra na cidade de Homs. Mas diz que o medo maior foi nas últimas duas semanas.
“A partir do momento que eles tomaram Aleppo, e depois Hamã, o medo tomou conta de nós. E, a gente, na quinta-feira, a gente saiu, saiu correndo, meio que correndo com o básico, e viemos pro interior, onde estaríamos mais protegidos, porque a gente ficou com medo de a invasão não ser pacífica. Então, a gente saiu. Carros lotados, as pessoas fizeram suas malas, está todo mundo saindo correndo. O medo toma conta da população”, diz a dentista brasileira que vive na Síria.
A estátua que aparece no vídeo que Renata gravou é a de Hafez Al-Assad, ditador que deixou o poder para o filho, Bashar Al-Assad. Como outras estátuas de pai e filho ditadores espalhadas pelo país, a de Homs foi derrubada junto com o regime.
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O que se sabe é que a ditadura dos Assad acabou. Mas as certezas terminam por aí. Tanto que as impressões e expectativas dos brasileiros e sírios com quem o Jornal Nacional conversou mudam muito dependendo de onde estão e dos planos que têm pros próximos dias.
Joni Assaf mora há 8 anos no Brasil, mas voltou para Síria em outubro para casar. Ele está na região de Hamã, sem luz. Com uma internet muito precária, ele conversou a reportagem, onde ele conseguiu explicar a dificuldade que está enfrentando.
“Agora ninguém sabe o que ele vai fazer, sabe. Ninguém sabe. Todo mundo está em casa, todo mundo está com medo de sair.”
Sírios e brasileiros na Síria relatam alívio com queda da ditadura, mas temem futuro
Reprodução/TV Globo
Já Renata sente que o pior já passou e deve voltar nas próximas horas para sua cidade.
“A gente vai amanhã ou depois. Lá está seguro, está tudo em festa, as pessoas estão comemorando nas ruas, ninguém está acreditando.”
E Rama pensa na reconstrução. E em como poderia ajudar, caso o que surja das incertezas seja o renascer de uma nova Síria.
“Eu tenho muita vontade de voltar agora para Síria, para ajudar meu país, para ajudar meu povo. A gente precisa de muita ajuda agora, precisa de médicos, precisa de remédios. A gente precisa só de mudança. A gente precisa viver normal.”
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