Dezembro Vermelho: CISS/CTA de Balneário Camboriú reforça a importância da prevenção e diagnóstico do HIV/AIDS

No mês dedicado à conscientização sobre o HIV/AIDS, o Dezembro Vermelho, o Centro Integrado de Saúde e Serviços (CISS) e o Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Balneário Camboriú reforçam a importância da prevenção, testagem e acompanhamento de pessoas vivendo com HIV. O psicólogo da unidade, Gustavo Pereira Oliveira, alerta para a importância de buscar o serviço de saúde em caso de qualquer situação de risco.

Situações de risco e a necessidade do teste

“Se você teve uma relação sexual sem preservativo, se o preservativo estourou ou mesmo se ficou em dúvida sobre a situação, procure realizar o teste rápido e utilizar a PEP, que é a Profilaxia Pós-Exposição, uma estratégia preventiva que consiste no uso de medicamentos para reduzir o risco de infecções por HIV, hepatites virais, sífilis e outras ISTs”, orienta Gustavo. Ele explica que o teste não detecta infecções imediatamente após a exposição, mas sim de relações anteriores em situações semelhantes.

A chamada janela imunológica para o diagnóstico é de aproximadamente dois meses, período necessário para que o exame detecte a presença do vírus.

“Durante esse tempo, recomendamos o uso consistente de preservativos em todas as relações sexuais. Caso contrário, a pessoa precisará repetir o teste e esperar novamente o período de dois meses para obter um diagnóstico confiável”, acrescenta.

Dados em Balneário Camboriú

Os números reforçam a importância da prevenção e do diagnóstico precoce. Em 2024, o CTA realizou 4.428 atendimentos, identificando uma média de 15 novos casos positivos por mês, totalizando 170 novos casos de HIV até novembro.

Além disso, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), foram realizados 10.708 testes rápidos no mesmo período, com foco em populações diversas, incluindo gestantes e seus parceiros.

O psicólogo Gustavo (Foto: Renata Rutes)

Gustavo destaca que a descentralização do atendimento às gestantes foi um avanço significativo.

“Antes, tudo era feito no CTA. Agora, o primeiro teste é realizado nas UBS, facilitando o acompanhamento. Caso o resultado seja positivo, a gestante é vinculada ao CISS, mas mantém o vínculo com a UBS de referência para garantir o suporte completo”, aponta.

Preconceito ainda é um desafio

Embora o HIV seja hoje uma condição controlável com tratamento adequado, o preconceito social continua sendo uma barreira significativa.

“Muitos pacientes relatam que o maior peso do diagnóstico não é a doença em si, mas o que as pessoas pensam”, ressalta Gustavo.

Ele lembra que, nos anos 1980 e 1990, a AIDS era associada à morte certa, mas atualmente o cenário mudou radicalmente com os avanços no tratamento. Hoje, as pessoas vivendo com HIV podem ter uma vida longa e saudável, desde que sigam o tratamento regularmente.

“O preconceito precisa ser combatido para que os pacientes busquem o tratamento sem medo ou vergonha”, reforça.

Profissionais do sexo e os desafios da prevenção

Os profissionais do sexo são um público que busca frequentemente os serviços do CTA, muitas vezes fora do horário comercial. Gustavo aponta que, apesar dos desafios, eles estão entre os grupos que mais utilizam preservativos, compreendendo sua importância como um Equipamento de Proteção Individual (EPI).

“Eles sabem que sem preservativo correm o risco de perder a capacidade de continuar trabalhando. Ainda assim, há situações em que clientes oferecem dinheiro a mais para relações sem proteção, o que coloca ambos em risco”, destaca Gustavo.

Ele lembra que estudos mostram que donas de casa lideram os índices de infecção, muitas vezes devido à confiança nos parceiros que acabam se envolvendo em relações extraconjugais sem proteção.

“É um choque por quê? Porque se acredita na fidelidade. O vírus está circulando, ele não vai escolher. Por isso há a dificuldade de casais que estão há muito tempo juntos de fazer a introdução do preservativo. ‘A gente nunca usou, por que você está querendo usar agora?’. Então qual a indicação? Se alguém estiver vivendo essa situação de infidelidade, vem os dois fazer o exame, porque ainda pior é você estar com o vírus e ainda passar para a sua parceira ou parceiro; é uma traição dupla”, aponta.

Medicação existe, mas a prevenção ainda é o melhor remédio (Foto: Renata Rutes)

A evolução do tratamento: da tragédia ao controle

Os avanços no tratamento do HIV são notáveis. Nos anos 1980 e 1990, os pacientes enfrentavam coquetéis com mais de 20 comprimidos diários, acompanhados de inúmeros efeitos colaterais. Hoje, a maioria toma de 1 a 3 comprimidos, dependendo do caso.

“A medicação é eficaz, gratuita e está disponível para todos. O paciente só morre de AIDS se abandonar o tratamento”, enfatiza Gustavo.

O tempo para obter o resultado dos testes também diminuiu significativamente. O teste rápido, disponível no CTA, fornece o resultado em cerca de 30 minutos. Já o exame mais detalhado, realizado no laboratório municipal, leva entre três e quatro dias. Isso é um avanço notável em comparação com os anos 1980, quando amostras eram enviadas para os Estados Unidos, e os resultados podiam levar meses.

Prevenção combinada: uma abordagem moderna

Além do preservativo, o CTA oferece outras estratégias de prevenção, como a PEP (profilaxia pós-exposição) e a PrEP (profilaxia pré-exposição). A PEP, disponível em unidades como as UPAs e o Hospital Ruth Cardoso, deve ser iniciada até 72 horas após a exposição de risco, funcionando como uma “pílula do dia seguinte” para o HIV. Já a PrEP, oferecida nas UBS, é uma estratégia preventiva contínua para pessoas em situações de maior vulnerabilidade. Gustavo reforça que nenhuma dessas estratégias substitui o uso do preservativo, que continua sendo o principal aliado na prevenção não apenas do HIV, mas também de outras infecções sexualmente transmissíveis, como sífilis e gonorreia.

O impacto psicológico do diagnóstico

Receber um diagnóstico positivo de HIV pode ser um choque, e cada pessoa reage de maneira diferente. Gustavo explica que o CTA utiliza a técnica da “notícia ruim”, em que o profissional comunica o diagnóstico e dá espaço para que o paciente processe a informação antes de continuar com as orientações.

“Alguns choram, outros ficam em silêncio ou entram em negação. Nosso papel é acolher e mostrar que, apesar do diagnóstico, há vida após o HIV. O importante é ajudar o paciente a entender que, ao se cuidar, ele pode ter uma vida normal.”

Casos que marcaram

Entre as histórias que mais impactaram Gustavo, ele relembra seu primeiro dia de entrega de resultados, em 2015, quando um paciente teve uma crise convulsiva ao ouvir o diagnóstico. Durante a pandemia, ele também precisou lidar com as consequências de fake news, como a crença de que a vacina contra a COVID-19 poderia causar AIDS.

“Cada caso é único e exige uma abordagem cuidadosa”, reflete.

Balneário Camboriú e a meta 90-90-90

Balneário Camboriú segue os esforços da Organização Mundial da Saúde (OMS) para alcançar a meta 90-90-90 até 2030: 90% das pessoas diagnosticadas, 90% em tratamento e 90% com carga viral indetectável.

“É um grande desafio, mas continuamos trabalhando para garantir que todos saibam sua sorologia e tenham acesso ao tratamento necessário”, afirma.

Serviços gratuitos e acessíveis

O CISS e o CTA oferecem serviços gratuitos e confidenciais, incluindo testagem, tratamento e suporte psicológico. Para mais informações, os interessados podem procurar o CISS/CTA (Rua 2350, nº 560), de segunda à sexta-feira das 7h15 às 18h ou as UPAs e Hospital Ruth Cardoso para atendimento emergencial fora desse período.

*Essa é uma das reportagens do Página 3 especiais para o Dezembro Vermelho. O recado é claro: o HIV circula, mas pode ser controlado. Saber sua condição sorológica, usar preservativo e buscar tratamento são passos fundamentais para proteger sua saúde e combater o preconceito.

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