“Faça comércio, não faça guerra”. O recado de Christine Lagarde para a Europa lidar com Trump

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No espírito “faça amor, não faça guerra”, que permeou a contracultura na década de 1960, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, pediu que os políticos europeus conversem e negociem com o governo do presidente eleito Donald Trump para evitar uma disputa comercial que possa prejudicar o crescimento global.

Em entrevista ao jornal Financial Times, publicada nesta quinta-feira, 28 de novembro, a responsável pela política monetária da zona do euro instou os líderes da União Europeia (UE) a “não retaliar, mas negociar” com Trump, que já prometeu elevar as tarifas de importação de produtos não oriundos da China em cerca de 20%.

Para ela, a Europa deveria se oferecer “a comprar certas coisas dos Estados Unidos”, como gás natural liquefeito (GNL) e equipamentos de defesa, em nome da boa relação bilateral.

“Este é um melhor cenário do que uma estratégia baseada puramente em retaliação, que pode resultar num processo ‘olho por olho’ em que ninguém sairá vencedor”, disse Lagarde.

A presidente do BCE destacou que uma guerra comercial “de larga escala” não é “de interesse de ninguém”, ao reduzir o PIB global. Essa estratégia, segundo ela, pode acabar prejudicando a principal pretensão de Trump, simbolizada pelo slogan de sua primeira campanha eleitoral, em 2016.

“Como fazer com que a América seja grande novamente se a demanda global está caindo?”, afirmou Lagarde.

A Comissão Europeia, responsável pelas regras comerciais do bloco europeu, está avaliando como responder as ameaças de Trump. Reduzir o tamanho do superávit comercial, que em 2023 somou € 156,7 bilhões, é parte das discussões.

Oficiais ouvidos pelo FT disseram que consideram aumentar as compras de GNL e armamento, além de produtos agrícolas, dos Estados Unidos. A UE também considera um maior alinhamento com o novo governo em iniciativas geopolíticas e comerciais americanas contra a China.

Apesar do tom apaziguador, a presidente do BCE é uma crítica de Trump, postura pouco usual para um banqueiro central. No começo do ano, Lagarde afirmou que um novo mandato de Trump seria “claramente uma ameaça” para a Europa.

Mas com o passar do tempo, confessou, sua postura em relação a Trump “mudou um pouco”. Para ela, a Europa precisa utilizar o resultado da eleição nos Estados Unidos para avançar em mudanças necessárias para a economia do continente, que luta para acompanhar seus rivais.

A fala de Lagarde ecoa a de seu antecessor no BCE, Mario Draghi. Ele, que chegou a ser primeiro-ministro da Itália, disse que a UE precisa tomar medidas drásticas para recuperar sua competitividade econômica.

Draghi, inclusive, foi incumbido pela Comissão Europeia a apresentar um plano para isso, algo que fez em setembro, em um relatório de cerca de 400 páginas.

As 170 propostas, que incluem o relaxamento de regras competitivas e maior integração dos mercados de capitais, teriam um custo de quase € 800 bilhões, mais do que o dobro que custou o Plano Marshall, principal plano dos Estados Unidos para reconstruir a Europa após a Segunda Guerra Mundial.

“Cabe a nós, os europeus, transformar essa ameaça em um desafio ao qual temos de responder”, disse. “A Europa está ficando para trás, mas não diria que a Europa não é capaz de se recuperar.

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