Tombamentos crescem 40% na PB

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Francisco Azevedo é caminhoneiro há mais de 20 anos e, ao longo desse tempo, presenciou diversos ocorridos em suas viagens. Um deles, há alguns anos, foi o tombamento de um caminhão que seguia à sua frente na rodovia. Segundo ele, “não foi uma imagem bonita de se ver”. “Até parei e fui socorrer. O caminhão passou por mim e, em fração de segundos, ‘estourou’ o pneu dianteiro e virou. Ele caiu de lado. Havia duas pessoas e, com o impacto, uma foi lançada para fora e a outra ficou presa nas ferragens. Por sinal, ajudei a resgatá-la; conseguimos fazer isso antes mesmo de o socorro chegar”, conta Azevedo.

Mas não é só por caminhoneiros e por quem vive rodando pelas estradas que os tombamentos são presenciados. Nos últimos meses, têm circulado, tanto na imprensa como nas redes sociais, fotos e vídeos com registros de veículos tombados em várias partes da Paraíba. De fato, esses acidentes têm sido mais comuns: conforme informações da Polícia Rodoviária Federal (PRF), o estado já contabilizou, entre janeiro e o dia 31 de outubro deste ano, um total de 712 tombamentos em estradas e rodovias — o que equivale a um aumento de cerca de 40% em relação às ocorrências relatadas no mesmo período de 2023, quando foram notificados 505 tombamentos.

 Categorias

Como explica o policial rodoviário federal Ricardo Munis, não se deve confundir esse tipo de ocorrência com os capotamentos, que se tratam de uma outra classificação de acidentes automobilísticos.

Definição
Não são apenas os caminhões; considera-se que qualquer veículo tomba ao cair lateralizado, sobre o lado esquerdo ou direito

“Tombamento é, tecnicamente, quando o veículo fica ‘solto’ e tomba sobre sua lateral. Ele fica lateralizado sobre o lado esquerdo ou o lado direito. Quando ele gira sobre o próprio eixo, isso é considerado capotamento. Por exemplo, quando um caminhão tomba e fica com suas rodas lateralizadas, isso é considerado tombamento. Se ele dá mais um giro e fica com as rodas viradas para cima, é capotamento. Mesmo que o veículo pare lateralizado, em sua posição final, a gente analisa a dinâmica do acidente para ver se, antes de parar, ele capotou ou apenas tombou”, detalha o policial.

Além disso, os tombamentos também podem se distinguir entre si. De acordo com a avaliação da PRF, eles são categorizados de duas formas: quando o veículo propriamente tomba no asfalto, sem outras intercorrências; e quando o tombamento decorre uma sequência de sinistros — como colisão dianteira, lateral ou transversal, por exemplo.

Ambas as categorias, a propósito, apresentam crescimento nos registros deste ano, até o último dia 31, em comparação com o intervalo equivalente do ano passado. Entre as 712 ocorrências já constatadas em 2024, 224 correspondem a tombamentos propriamente ditos, enquanto 488 resultaram de sinistros. Já de janeiro a 31 de outubro de 2023, foram 142 casos listados na primeira categoria e 363 na segunda.

Desatenção é a maior razão do problema

Quando perguntado sobre o que seria, na sua opinião, a principal causa do número de tombamentos na Paraíba, o caminhoneiro Francisco Azevedo não titubeia: para ele, o problema está relacionado à ausência de atenção e de cuidado no trânsito.

“O fluxo de veículos é grande e acidentes acontecem, principalmente em relação à falta de foco — muita gente dirigindo, muita gente apressada, todo mundo quer chegar cedo, é isso que provoca acidente. Depende também de quem vai conduzir o veículo; se você está trafegando em uma rodovia perigosa, tem que ter cuidado, tentar se precaver. É assim que se evita acidente. A pressa é inimiga da perfeição. Os acidentes acontecem por causa de pressa; todo mundo é agitado e todo mundo tem o que fazer”, analisa o caminhoneiro, que considera haver muitos tombamentos, não apenas no estado, mas por todo o Brasil.

Falta de reação

A leitura de Azevedo vai ao encontro do que atestam as autoridades sobre as maiores causas desse tipo de ocorrência. Segundo a PRF, os tombamentos propriamente ditos costumam ser provocados, principalmente, pela ausência de reação por parte dos condutores ou pela ineficiência desta, além de outros fatores, como falhas mecânicas, avarias ou desgastes de pneus. Nos casos de tombamento decorrente de uma série de eventos, o problema se mostra ainda mais evidente: a maioria das colisões é ocasionada não apenas pela falta de reação dos condutores ou por sua ineficiência, mas também pelo acesso à via sem se observar os demais veículos e por não se preservar a distância adequada em relação a eles.

Os acidentes acontecem por causa de pressa; todo mundo é agitado e todo mundo tem o que fazer
– Francisco Azevedo

“As principais causas são fatores humanos. Normalmente, o condutor está distraído, não presta atenção em uma curva ou em algo que passa pela via. Ou vai fazer uma manobra, não consegue desviar [do objeto] e acaba tombando”, informa Ricardo Munis. “Quando [o tombamento] envolve uma motocicleta e decorre de uma sequência de eventos, a causa [mais comum] é não se ter mantido a distância de segurança”, complementa o policial rodoviário federal, chamando atenção para outro fator muito comum relacionado às ocorrências com motocicletas, veículos considerados mais vulneráveis a acidentes de trânsito: a presença de detritos ou areia no pavimento, que, normalmente, provoca não apenas o tombamento do meio de transporte, mas também pode gerar lesões graves.

Motocicletas são predominantes entre os veículos envolvidos

Ao contrário da típica imagem que se tem do tombamento de veículos, geralmente envolvendo um caminhão ou uma carreta, as motocicletas respondem, de fato, pela grande maioria desses acidentes nas rodovias do estado. De acordo com os dados da PRF, elas correspondem a 83% dos veículos envolvidos em tombamentos propriamente ditos neste ano, até o momento, seguidas de automóveis e caminhonetes (5,7%) e de caminhões (5,7%). 

Conforme a PRF, motocicletas respondem por 83% dos tombamentos propriamente ditos em 2024 | Foto: Leonardo Ariel

“Quando a gente fala do tombamento que está incluído em uma sequência de eventos, como uma colisão traseira ou lateral, as motocicletas estão entre 47% e 50% dos sinistros em 2024”, aponta Ricardo Munis, acrescentando que automóveis e caminhonetes respondem por 32,3% desses casos, e caminhões, 8%.

Outra impressão comum é que os tombamentos são mais frequentes nas rodovias ao longo do estado, próximos a cidades do interior; mas, na verdade, a maior parte desses acidentes acontece nas regiões metropolitanas. “É onde a gente tem um maior número de motocicletas, de automóveis, de veículos de passeio. Também há uma concentração de caminhões e de carretas. Apesar da baixa velocidade, há o sinistro”, observa o agente da PRF.

 Como prevenir

A melhor prevenção contra esse tipo de acidente, segundo o policial, ainda é redobrar a atenção na direção. É preciso manter uma distância de segurança em relação aos demais veículos e sempre indicar, com antecedência, a manobra a ser realizada. Além disso, Munis lembra que se deve respeitar a proibição do uso de telefone celular ao volante.

“A gente verifica que muitos condutores envolvidos em acidentes foram distraídos pelo uso do celular para mandar mensagem ou atender a ligação. Não se deve utilizar, de forma alguma, o celular ou qualquer outro meio que venha a distrair a pessoa na condução, porque leva um segundo para ocorrer um acidente”, alerta Ricardo.

Além de manterem uma distância de segurança em relação aos demais, condutores devem evitar usar o celular

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 24 de novembro de 2024.

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Fonte

A União

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