Exposição inspirada em baiana que viveu no Brasil Colônia celebra empoderamento de mulheres negras em Salvador


Dona Fulô é apresentada como exemplo de força das pretas alforriadas que ostentavam peças valiosas como símbolo de liberdade. Visitação pode ser feita até fevereiro de 2025, gratuitamente. Exposição celebra empoderamento e história de mulheres negras em Salvador
Uma exposição inspirada em uma baiana que viveu no Brasil Colônia celebra o legado e o empoderamento de mulheres negras em Salvador. Aberta neste mês, em homenagem ao Novembro Negro, “Dona Fulô e Outras Joias Negras” fica em cartaz no Museu de Arte Contemporânea (MAC), no bairro da Graça, com entrada gratuita.
Entre os elementos que remetem à força e expressão dessas mulheres, estão joias, fotografias, pinturas e colagens, trazendo Florinda Ana do Nascimento como foco. Mais conhecida como Dona Fulô, ela era do município de Cruz das Almas, no recôncavo, mas se mudou para a capital muito jovem, com uma família escravagista.
Após conquistar alforria, a baiana passou a investir as economias em joias, que simbolizavam sua liberdade, no século XIX. É assim que detalha a trajetória da baiana a pesquisadora Carol Barreto, que integra a curadoria da exposição inédita.
Em entrevista ao g1, ela trouxe mais aspectos das peças valiosas que chegaram à cidade após contribuição do colecionador baiano Itamar Musse.
Conforme Carol, trata-se de “um conjunto de joias de ouro, que corresponde a uma estética afro-brasileira, onde se empregam técnicas como a filigrana, dentre outras técnicas de joalheria europeia, redesenhadas sob a perspectiva de mulheres de axé”.
“Esse é um dos poucos acervos de joias de mulheres negras, que a gente consegue ter alguma precisão sobre a origem e quem possuiu, de fato, porque ela deixa descrita na certidão de óbito, doando [essas peças] para uma das pessoas integrantes da família com quem viveu”, ressaltou.
Confira a página especial do Novembro Negro
Dona Fulô inspirou exposição que celebra legado e empoderamento de mulheres negras em Salvador
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A pesquisadora detalha ainda que, nas imagens que compõe a exposição, Dona Fulô aparece com o traje de beca tradicionalmente usado pelas mulheres da Irmandade da Boa Morte – confraria religiosa afro-católica que, na sua origem, e por muito tempo, foi responsável pela alforria de inúmeros escravaizados, sobretudo no recôncavo.
“No candomblé a gente usa alguns elementos de proteção, os fios de conta de orixá (…) e a gente vai observar que a dimensão de determinados elementos presentes na confecção dessas joias correspondem, de fato, a um desenho que se relaciona com a religião católica, e alguns elementos, dentre outras questões, que a gente percebe mesmo que estão ali a presença das mulheres de axé”, afirmou Carol Barreto.
Além das fotografias e itens de Dona Fulô, a mostra traz ainda peças produzidas por 22 artistas negros. Foi lançado também o livro “Florindas”, que conta com a colaboração dos curadores, entre elas, Carol. A obra complementa as artes ao explorar ainda mais a simbologia e os significados dos itens e histórias apresentadas.
“Essa produção de aparência significa resistência, estratégia de organização, empreendimento, porque são corporalidades que se transformam em verdadeiros bancos, a partir dessas joias e dessa riqueza constituída a partir do trabalho, vale destacar. Essas mulheres constituíram riqueza para comprar a liberdade própria de suas familiares de sangue ou de axé, irmãs e irmãos de diversas origens e relações”.
Joias de Dona Fulô surgem como ferramentas de poder e resistência
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Disponível até fevereiro do ano que vem, a exposição tem atraído olhares de vários públicos, incluindo os mais jovens, conforme a curadora.
“A recepção das pessoas tem sido ainda melhor do que esperávamos, principalmente a recepção da juventude. A gente tem o relato de uma das mediadoras que estava com um grupo de escola e vendo as joias e lembrando como se vestem os MCs e rappers, que é algo inclusive que eu discuto nas minhas publicações, como essa origem da indumentária de artistas negros contemporâneos nasce nesse contexto de diáspora, nesse contexto ainda colonial, como uma forma de contraposição a opressão, a toda a violência”.
“A gente vê o pescoço pesado de ouro de Dona Folô e MC Pose Mano Brown e outros rappers, e essa turma de estudantes falou: ‘Nossa, parece MC Fulô, vamos chamar de MC Fulô'”.
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SERVIÇO:
Exposição: “Dona Fulô e Outras Joias Negras”
Local: Museu de Arte Contemporânea (MAC) – Rua da Graça, 284 Salvador – BA
Período: Até 16 de fevereiro de 2025
Entrada: Gratuita
Exposição celebra legado e empoderamento de mulheres negras em Salvador
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