Na gestão sistemática, dados e robôs são o “showman”

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Os investidores estão acostumados a acompanhar as apostas dos gestores de fundos para saber quais estão mais bem posicionados com o cenário, ou qual fizeram apostas certeiras que trouxeram um retorno fantástico.

Mas, na gestão de fundos sistemática, são os modelos matemáticos que selecionam os melhores ativos. E a carteira pode conter centenas de posições. É claro que os modelos são feitos por seres humanos. Mas, depois de prontos, o gestor tem pouca ou nenhuma interferência neles. E a inclusão ou exclusão de qualquer ativo ocorre de forma sistemática ao programado.

Esse modo de gestão já representa mais da metade da indústria de fundos americana. No Brasil, no entanto, os gestores estimam que há menos de 1% dos ativos sob gestão nessa estratégia – nesta conta não estão incluídos os fundos quantitativos, que usam dados, mas não utilizam um conjunto de regras pré-estabelecidas na gestão.

“Basear um processo decisório numa pessoa, um ‘showman’, é uma coisa extremamente frágil. Estamos focando no processo e não numa pessoa específica. Além disso, há o controle de vieses inerente ao ser humano”, afirma Cassiano Leme, CEO da Constância Investimentos, em entrevista ao programa Wealth Point, que tem o apoio do Banco Master.

Os fundos sistemáticos também se propõem a bater um benchmark gerando alfa. E para alcançar esse objetivo, eles têm estratégias específicas. Entre as mais conhecidas está o investimento por fatores, que usa o fator momentum, e a arbitragem estatística.

Quem se convenceu que a estratégia valia a pena foi a Fundamenta, que nasceu em 2006 como gestora fundamentalista. Mas, aos poucos, foi incorporando estratégias sistemáticas até entender que o melhor era seguir a filosofia à risca.

“A decisão humana no início do processo ainda era muito relevante, mas, ao longo do tempo, fomos verificando as evidências de que as nossas interferências tendiam a ser ruins”, diz Valter Bianchi Filho, fundador e diretor de investimentos da Fundamenta. “Então, a gente foi se ‘demitindo do processo decisório’, mas convicto de que era o melhor a se fazer.”

Fato é que há cada vez mais informações para serem processadas no mercado financeiro. E ter algum tipo de sistematização na gestão pode ser o futuro. Em especial, com o avanço da inteligência artificial. Na visão de Bianchi Filho, a tecnologia será sempre usada como um complemento.

“O ChatGPT tem uma característica que me incomoda: ele não sabe dizer não. Acreditamos que ele possa vir a ajudar na limpeza de dados operacionais. Ele vai ser um auxiliar, mas não alguém que vai lá e toma todas as decisões por você”, afirma Bianchi Filho.

Leme, por sua vez, está otimista e acredita que estamos em um ponto de inflexão. “No Brasil, existe uma concentração enorme em estratégias macro baseadas em tesouraria de banco”, diz Leme. “Contudo, os estudos que temos mostram que, na média, os fundos macro não foram além de um kit Brasil. E isso não tem dado retorno.”

De acordo com o CEO da Constância Investimentos, os investidores estão repensando suas filosofias e vendo onde realmente se pode gerar retorno consistente no longo prazo. “Então, acho que até esse pode ser um ponto de virada na consideração de estratégias sistemáticas no Brasil.”

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