Apoteose vocal feminina pauta, com o luxo da Orquestra Petrobras Sinfônica, o raro espetáculo ‘Musicais in concert’


Idealizado para celebrar os oito anos do Teatro Riachuelo, o inédito concerto feito em duas sessões no Rio teve obras de Chico Buarque em roteiro dominado por temas de musicais norte-americanos. Elenco feminino do espetáculo ‘Musicas in concert’ domina a cena no Teatro Riachuelo, no Rio de Janeiro
Laura Fragoso / Divulgação Aventura
♫ OPINIÃO SOBRE ESPETÁCULO POP SINFÔNICO
Título: Musicais in concert
Direção e roteiro: Claudio Botelho
Data e local: Sessão das 16h de 15 de novembro de 2024 no Teatro Riachuelo
Cotação: ★ ★ ★ ★
♪ Imagine Alessandra Verney, Analu Pimenta, Claudia Netto, Ester Freitas, Giulia Nadruz, Gottsha, Laila Garin, Lilian Valeska, Lucinha Lins, Malu Rodrigues e Totia Meireles no mesmo palco.
Formado por atrizes e cantoras de musicais de teatro, esse elenco feminino de sonho se materializou na sexta-feira, 15 de novembro, nas duas únicas sessões de Musicais in concert, espetáculo pop sinfônico idealizado por Aniela Jordan para celebrar os oito anos do Teatro Riachuelo, importante espaço cultural da cena carioca localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ).
Em dois atos que totalizaram quase três horas de espetáculo roteirizado e dirigido por Claudio Botelho, nome fundamental (ao lado de Charles Möeller) para a consolidação do mercado do teatro musical no Brasil, Musicais in concert foi pautado pela apoteose vocal feminina.
Em cena, a supremacia feminina foi aliada à exuberância luxuosa da Orquestra Petrobras Sinfônica, sob a batuta do maestro regente Felipe Prazeres.
Minoritário, o elenco masculino – formado por Beto Sargentelli, Gustavo Gasparani e Jules Vandystadt – também brilhou, mas o palco foi delas, como tem sido desde que os musicais conquistaram plateias mundo afora.
Em essência, Musicais in concert fez ode a esse gênero de teatro que mobiliza milhões e multidões com a união de dramaturgia e música. Contextualizado com textos escritos e ditos por Claudio Botelho, mestre de cerimônias do concerto, o desfile de números musicais foi intercalado com menções honrosas a Bibi Ferreira (1922 – 2019) e Marília Pêra (1943 – 2015), atrizes pioneiras e extraordinárias na história do musical de teatro no Brasil.
Bibi e Marília foram vistas e ouvidas via telão, sendo Bibi aplaudida postumamente na pele de Joana em interpretação de monólogo de Gota d’água (1975 / 1980), musical que marcou época na cena nacional da década de 1970.
Gota d’água teve trilha sonora de Chico Buarque, maior compositor brasileiro de musicais de teatro. Uma das grandes músicas da trilha, Basta um dia (1975), foi ouvida na voz de Laila Garin, atriz e cantora que já entrara em cena para cantar com imponência Como nossos pais (Belchior, 1976), sucesso de Elis Regina (1945 – 1982), cantora revivida por Laila em musical de 2012 que se desdobrou em versão compacta ainda em cartaz. Detalhe: Laila até então nunca havia trabalhado com a dupla Möeller & Botelho.
Laila Garin canta ‘Basta um dia’ sob a regência de Felipe Prazeres
Laura Fragoso / Divulgação Aventura
Ainda de Chico Buarque, o público ouviu Palavra de mulher (1985) no canto preciso de Lilian Valeska – que brilhou mesmo prejudicada pelo som baixo do microfone – e, na voz de Lucinha Lins, Gota d’água (1975), Viver de amor (1978, da Ópera do malandro) e História de uma gata (Luís Enriquez Bacalov, Sergio Bardotti e Chico Buarque, 1977), tema do musical infantil Os saltimbancos (1977) que renasceu no toque lúdico da sinfônica da Petrobras com a adesão do público no canto do refrão.
Em cena desde a década de 1970 como atriz e cantora, Lucinha Lins foi a homenageada da noite por Claudio Botelho em tributo improvisado por Botelho fora do roteiro para soar como surpresa para a artista.
No todo, o espetáculo Musicais in concert resultou sedutor. Até porque, não, there’s no business like show business. E, para quem gosta desse gênero de entretenimento, foi puro deleite ouvir Malu Rodrigues interpretando com a voz límpida as versões em português de Over the rainbow (Harold Arlen e E.Y. Harburg, 1939) e Do-Ré-Mi ((Richard Rodgers e Oscar Hammerstein II, 1959), temas eternos dos musicais O mágico de Oz (1939) e A noviça rebelde (1959).
Número idealizado para o gran finale, Do-Ré-Mi juntou Malu com o gracioso elenco infantil da recente segunda versão de Möeller & Botelho do musical A noviça rebelde.
Nome sobressalente no musical sobre Tom Jobim em cartaz no Rio, Analu Pimenta confirmou que veio para ficar na linha de frente quando cantou o tema-título do filme All that jazz (1979) – composição de John Kander e Fred Ebb apresentada a rigor na trilha do musical Chicago (1975) – e While my guitar gently weeps (George Harrison, 1968), música dos Beatles que representou o espetáculo Beatles num céu de diamantes (2008), uma das menores (em estrutura) e mais bem-sucedidas produções de Möeller & Botelho.
Nomes recorrentes nos musicais da dupla, Claudia Netto e Gottsha cantaram sucessos do ABBA, extraídas do roteiro de Mamma mia! (2023), dando toque pop ao concerto teatral sinfônico.
Numa espécie de bis, Lilian Valeska e Jules Vandystadt – que brilhara cantando Tonight (Leonard Bernstein e Stephen Sondheim, 1957), tema de West side story (1957), em dueto romântico com Giulia Nadruz – puxaram Aquarius e Let the sunshine in, dois temas do musical Hair (1967), em número coletivo que juntou todo o elenco e que foi feito com o anúncio, por Aniela Jordan, de que Hair ganhará nova montagem no Brasil em espetáculo que ocupará o palco do Teatro Riachuelo em meados de 2025.
O show não pode e tampouco vai parar!
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