Acionamento de usinas termelétricas segura geração de energia durante baixa das hidrelétricas

A quantidade de água que chega aos rios e é usada para gerar energia está abaixo da média histórica e tem sido um ponto de atenção desde dezembro de 2023. A crise hídrica do país trouxe preocupação quanto à continuidade do fornecimento de energia elétrica. O ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) tem aumentado o despacho de usinas termelétricas para suprir os horários de pico de consumo. Na semana de 31 de agosto a 6 de setembro, por exemplo, a geração de energia por usinas térmicas chegou ao patamar de 14%, na comparação com as outras fontes do sistema interligado.

Usinas termelétricas

Acionamento de usinas termelétricas complementa geração de energia durante baixa das hidrelétricas – Foto: Jacson Botelho

Pedro Litsek, CEO da Diamante Energia, que administra a termoelétrica Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo, explica que o ONS tem convocado o acionamento das térmicas como forma de prevenção. “O ONS está vendo uma situação com alguma preocupação e está começando a acionar as térmicas para evitar de chegar num momento de colapso em que, de repente, os reservatórios estão vazios e não há geração suficiente para atender às demandas e você entra numa situação de racionamento”, explica Litsek.

A termelétrica Jorge Lacerda foi alertada, inclusive, sobre a necessidade de manter os estoques em alta para casos de acionamento. Ao longo do segundo semestre, a usina já contribui diversas vezes com a geração de energia para o sistema. Neste momento, toda a estrutura está em funcionamento, gerando 740 megawatts – quase o dobro da geração média, que é de 400 megawatts.

“Lá em julho nós recebemos uma carta do ONS pedindo que a gente estivesse preparado, e não só nós, mas todas as térmicas, para evitar fazer manutenções, garantir que tenha combustível, para que se estivesse preparado para uma situação de luz amarela”, afirma o CEO da Diamante Energia.

Usinas termelétricas cobrem baixa de outras fontes

As usinas termelétricas garantem maior segurança ao sistema porque podem gerar energia de forma constante, diferentemente das usinas eólicas e solares – que dependem da incidência de vento e sol – ou das hidrelétricas, que vivem um cenário de escassez hídrica.

Ainda em setembro, a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) acionou a bandeira vermelha patamar dois, o que não acontecia desde 2021. Para essa decisão, a Aneel levou em consideração a escassez de chuvas e as altas temperaturas. Com isso, os custos com a geração de energia elétrica passaram a ter um acréscimo.

O gerente de Comercialização e Regulação da Diamante Energia, João Martin, explica que o aumento está relacionado a projeções que o SIN (Sistema Interligado Nacional) faz levando em consideração o custo do déficit, isto é, quanto custaria não ter a energia necessária.

“Essas simulações antecipam potenciais cenários do custo deste déficit. Ao fazer isso, este sistema, este modelo matemático, indica ao operador nacional do sistema a necessidade de antecipar geração termelétrica para suprir e evitar potenciais riscos de déficit que podem vir a resultar, no futuro, em racionamento. Os reservatórios do sistema brasileiro são o grande pulmão da geração do sistema interligado, é de lá que sai a segurança do sistema. Então, para manter esse reservatório em níveis adequados, a ONS antecipa uma geração termelétrica”, detalha Martin.

O que demostra que o aumento no custo da energia elétrica em nada está relacionado com as termoelétricas. Segundo a ONS, as medidas tomadas até então são preventivas justamente para atender à demanda da sociedade, para que não haja risco de desabastecimento de energia. João Martin explica que o custo que a gente verifica hoje não é o custo da termoelétrica.

“Ele é um efeito de quanto poderá custar essa energia no futuro se a gente não despachar essas térmicas agora. A térmica já faz parte desse modelo e toda decisão de despacho, seja ele com preço baixo ou preço alto, já inclui o suporte que a termelétrica pode dar ao sistema”, ressalta.

As térmicas ajudam a garantir a segurança energética do país, evitando falta de energia e até apagões e, por isso, devem ficar acionadas até que haja perspectiva de melhora nos níveis de chuva nas regiões das hidrelétricas. “A gente acredita que até meados de novembro devemos ter este despacho, no mês de dezembro uma redução e no ano que vem uma condição de normalidade”, finaliza João Martin.

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