Chico Buarque foi cruel ao excluir Elis Regina da letra de Paratodos

Neste domingo, 17 de março, se estivesse viva, Elis Regina teria completado 79 anos. Na sexta-feira, 15, dediquei a ela minha coluna na CBN João Pessoa. Elis e os compositores que interpretou, foi esse o conceito da coluna.

Tom Jobim, Milton Nascimento, Gilberto Gil, Edu Lobo, Caetano Veloso, Chico Buarque, Roberto e Erasmo Carlos, Ivan Lins, João Bosco e Aldir Blanc, Renato Teixeira e Belchior. A escolha das músicas me trouxe a lembrança da relação de Elis com Chico.

Ainda nos anos 1960, em dueto, Elis e Chico gravaram Noite dos Mascarados. Está na trilha do filme Garota de Ipanema. Elis também gravou Sabiá, Retrato em Branco e Preto e Pois é, todas três da parceria de Chico com Tom Jobim.

É de Elis, em 1972, o registro original de Atrás da Porta, letra de Chico, melodia de Francis Hime. Enquanto que Construção e Deus Lhe Pague, em registros ao vivo, aparecem no estupendo álbum Transversal do Tempo, de 1978.

Apesar dessas músicas gravadas, Chico nunca esteve entre os compositores da preferência de Elis. Ela contava que os santos dos dois não se cruzaram no primeiro encontro, quando, ainda muito jovens e iniciantes, ele foi ao apartamento dela mostrar suas composições.

Sempre que penso na relação entre Chico Buarque e Elis Regina, me vem à memória a letra de Paratodos, que Chico compôs e gravou em 1993. É uma das suas grandes composições e uma belíssima e comovente homenagem a quem fez e faz música popular no Brasil.

Está todo mundo lá na letra de Paratodos. Mas Elis não está. Tem até Rita Lee, que, convenhamos, não é bem da praia de Chico Buarque, mas não tem Elis. Sim, logo Elis, que quase unanimemente é considerada a maior cantora popular do Brasil.

Nara Leão, Gal Costa, Maria Bethânia, Rita Lee, Clara Nunes – elas são homenageadas por Chico em Paratodos. E Elis? Por que não houve espaço para ela nos versos da toada em que o compositor batizou Tom Jobim como o Maestro Soberano?

Certa vez, uma fã de Chico me disse que a ausência de Elis tem a ver com métrica, rima. Brincando, ousei, então, responder com uma possível mudança na letra. Ficou assim: onde temos “Salve Edu, Bituca, Nara/Gal, Bethania, Rita, Clara”, teríamos “Salve Edu, Bituca, Nara/Gal, Elis, Bethânia, Clara”.

Sei que Chico Buarque bota quem ele quiser em suas letras. É tão legítimo quanto é razoável que nós, seus ouvintes e admiradores, estranhemos que Elis Regina não tenha sido homenageada na letra de Paratodos.

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Fonte: Jornal da Paraíba

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