Siga @radiopiranhas
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrentou nesta terça-feira (21) mais um momento de desgaste público ao ser vaiado em pelo menos três ocasiões durante sua participação na Marcha dos Prefeitos, evento anual realizado em Brasília. As manifestações negativas começaram antes mesmo de o presidente subir ao palco e se repetiram no início e no encerramento de seu discurso, contrastando com os momentos de aplausos pontuais registrados na plateia. Foi a segunda vez consecutiva que Lula foi hostilizado no encontro desde que retornou ao Planalto, em 2023.
Apesar das tentativas de contenção por parte de alguns ministros presentes, que esboçaram reações para silenciar os protestos, Lula optou por ignorar as vaias. Durante sua fala, não fez menção direta aos gritos nem alterou o tom, encerrando o discurso com agradecimentos — mesmo sob novo coro de desaprovação.
A marcha, organizada pela Confederação Nacional dos Municípios (CNM), é o maior encontro de prefeitos do país, e nesta edição bateu recorde de participação: mais de 14 mil inscritos, quase três vezes o número de cidades brasileiras (5.570). A dimensão do evento reforça o peso simbólico do constrangimento enfrentado pelo presidente.
Se a recepção da plateia foi fria, a do presidente da CNM, Paulo Ziulkoski, foi abertamente crítica. Ziulkoski, que já foi prefeito de Mariana Pimentel (RS) e teve passagem próxima ao governo Bolsonaro, cobrou ações concretas do governo federal. “Abra o olho. Vamos votar pautas estruturantes”, disse, em tom de advertência. Entre as reclamações, destacou-se o incômodo com a decisão do STF que exige transparência na distribuição de emendas parlamentares. Para ele, a exigência de justificativa pública por parte dos deputados seria um entrave.
Lula, por sua vez, respondeu de forma velada, criticando o retorno do “velho Paulo Ziulkoski”, agora com um “discurso mais contundente”, como se dissesse: o tempo da cordialidade passou. Sem citar o alinhamento prévio de Ziulkoski com o bolsonarismo, Lula deixou claro o desconforto, mas preferiu não escalar o conflito.
O presidente aproveitou o discurso para fazer um gesto político em defesa do ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, em meio à crise gerada pela recente viagem da primeira-dama Janja da Silva à China. Costa foi citado como suposto responsável por vazar informações sobre o episódio, o que teria irritado o presidente. Em resposta, Lula o exaltou como “o mais bem-sucedido governador da Bahia” e elogiou seu papel articulador no governo, tentando demonstrar alinhamento e contenção de danos dentro da Esplanada.
Ao lado do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), do presidente do Senado Davi Alcolumbre (União-AP) e do presidente da Comissão de Orçamento, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), Lula tentou reforçar a imagem de um governo funcional e disposto ao diálogo federativo. Mas o saldo do encontro foi, mais uma vez, marcado pela tensão entre Planalto e prefeitos, com as vaias funcionando como um termômetro político de insatisfação no campo municipal.

source
Fonte : Hora Brasilia