Órigo levanta R$ 500 milhões do Santander para “alugar” energia solar

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Um estudo da consultoria Greener mostra que o mercado brasileiro de geração solar fotovoltaica movimentou mais de R$ 14,5 bilhões em investimentos entre março de 2024 e fevereiro de 2025. Embora esse mercado esteja passando por uma crise em razão do curtailment, a Órigo não reduziu a energia dos investimentos.

A companhia que atua no setor de geração distribuída de energia solar realizou a emissão de R$ 500 milhões em notas comerciais, em uma operação financeira liderada pelo banco Santander. Os recursos serão utilizados para a construção de 149 fazendas solares em 12 estados do Brasil, com potência instalada de 198 MWp (megawatt pico, uma unidade de medida da potência usada especificamente para sistemas fotovoltaicos).

“Com esses recursos, vamos avançar muito o nosso projeto de ampliação do formato que garante os benefícios da energia solar, sem que o cliente precise investir em infraestrutura”, diz Eduardo Bechara, CFO da Órigo, em entrevista ao NeoFeed.

Pelo modelo, o consumidor deixa de receber a energia elétrica a partir da concessionária que atende sua área para “alugar” uma fração da energia gerada a partir das fazendas solares da Órigo – desde que estejam conectadas com a distribuidora. Em média, o custo é de 10% a 15% inferior ao valor cobrado na conta de luz tradicional. E a companhia ganha com essa contratação.

A empresa, que no ano passado registrou receita de R$ 416,5 milhões, estima que o volume de energia renovável a partir das fazendas solares terá capacidade para atender 258 mil residências e gerar aos clientes R$ 43 milhões de economia ao ano. Também vai evitar a emissão de 111 mil toneladas de CO². Hoje, a companhia tem 91 mil unidades consumidoras no País, formadas, principalmente, por pessoas físicas e pequenas e médias empresas.

Sem levar em conta essa expansão, a Órigo, que foi criada em 2010, já tem uma capacidade total de 580 MWp. O plano desenhado a partir dos recursos obtidos via Santander integra um pacote que garantirá, até o fim de 2027, uma capacidade de 2 GW (gigawatts), o que vai representar um aumento de quase quatro vezes o volume atual da companhia.

O montante via Santander se soma ao volume de R$ 1,2 bilhão obtidos por empréstimo bancário nos últimos 10 meses, além do aporte de R$ 1,5 bilhão alocados pelos sócios da companhia. “Construímos as fazendas com o dinheiro combinado dos acionistas com o que a gente capta no mercado”, diz Bechara.

Em janeiro de 2024, a americana I Square Capital, uma das principais gestoras de private equity de infraestrutura do mundo, com US$ 45 bilhões de ativos sob gestão, adquiriu 49% de participação da Órigo, com aporte de US$ 400 milhões usados justamente para garantir a ampliação da companhia.

“Desde essa virada de chave, conseguimos ter acesso a um capital relevante para desenvolver os projetos de fazendas solares”, afirma o CFO.

Os R$ 500 milhões da captação com o Santander representam o equivalente a 70% do montante necessário para a construção das 149 fazendas, que deve chegar a R$ 715 milhões. Os demais 30% (R$ 215 milhões) virão de recursos dos acionistas.

O movimento da Órigo atende a uma demanda crescente por energia solar no Brasil, em um setor que tem previsão de aportes de R$ 254,8 bilhões em novos investimentos. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), a fonte solar tem hoje uma capacidade instalada de 55,7 GW, alta de 4,8% sobre o volume de 2024 (53,2 GW). Para se ter uma ideia dessa evolução, em 2023, a fonte de energia solar gerava 37,9 GW, 32% a menos do índice projetado para 2025.

Do volume total da matriz elétrica brasileira, a energia solar ocupa a segunda posição, com 22,5% de participação, atrás da hídrica, que responde a 44,3% do total (110 GW), e à frente da energia eólica, responsável por 13,4% (33,2 GW).

Longo prazo

No formato desenhado pelo Santander, que é um modelo de empréstimo-ponte, a companhia terá um prazo de três anos para a liquidação, antes da emissão de uma dívida maior. É uma solução de financiamento temporário para permitir que a companhia consiga viabilizar a construção do projeto, com o dinheiro sendo liberado a partir de etapas comprovadas.

Igor Fonseca, do Santander, e Eduardo Bechara, da Órigo
Igor Fonseca, do Santander, e Eduardo Bechara, da Órigo

“Se a Órigo tivesse ido a mercado para contratar agora uma dívida de longo prazo, ela iria travar em uma taxa de juros bem elevada e de difícil refinanciamento no futuro”, diz Igor Fonseca, head de project finance do Santander. “Em um momento com a taxa de juros que estamos enfrentando, a estratégia adotada é a mais interessante.”

O CFO da Órigo entende que, com o período de 36 meses da emissão das notas comerciais, o mercado pode se acomodar. “Outro ponto importante é que, no momento em que fizermos a dívida com o prazo maior, o projeto já estará em operação, o que diminui a percepção de risco. Isso vai significar, mais à frente, uma taxa menor.”

Na prática, é um empréstimo de construção para a companhia de geração distribuída de energia. A partir do novo financiamento, provavelmente por meio de debêntures de infraestrutura, com período que ainda vai ser definido, o próprio fluxo de caixa deve assegurar o pagamento da dívida.

Em média, uma fazenda solar é construída em três meses. Hoje, a companhia tem, simultaneamente, cerca de 50 fazendas solares em construção, o que representa um aumento de 57 MWp. Cada 1 MWp de capacidade ocupa dois hectares. Como as fazendas têm, em média, 3 MWp, elas ocupam um espaço de aproximadamente seis hectares (60 mil m²).

No volume global de recursos liberados pelo Santander em financiamentos ligados a projetos sustentáveis, o Brasil ocupa uma posição no top 5. “Em 2018, o banco se comprometeu com a meta de mobilizar € 120 bilhões até 2025. Ela foi cumprida um ano antes e hoje já estamos em € 139 bilhões”, diz Fonseca. Até 2030, a meta é chegar a € 220 bilhões.

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Neofeed

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