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Aos 62 anos, o americano Brad Liebmann tem Londres como sua morada. Mas, desde 2018, o Brasil é a sua segunda casa. Foi nesse ano que o empreendedor escolheu o País para fundar o alt.bank, fintech centrada em clientes das classes C, D e E, muitos deles trabalhadores informais e desbancarizados.
A partir dessa tese, a startup investiu boa parte das suas fichas no Novücard, cartão de crédito lançado no fim de 2022. E que, entre outros recursos, traz como proposta oferecer limites mais elevados que a média do mercado para esse público.
Após alcançar 87 mil clientes, o alt.bank vai começar a explorar um novo destino para ampliar sua escala: o B2B. E para ganhar tração nessa avenida, o atalho é um motor de crédito desenvolvido internamente e que passará a ser ofertado a outras fintechs e instituições financeiras.
“Essa é uma oferta-chave para nós, porque podemos alcançar mais pessoas e mais rapidamente”, diz Liebmann, fundador e CEO do alt.bank, ao NeoFeed. “Só existem outros dois players com algo próximo do que temos: Nubank e Itaú. E eles são incumbentes e não estão vendendo o seu motor de crédito.”
Se o Nubank, um nome recorrente na conversa, fez fama a partir do seu cartão roxo, o alt.bank deposita sua confiança para avançar nesse novo espaço no Guard, o motor de crédito por trás justamente do Novücard, o cartão da fintech, apelidado de “amarelinho”.
“Nós temos uma base pequena de clientes, mas é tudo o que precisamos. Usamos ela como um laboratório para refinar o Guard”, afirma Liebmann. “Há seis meses, ele não era o mais preciso e tão bom quanto o Nubank. Mas, agora, é melhor.”
Em “teste” há cerca de 30 meses, o Guard combina informações de birôs de crédito como Serasa Experian e Equifax com mais de dez fontes. Entre elas, o histórico de consumo e de pagamentos dos usuários e dados de comportamento dos consumidores por meio de smartphones e na esfera digital.
A partir desse pacote, a fintech cria perfis de clientes com rendas similares para testar e calibrar diferentes limites de crédito, com o apoio de modelos treinados de inteligência artificial e machine learning. E com uma diferença em relação a boa parte dos seus pares: o foco nas classes C, D e E.
“Nubank e Itaú tem ótimos motores, mas são muito bons nas classes A e B. No perfil que nós focamos, eles tendem a ser muito conservadores”, diz. “Então, geralmente, o nosso score, caso o cliente tenha um bom perfil, vai recomendar um limite maior do que o Nubank ou qualquer um dos grandes bancos.”
Ele recorre a alguns dados do Novücard para ressaltar que a oferta de crédito em maior escala para esse público não foi feita às custas dos resultados da operação. A fintech acumula, por exemplo, nove trimestres consecutivos de queda na inadimplência, que, hoje, na faixa de mais de 90 dias, está em 4%.
Em outro número, a receita média mensal por cliente ativo do cartão está em US$ 11,74. Para efeito de comparação, no quarto trimestre de 2024, o Nubank registrou um crescimento de 23% nessa linha, para US$ 10,70.
Com uma receita recorrente anual de US$ 8,4 milhões, a startup registrou um crescimento de 140% em sua receita e uma margem bruta consolidada de 53% em 2024. E já opera com uma geração de caixa operacional positiva desde o início deste ano.
Para seguir evoluindo nesses números, a oferta no B2B já conta com 10 empresas emissoras – que representam mais de 50% do volume de cartões no Brasil – testando o Guard, em diferentes estágios. Além de uma companhia de médio porte do setor com um contrato de longo prazo assinado.
“O Nubank levou 12 anos para alcançar um market share de 13% e gastou centenas de milhões de dólares para isso”, diz Liebmann. “Nós podemos obter uma participação de 50%, mesmo que indiretamente, apenas fechando com essas empresas que estão testando o Guard atualmente.”

Com um mercado endereçável que, em sua visão, inclui cerca de 60 milhões de consumidores que já detêm um cartão de crédito e outros 90 milhões ainda sem acesso a esse produto, Liebmann observa que o alt.bank já tem novos passos desenhados para abocanhar uma parcela relevante do segmento.
Isso vai envolver a adaptação do Guard e a expansão da oferta para empresas que ofereçam outras modalidades de crédito, como os empréstimos consignados, o financiamento de veículos e o crédito imobiliário.
Em paralelo, a aposta no B2B passa ainda pela oferta no formato de white label do cartão e do aplicativo do Novübank para empresas de outros setores que queiram ter um cartão de crédito com sua própria marca. No momento, duas empresas – de nomes não revelados – já estão em fase de adoção da solução.
Para financiar esses movimentos, a fintech negocia o complemento de sua rodada Série B, na qual planeja levantar entre US$ 5 milhões e US$ 10 milhões. Até aqui, a startup captou um total de US$ 38 milhões junto a gestoras como a Union Ventures, que já investiu em empresas como Twitter e Coinbase.
Da “aposentadoria” ao Brasil
Uma boa parcela desses recursos veio do próprio bolso de Liebmann, um veterano do mercado financeiro que começou sua carreira em Wall Street, onde teve uma passagem de oito anos pelo Lehman Brothers, assessorando M&As na área de tecnologia.
Em 2000, “picado”, como gosta de dizer, pelo bicho do empreendedorismo, ele deixou o banco – e os Estados Unidos – para fundar, na Inglaterra, a Simply Business. Sete anos depois, a insurtech foi vendida para a gigante americana de seguros Travelers, por US$ 480 milhões.
Com a conta bancária bastante reforçada pelo acordo, Liebmann decidiu se aposentar. Na época, ele se mudou para Santa Lúcia, uma pequena ilha no Caribe. Entretanto, em pouco tempo, ficou “completamente entediado” e decidiu voltar a empreender. Mas com dois critérios em mente.
“O primeiro, é que fosse uma grande oportunidade em fintech”, conta. “E, o segundo, algo com um forte propósito social, o que minha última empresa não tinha. Então, para fazer isso, eu entendi que precisaria ir para um país de média renda.”
Dos 26 países selecionados inicialmente, seu filtro se restringiu, na sequência, a quatro mercados: Indonésia, Filipinas, México e Brasil, o último a ser visitado por ele. E o que mais lhe chamou a atenção. Seja pelo tamanho do mercado ou pelas taxas de juros astronômicas.
“Foi então que eu pensei: é aqui que podemos causar um impacto real, especialmente com pessoas que não estão empregadas formalmente”, diz. “Essas pessoas têm dificuldade em obter crédito e esse é um problema que, com um pouco de ciência de dados, nós podemos resolver.”
Passados sete anos desde então, Liebmann não se arrepende da sua escolha. E, com ao menos duas visitas mensais ao Brasil nesse intervalo, ele já acumula um saldo muito mais amplo de percepções sobre o País.
“Os americanos tendem a pintar a América Latina com um pincel único. Mas a região é muito diferente, em especial, o Brasil”, diz. “O brasileiro tem a mente muito mais aberta. Não importa a favela, os comerciantes sempre têm duas maquininhas. E uma terceira para testar se o novo fornecedor é melhor.”
Como parte dessa experimentação, Liebmann, que ainda domina poucas palavras em português, enxerga boas perspectivas para ampliar o sotaque local na operação do alt.bank. Em particular, no captable da fintech.
“Infelizmente, ainda não temos um investidor brasileiro, até mesmo porque muitos dos bons nomes locais já estavam com o Nubank, o Neon e outros players”, afirma. “Mas espero que com a nossa nova rodada tenhamos alguns deles chegando.”
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Neofeed