O Meeting Paralímpico de Florianópolis reuniu 590 esportistas de alto rendimento e jovens promessas no Centro de Desportos (CDS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) ao longo do último final de semana, 12 e 13 de abril. Entre os destaques dos dois dias do evento, esteve a emoção da primeira competição de duas irmãs gêmeas catarinenses, atletas superando suas marcas pessoais e um duelo vencido por cerca de um décimo de diferença por um vice-campeão mundial.
A competição foi organizada pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB). Dos atletas inscritos, 454 estiveram no atletismo, 115 na natação e 27 na bocha. As provas foram válidas tanto para o alto rendimento quanto para as Seletivas Estaduais das Paralimpíadas Escolares, das Paralimpíadas Universitárias e dos Intercentros (disputa entre alunos dos Centros de Referência do CPB, com idade de 7 a 10 anos).
Primeira medalha de gêmeas

As irmãs Ana Luiza (à esquerda) e Ana Júlia Macário Rosa participaram de provas de atletismo no Meeting Paralímpico Loterias Caixa de Florianópolis. Foto: Miriam Jeske/CPB
Foi nesse cenário que Ana Júlia Macário Rosa, de 13 anos, conquistou seu primeiro ouro da vida, no sábado, dia 12, na prova dos 100m da classe T36 (paralisia cerebral). A alegria da atleta foi tanta que o choro contagiou a irmã gêmea, Ana Luiza.
“É muita felicidade. Foi difícil. Mas eu provei que, quando a gente se esforça bastante, consegue”, disse a atleta, que ainda venceu as provas de lançamento de dardo e de disco, ambas na classe F36 (paralisia cerebral).
Mais tarde, Ana Luiza também recebeu uma medalha de ouro, nos 100m da classe T34. “Eu sabia que uma de nós duas iria ganhar uma medalha e fiquei muito contente com nosso resultado. Deu um pouco de nervoso, misturado com muita emoção. Fiquei com medo de minhas oponentes, que eram muito rápidas. Mas meu objetivo era não deixar que minha cadeira escapasse da raia, e consegui. Fiquei com vontade de treinar mais e ir ainda melhor nas próximas”, comentou.
As duas começaram a treinar há cerca de um ano, por iniciativa da mãe, Alessandra Macário, que percebeu que as meninas ficavam muito tempo em casa e também não gostavam das aulas de Educação Física na escola, por terem poucas atividades adaptadas para elas. Agora, as gêmeas, que treinam no Centro de Desportos da UFSC, um dos Centros de Referência do CPB, praticam esporte diariamente, incluindo também aulas de natação.
“O esporte é muito bom para elas. Decidi que, para que elas pudessem fazer mais atividades, eu passaria a ficar o dia todo com elas, porque isso é muito importante”, contou a mãe.
Os Centros de Referência fazem parte do Plano Estratégico do Comitê Paralímpico Brasileiro, elaborado em 2017 e revisado em 2021. Funcionam por meio de parcerias com universidades, centros de reabilitação, bem como com secretarias municipais e estaduais, e têm como objetivo aproveitar espaços esportivos em todos os estados do país para oferecer modalidades paralímpicas, desde a iniciação até o alto rendimento.
Melhor marca da vida na natação
O Meeting Paralímpico também recebeu, em seu primeiro dia, a estreia na temporada de 2025 de atletas da natação que buscam qualificação para participar pela primeira vez de um Campeonato Mundial – no caso, a edição de Singapura, de 21 a 27 de setembro.
O nadador catarinense Isaac Lorenzo de Jesus registrou sua melhor marca pessoal nos 400m livre, sua prova favorita, completando o percurso em 5min14s79. No ano passado, o atleta foi o primeiro colocado no ranking nacional da classe S7 (limitação físico-motora), com o tempo de 5min16s98.
“Foi uma prova muito boa. Tinha minha família aqui: pais, mãe, namorada, tios, primos, todos gritando, o que me ajudou muito. Agora quero diminuir mais uns cinco segundos para buscar minha qualificação ao Campeonato Mundial de Singapura. Nas próximas competições, vou dar atenção à fase de polimento, quando damos uma soltada no corpo nos últimos dias visando um bom resultado, e trabalhar mais nas minhas viradas”, disse o atleta, que tem mielomeningocele, uma má-formação na medula, e representa o clube Aflodef.
O nadador da classe S10 (limitação físico-motora) Nicolas da Fonseca, de Criciúma, aproveitou o Meeting Paralímpico para se testar em um programa extenso, com sete provas. Só na manhã de sábado foram três ouros: 100m livre (1min01s01), 100m costas (1min13s04) e 400m livre (5min07s02).
“Fiz um programa de provas muito grande para entender como meu corpo reage, mas as minhas principais são os 100m borboleta e os 200m medley, e estou adicionando os 100m peito ao meu programa principal. Gostei muito do meu resultado, estou conseguindo manter meus tempos logo na primeira competição do ano”, disse o atleta, do clube Sociedade Recreativa Manpituba.
Em 2024, Nicolas obteve três medalhas na Gymnasiade, os Jogos Mundiais do Desporto Escolar, em outubro, no Bahrein (ouro nos 200m medley e prata nos 50m borboleta e 50m livre), e recebeu convocações para uma semana de treinamento com a Seleção sub-20. “Agora, meu objetivo é alcançar os índices necessários para chegar ao Mundial de Singapura”, afirmou. O atleta começou na natação em 2016 e tem amputação na perna esquerda em decorrência de um atropelamento que sofreu aos dois anos.
Disputa apertada

José Alexandre da Costa (o terceiro da esquerda para a direita), em ação durante o Meeting Paralímpico de Florianópolis. Foto: Miriam Jeske/CPB
No domingo, 13, um dos destaques foi a prova dos 100m da classe T47 (limitações em membros superiores), que teve como atração um duelo vencido por cerca de um décimo de diferença na prova dos 100m, entre os catarinenses José Alexandre da Costa, medalhista de prata nesta distância no Mundial de Paris 2023, e Matheus do Amaral, ambos de 21 anos.
A vitória de José Alexandre, do clube Apesblu, foi conquistada com tempo de 11s09. Matheus, que chegou a cair no final da prova buscando aproximação, terminou com 11s20.
Segundo colocado na pista, Matheus contou que compete ao lado de José Alexandre desde 2017, quando ambos começavam no esporte. O atleta, morador da cidade de Balneário Camboriú, disse gostar de estar em uma classe com adversários fortes, incluindo também o paraibano Petrúcio Ferreira, tricampeão paralímpico e recordista mundial na distância. “Eu acho demais estar competindo em uma classe tão forte, que sempre me desafia. Se fosse fácil, talvez eu não estivesse aqui. Quanto mais difícil alcançar meus adversários, mais eu tenho que me dedicar”, afirmou o atleta.
Matheus, que representou a Univali Itajaí nas Paralimpíadas Universitárias neste domingo, já fez parte de semanas de treinamento para a Seleção Brasileira de jovens e contou esperar conseguir um dia ainda representar o Brasil internacionalmente. “Sonho em um dia também representar nosso Brasil. Acredito que deste ano em diante posso conseguir, apesar de ter uma rotina pesada, com treino, trabalho e estudo na faculdade de fisioterapia”, disse.
O desejo de Matheus é incentivado pelo adversário e amigo. “É muito bom ter mais atletas fortes. Temos uma rivalidade boa dentro da pista, mas fora dela somos amigos, trocamos ideias e nos respeitamos muito. Fico muito feliz de incentivar a galera da nossa classe no meu estado. Como nós começamos quase juntos, eu pegar Seleção vira um incentivo para ele buscar cada vez mais. E, se tenho certeza de que um dia vamos para os Jogos Paralímpicos juntos”, afirmou.
Para os dois atletas, eventos como o Meeting fortalecem o Movimento Paralímpico no estado. “São competições assim que fortalecem nossa confiança. Podemos correr forte aqui e saber que vamos chegar bem nas competições nacionais”, afirmou José Alexandre.
Recuperação
Além da prova dos 100m do Meeting Paralímpico, José Alexandre também correu a distância dos 100m na véspera, também na UFSC, em prova válida pelo Desafio Brasil de Atletismo, organizado pelo CPB e pela Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt).
O catarinense, que teve uma lesão na área posterior da coxa em 2024 responsável por afastá-lo da busca por vaga para os Jogos Paralímpicos de Paris 2024, encerrou a prova em 10s96. Ele comemorou ter conseguido correr abaixo dos 11 segundos novamente. Em dezembro, no Campeonato Brasileiro disputado no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo, ele terminou o percurso em 11s41, na quinta colocação.
“Para mim, foi muito importante competir no Meeting e no Desafio Brasil. Estar aqui e terminar a prova sem desconforto nenhum já é uma vitória. Sei que estou bem de saúde, forte e agora recuperei minha confiança, que eu tinha perdido depois da lesão. Voltar a correr depois de tanto tempo parece aprender a andar outra vez”, afirmou.
O Meeting Paralímpico é organizado pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) e tem o objetivo de desenvolver o paradesporto em todo o território nacional, com a participação de novos talentos e atletas de elite. É realizado desde 2021, como uma atualização dos tradicionais Circuitos Loterias Caixa, que aconteciam desde 2005. Entre abril e agosto deste ano, o evento passará por todos os estados e pelo Distrito Federal. No último fim de semana, teve etapas em Porto Alegre (RS) e Rio Branco (AC). O CPB também realizou no último final de semana, uma etapa do Meeting Paralímpico em Porto Velho (RO), com disputas de atletismo e bocha. As próximas etapas do evento vão acontecer em Curitiba (PR) e Cuiabá (MT), no dia 3 de maio.