Para Esteves, Brasil já passou por momentos piores e Trump, um homem de negócios, não quer guerra

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O fundador e chairman do BTG Pactual, André Esteves, tem mostrado nos últimos tempos posições contrárias em relação a economistas e analistas políticos em alguns temas que, num primeiro momento, parecem ter opiniões praticamente consensuais.

Um deles tem a ver com a situação econômica do Brasil. Enquanto seus colegas de mercado estão pessimistas quanto aos rumos do País, especialmente a respeito da situação fiscal e da trajetória da dívida pública, Esteves mostra um pouco mais de comedimento nas críticas.

Em participação num painel do evento CEO Conference 2025, promovido pelo BTG Pactual, na terça-feira, 25 de fevereiro, Esteves disse que o momento do Brasil é complexo, mas que o País não vive uma situação desesperadora como no passado, não antevendo uma crise aguda.

Ele citou como exemplo a situação da inflação, que apesar de alta não está fora de controle. “Não estamos numa situação em que os mercados precificam uma inflação de 5%, depois de 6%, 10% ou 15%. Não estamos vendo isso nos preços”, afirmou.

Esteves reconheceu que existe um descompasso entre a política fiscal e monetária, recorrendo ao exemplo de dirigir um carro com um pé no acelerador e outro no freio, mas não vê a situação fugindo do controle, afirmando que o arcabouço fiscal acabou cumprido no ano passado.

Questionado sobre medidas parafiscais, apontadas por muitos economistas e gestores como fator que está superaquecendo a economia, o chairman do BTG Pactual afirmou que elas ainda são relativamente pequenas comparado ao que já foram, quando o BNDES emprestava na mesma proporção que o Banco Mundial. “Não acho que a gente esteja nisso, não acho que estamos perto disso. A economia se privatizou e a governança de várias entidades melhorou”, disse.

Apesar disso, ele afirmou que o governo não dá as melhores sinalizações quando anuncia mais gastos, como no programa Pé-de-Meia e na possibilidade da edição de uma Medida Provisória (MP) para liberar o FGTS de quem tem saque-aniversário. “O gesto é errado em termos de credibilidade, mas é imaterial [em termos de gastos]”, disse.

Essa postura de contrariar as ideias dominantes foi vista também quando o assunto foi geopolítica e o governo do presidente Donald Trump.

Para Esteves, Trump é um “pacote complexo”. Ele reconheceu que o presidente americano representa um risco para o sistema multilateral, ao se afastar de seus parceiros europeus e quebrar com um modelo que foi muito positivo para os Estados Unidos. E destacou que uma guerra comercial com a China seria muito prejudicial ao país, considerando a profunda conexão entre as duas economias.

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André Esteves durante participação no CEO Conference 2025

No entanto, Esteves disse que o fato de Trump ser um homem de negócios pode ajudar a evitar conflitos no mundo. “Trump é business man e ele não gosta de guerra, porque é ruim para os negócios. Ele será melhor para os conflitos, apesar do jeito abrasivo e imprevisível”, afirmou.

Ele afirmou ainda que Trump traz algumas verdades inconvenientes que fazem sentido, como o fato de o TikTok poder ter operado livremente nos Estados Unidos, enquanto o WhatsApp não pode na China, ou o fato de o país ter pago para defender a Europa e a Alemanha decidir ficar dependente do gás da Rússia.

Para Esteves, Trump tem um estilo de governar que “causa um pouco de confusão, ainda que tenha tido certo sucesso” num primeiro momento e que há ainda muito verborragia, duvidando que o presidente americano coloque em prática tudo o que defendeu na campanha, sobretudo na parte das tarifas.

“Pode ser que venha uma nova ordem ou nada”, disse. “A verdade é que trump passou quatro anos no governo e não aconteceu nada.”

Embora não creia numa guerra comercial aberta com a China, Esteves disse que uma situação como essa não teria consequências ruins para o Brasil, uma vez que o País é visto como fundamental para a segurança alimentar global.

O fato de o Brasil ser um exportador de commodities e ter déficit com os Estados Unidos desde 2009 tira o País do radar de Trump, segundo o chairman do BTG Pactual. “O Brasil, mesmo num mundo dividido ou unido, se não fizer bobagem, navega numa boa”, afirmou.

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Neofeed

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