A Apan comemorou demais (ao menos nas redes sociais) a permanência na elite do vôlei masculino.
Pela sexta temporada seguida.

10º lugar.
6 pontos à frente do Monte Carmelo MG.
16 a mais do que o América Montes Claros MG.
Ambos, rebaixados.

Blumenau sempre comemorou classificações para fases decisivas, acessos, títulos.
Mas os tempos são outros.
Bem como a forma e a fórmula de se fazer esporte.
Que impactam diretamente no orçamento.
E na formação de elencos modestos, porém competitivos.

Que geralmente lutam por metas básicas.
Não menos importantes.
Diria que essenciais para a manutenção e estabilidade dos projetos.
Embora ninguém queira ter seu nome associado a um time coadjuvante.

A queda para uma segunda divisão é um problemão.
Redunda na redução de receita.
Com patrocinadores.
Com sócios.
Com torcedores.

É um retrocesso.
Pois tudo fica mais difícil.

Todo recomeço é complicado.
Cheio de incertezas.
Que já são enfrentadas pelo Bluvôlei após a queda para a Série B.

Mesmo com os salários atrasados, o grupo montado para a Superliga viveu momentos de protagonismo.
Muito porque Rogério Portella, contando com a promessa do repasse de R$ 1,5 milhão prometido (e ainda não pagos) pela Fesporte, trouxe atletas de sua confiança, com muita bagagem.

Ficarei em quatro exemplos.
Ana Cristina.
Levantadora.
Seu último clube foi o Sesc/Flamengo.
Passou por Osasco SP, Pinheiros SP, Sesi/Bauru SP…
Jogou na Suíça.
Foi bicampeã da Superliga pelo Finasa/Osasco (2003/2004-2004/2005).
Idade: 41 anos.

Edna.
Central.
Começou no Bluvôlei.
Jogou em mais 10 equipes.
Entre elas, Rexona RJ (Sesc/Flamengo), Pinheiros SP e Brasília DF.
Atuou na Eslováquia.
Idade: 40 anos.

Natasha.
Central.
10 clubes no currículo.
O último, antes do Bluvôlei, foi o Benfica de Portugal.
Defendeu ainda Taubaté e Osasco SP, Fluminense RJ, Minas MG.
Bicampeã da Superliga por Flamengo RJ (2013/2014) e Praia Clube MG (2017/2018).
Idade: 38 anos.

Mariana Cassemiro.
Ponteira.
14 clubes na bagagem.
Só começou no Fiat/Minas MG.
Jogou em seis países: Itália, Polônia, Suíça, Croácia, Turquia, Espanha.
Idade: 37 anos.

O que elas têm em comum?
Trajetórias brilhantes e o iminente fim de suas carreiras.
Todas, é verdade, ainda têm condições de jogar.
Porém, não mais em alto nível.
Outra semelhança: conviveram com lesões.
E isso atrapalhou demais o rendimento do time.
Ninguém sabe o que vai acontecer.
Mas dificilmente o clube terá condições de mantê-las ou convencê-las a ficar, depois do que enfrentaram.

Edna, é um caso à parte, porque é casada com o treinador.
Que também se destacou.
Deve receber proposta.
Tem mercado.

Assim como outras atletas.
Como Geovanna.
Que arrebentou na competição!
Mesmo com apenas 21 anos de idade.
A ponteira que começou na Associação de Vôlei do Guarujá SP, subiu e caiu com o Brusque nas temporadas 2021/2022-2023/2024.
Antes, havia defendido o Mampituba de Criciúma, 6º colocado no campeonato estadual.

Um processo natural, inevitável, universal.
Quem se destaca vai embora.
Sempre foi assim – só acredito que a partir de agora, a frequência de evasões vai aumentar.

Aconteceu com Franco.
O homem voou na temporada 2020/2021 e Guarulhos chamou.
O próprio Lucas Fonseca, que aparece ao seu lado na foto acima, junto com Evandro, foi chamado para jogar no Vôlei Renata/Campinas SP – este ano defendeu o Suzano SP.

Glenda do basquete vai pelo mesmo caminho.
A ala/pivô paraense de 30 anos, contratada junto ao Santo André SP, está comendo a bola na Liga Nacional.
Simplesmente a MVP (melhor em quadra) nas cinco vitórias de Blumenau nos 10 jogos do turno.
Isso também serve para os treinadores.

Vou sempre defender gente da casa.

Só que é bem mais prático e cômodo manter um profissional da cidade (ou que está aqui já faz um tempo).
Que trabalha como professor em escolas particulares.
E não vai exigir tanto dos dirigentes.

De qualquer maneira se já é difícil manter uma estrutura na Série A, imagina na segunda divisão.
Um bom exemplo é o basquete masculino.
Que está estagnado no Campeonato Brasileiro.

Este ano tem uma vitória (67 x 62) contra a Liga Sorocabana SP, no Galegão.
E duas derrotas.
Para Brusque (59 x 69) na Arena.
E Santos (72 x 86) no Ipiranga.

É por isso que o futsal ficou em uma posição delicada após a mudança de regulamento.
Agora os quatro últimos colocados, na soma dos pontos das duas últimas edições, vão disputar a Série B, a partir de 2025.

Mesmo com a compra da franquia.
Que salvou a equipe do descenso quatro vezes.

A melhor participação foi na estreia, em 2018, com o 11º lugar (caiu nas oitavas de final para o Copagril de Marechal Cândido Rondon PR).

Na atual competição, após três derrotas, está em 23º lugar, na frente de Brasília DF.

Fazendo as contas dos dois últimos anos, é preciso tirar 9 pontos do 20º colocado, São Lourenço SC.
Que na soma tem 22 pontos (13 + 9).
21º Esporte Futuro/Toledo PR: 21 (20 + 1).
22º Taubaté SP: 16 (13 + 3).
23º Blumenau: 13 (13 + 0).
24º Brasília DF: 11 (11 + 0).

O time terá nos próximos cinco jogos uma sequência com apenas um rival direto.
O Esporte Futuro.
O jogo será no Paraná, dia 26.
Antes, enfrenta no Sesi o Tubarão, que no total tem 40 pontos (38 + 2).
A tabela completa está aqui.

A direção, mais uma vez com orçamento enxuto, manteve apenas quatro atletas (Kelvin, Diogo, Kaio e Passamani, que se recupera de nova lesão), além do técnico Juninho.
Trouxe de volta o ala Gamarra e contratou outros 9 jogadores.
Desconhecidos.
Baratos.
Mas com fome, com vontade de mostrar serviço.
Só isso, contudo, não basta.

É o que dá para fazer.
Juninho agora.
Antes, Xande Melo, Paulinho Cardoso, Egídio Beckhauser, André Deitos, que comanda o Sub 20…
Todos enfrentaram o mesmo problema: a disparidade de orçamentos e estruturas.
Não dá para fazer mágica.

Dar uma peitada, trazer um medalhão até dá.
Mas quem vai pagar?
Como fica o salário dos que estão aqui?
A renda dos dois jogos ajudou demais.
Contudo, não é o suficiente para “bater de frente”.
A propósito, Sesi cheio, contra Carlos Barbosa RS, e especialmente Sorocaba SP, com 2.320 expectadores.

Por conta das estrelas.
Como Rodrigo.

Leandro Lino.

Elisandro.

Um bom termômetro vai ser a partida diante de Tubarão.

É uma regra.

Vale para todas as modalidades.

Em qualquer evento.

Os maiores públicos do vôlei foram registrados contra equipes de camisa pesada e com atletas (Thaisa do Minas e Wallace do Cruzeiro) e até treinadores (Bernardinho do Flamengo) badalados.

Tem esporte que mesmo trazendo gente de ponta não motiva o público.
É o caso do basquete feminino.
Vira e mexe, o BFB contrata alguém com currículo de peso, com passagem pela seleção.
Desta vez trouxe duas gringas.
Uma norte-americana (que está machucada).

E uma colombiana.

São oito anos seguidos na elite.
No momento, faz uma bela campanha de recuperação.
7º lugar (11 participantes).
Com só quatro pontos a menos do que o líder Sampaio MA.
E três atrás do Sesi/Araraquara SP.
Seu próximo adversário, dia 19, no Galegão.
Oponentes com muito mais bala na agulha.

Mesmo assim, não sensibiliza o blumenauense.
O máximo que conseguiu até hoje foi colocar 800 pessoas em uma semifinal contra Campinas em 2018.
Ultimamente tem aberto o ginásio (e cobrado apenas R$ 10 no ingresso) para 100, 150, 200 pessoas.
Dureza.

Situação mais delicada vive o handebol feminino.
No auge, quando foi pentacampeão da Copa Brasil e seis vezes vice-campeão da Liga Nacional, com apoio, com jogadoras formadas em casa, cascudas, algumas rodadas, mobilizou a cidade.
Muitos foram acompanhar a modalidade no Sesi (até torcida organizada de futebol).
O time só não atraiu mais adeptos porque não podia jogar no Galegão.

Hoje vive com o pires na mão (assim como o time masculino) com um orçamento minguado.
E a tendência é piorar.
O técnico Sérgio Graciano está se aposentando pela Secretaria Municipal de Educação – que paga seu salário.
São 37 anos dedicados ao handebol.

Quer continuar.
Mas já disse que por mais que ame o projeto, não vai trabalhar de graça.
E ex-goleira e também professora Josiane Hellmann (Josinha) já está de prontidão.

O paranaense, que veio de Curitiba em 1987 para ser goleiro, que já foi técnico da seleção brasileira, abriu a boca essa semana na Imprensa (ao menos onde teve espaço como no quadro de esportes da NDTV).
Por meio de uma carta da Associação das Modalidades Esportivas, da qual é presidente, falou sobre os atrasos, desde janeiro, do Programa Bolsa Desportista.
Seu temor (de todos) é o cogitado corte de 12% no orçamento da Secretaria Municipal de Esportes (SME).

Agora presidida (pela terceira vez) por Sérgio Galdino do PSDB.
Que exercia a função de professor técnico na gerência de Esporte Educacional da Fundação Catarinense de Esporte (Fesporte).
O homem ideal, segundo fontes ligadas ao esporte, para apagar o incêndio e manusear o bisturi de maneira sutil e pragmática.

Quero estar enganado.
Mas politizado ao extremo, o esporte blumenauense tem tudo para viver dias (ou anos) turbulentos.
Com uma grande entressafra de talentos e conquistas.


Emerson Luis é jornalista. Completou sua graduação em 2009 no Ibes/Sociesc. Trabalha com comunicação desde 1990 quando começou na função de repórter/setorista na Rádio Unisul – atual CBN. Atualmente é apresentador, repórter, produtor e editor do quadro de esportes do Balanço Geral da NDTV Blumenau. Na mesma emissora filiada à TV Record, ainda exerce a função de comentarista, no programa Clube da Bola, exibido todos os sábados, das 13h30 às 15h. Também é boleiro na Patota 5ª Tentativa.



O post Emerson Luis. Esporte: Politização apareceu primeiro em PORTAL ALEXANDRE JOSÉ – Notícias de Blumenau.