![\"\"](\"http:\/\/noticias.paginas.ufsc.br\/files\/2024\/02\/Pixabay_Suicidio.jpg\")
<\/a><\/p>\nDe acordo com a OMS, mais de 700 mil pessoas morrem por suic\u00eddio anualmente no mundo.(imagem: Gordon Johnson\/Pixabay)<\/p>\n<\/div>\n
Um estudo coordenado pela professora\u00a0Manuella Kaster<\/a>, do Departamento de Bioqu\u00edmica, do Centro de Ci\u00eancias Biol\u00f3gicas (CCB) da UFSC, aponta um\u00a0conjunto de altera\u00e7\u00f5es moleculares presentes no c\u00e9rebro e no sangue de indiv\u00edduos que cometeram suic\u00eddio. A pesquisa \u00e9 realizada em conjunto com\u00a0Daniel Martins-de-Souza<\/a>, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e tem o doutorando do Programa de P\u00f3s-Gradua\u00e7\u00e3o em Bioqu\u00edmica Caibe Alves Pereira<\/a>\u00a0como primeiro autor do artigo\u00a0na revista <\/a>Psychiatry Research<\/em><\/a>, que exp\u00f5e os dados e conclus\u00f5es da pesquisa. Assina o artigo\u00a0tamb\u00e9m a pesquisadora\u00a0Bruna Caroline Pierone<\/a>, doutora pela UFSC. Segundo os autores,\u00a0<\/em>o objetivo foi identificar fatores de suscetibilidade e potenciais alvos terap\u00eauticos.<\/p>\n De acordo com a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial da Sa\u00fade (OMS), mais de 700 mil pessoas morrem por suic\u00eddio anualmente no mundo. Entre os jovens, termo que designa a faixa et\u00e1ria dos 15 aos 29 anos, o impacto do suic\u00eddio \u00e9 particularmente alarmante, representando a quarta principal causa de morte. Os dados, de 2019, foram obtidos na \u00faltima edi\u00e7\u00e3o do Global Burden of Disease (GBD<\/a>), estudo epidemiol\u00f3gico que re\u00fane mais de 200 pa\u00edses e fornece um quadro abrangente das principais causas de mortalidade e incapacidade global.<\/p>\n Diversos fatores de risco est\u00e3o associados ao suic\u00eddio, incluindo hist\u00f3rico familiar, tra\u00e7os de personalidade, condi\u00e7\u00f5es socioecon\u00f4micas, exposi\u00e7\u00e3o a ideias nocivas nas m\u00eddias sociais e presen\u00e7a de transtornos psiqui\u00e1tricos, especialmente depress\u00e3o e transtorno bipolar. \u201cContudo, apesar do enorme impacto psicol\u00f3gico, social e econ\u00f4mico gerado pelas mortes por suic\u00eddio, a identifica\u00e7\u00e3o do risco \u00e9 feita apenas com base em entrevistas cl\u00ednicas. Os mecanismos neurobiol\u00f3gicos associados \u00e0s altera\u00e7\u00f5es comportamentais ainda s\u00e3o pouco elucidados. E esse foi o foco de nosso estudo\u201d, conta\u00a0Manuella Kaster.<\/span><\/p>\n Segundo Kaster, o grupo revisou e reanalisou uma grande quantidade de dados, dispon\u00edveis na literatura, sobre altera\u00e7\u00f5es moleculares encontradas no c\u00e9rebro e no sangue de indiv\u00edduos que cometeram suic\u00eddio. \u201cO uso de ferramentas como a transcript\u00f4mica, a prote\u00f4mica e a metabol\u00f4mica permitiu a avalia\u00e7\u00e3o simult\u00e2nea e comparativa de genes, prote\u00ednas e metab\u00f3litos presentes nas amostras. E verificamos que, em condi\u00e7\u00f5es complexas como o suic\u00eddio, essas an\u00e1lises apresentam um grande potencial, uma vez que podem fornecer a base para a identifica\u00e7\u00e3o de fatores de suscetibilidade, al\u00e9m de potenciais alvos terap\u00eauticos\u201d, acrescenta Martins-de-Souza.<\/p>\n Dito de forma simplificada, as altera\u00e7\u00f5es moleculares podem ser interpretadas como \u201cmarcadores de risco\u201d e fornecer novas pistas em neurobiologia, constituindo um importante aux\u00edlio \u00e0s informa\u00e7\u00f5es levantadas nas entrevistas cl\u00ednicas. \u201cUm dado not\u00e1vel observado em diferentes estudos \u00e9 que muitos indiv\u00edduos procuram servi\u00e7os de sa\u00fade no ano anterior \u00e0 tentativa de suic\u00eddio ou ao suic\u00eddio. Mas, devido \u00e0s dificuldades na identifica\u00e7\u00e3o do risco, n\u00e3o recebem a aten\u00e7\u00e3o que poderia evitar o desfecho\u201d, afirma Kaster.<\/p>\n Caibe Alves Pereira\u00a0recolheu 17 estudos que traziam informa\u00e7\u00f5es sobre altera\u00e7\u00f5es cerebrais na express\u00e3o de genes e prote\u00ednas de indiv\u00edduos que cometeram suic\u00eddio, em compara\u00e7\u00e3o com dados de indiv\u00edduos acometidos por outras causas de morte. O c\u00f3rtex pr\u00e9-frontal foi a regi\u00e3o cerebral mais avaliada.<\/p>\n \u201cEssa regi\u00e3o do c\u00e9rebro apresenta uma grande conex\u00e3o com os centros de controle emocional e de controle de impulsos. \u00c9 fundamental em processos de flexibilidade comportamental e de tomada de decis\u00e3o. Altera\u00e7\u00f5es em sua estrutura ou fun\u00e7\u00e3o podem ser extremamente relevantes no contexto do comportamento suicida\u201d, sublinha Kaster.<\/p>\n Tal informa\u00e7\u00e3o \u00e9 especialmente relevante no caso dos jovens, porque o c\u00f3rtex pr\u00e9-frontal \u00e9 uma das \u00faltimas regi\u00f5es do c\u00e9rebro a ficar maturada. Altera\u00e7\u00f5es em mecanismos de plasticidade no c\u00f3rtex pr\u00e9-frontal, afetadas pelos diferentes fatores de risco (sociais, culturais, psicol\u00f3gicos etc.), podem ter um impacto significativo no controle emocional e comportamental em indiv\u00edduos jovens.<\/p>\n No estudo em pauta, os dados dos diferentes trabalhos foram combinados. E, por meio de algoritmo desenvolvido por Guilherme Reis de Oliveira<\/a>, doutorando da Unicamp orientado por Martins-de-Souza e participante do artigo, foi poss\u00edvel identificar alguns mecanismos biol\u00f3gicos e vias comuns associados ao suic\u00eddio. Altera\u00e7\u00f5es em sistemas de neurotransmissores, em especial de neurotransmissores inibit\u00f3rios, apareceram como as principais modifica\u00e7\u00f5es observadas. \u201cAs altera\u00e7\u00f5es moleculares foram principalmente associadas com c\u00e9lulas gliais, como astr\u00f3citos e micr\u00f3glia, que apresentam intera\u00e7\u00e3o pr\u00f3xima e din\u00e2mica com os neur\u00f4nios e s\u00e3o fundamentais no controle da comunica\u00e7\u00e3o celular, metabolismo e plasticidade\u201d, conta Martins-de-Souza.<\/p>\n Segundo o pesquisador, a an\u00e1lise dos dados apontou ainda para altera\u00e7\u00f5es em alguns fatores de transcri\u00e7\u00e3o: mol\u00e9culas respons\u00e1veis pela regula\u00e7\u00e3o da express\u00e3o de diversos genes. \u201cEntre eles, o fator de transcri\u00e7\u00e3o CREB1<\/em> j\u00e1 foi amplamente explorado por seus efeitos na neuroplasticidade e por ser um alvo importante no efeito de f\u00e1rmacos antidepressivos. Contudo, os fatores de transcri\u00e7\u00e3o MBNL1<\/em>, U2AF<\/em> e ZEB2<\/em>, associados ao processamento de mol\u00e9culas de RNA, forma\u00e7\u00e3o de conex\u00f5es corticais e gliog\u00eanese, nunca foram estudados no contexto da depress\u00e3o e suic\u00eddio\u201d, detalha.<\/p>\n E Kaster conclui: \u201cDesde a idea\u00e7\u00e3o at\u00e9 a execu\u00e7\u00e3o, o suic\u00eddio deve ser levado a s\u00e9rio. Sabemos que as mortes por suic\u00eddio s\u00e3o mais prevalentes em pessoas do sexo masculino, enquanto as tentativas s\u00e3o mais prevalentes em pessoas do sexo feminino. Mas isso se deve ao potencial de letalidade e agressividade dos meios utilizados e diferen\u00e7as em aspectos comportamentais. O suic\u00eddio \u00e9 uma causa de morte evit\u00e1vel com interven\u00e7\u00f5es oportunas. E esta \u00e9 a principal motiva\u00e7\u00e3o de nosso estudo. \u00c9 preciso reduzir o estigma e compreender, de forma ampla e profunda, os diferentes aspectos biol\u00f3gicos, sociais e culturais envolvidos nas altera\u00e7\u00f5es de comportamento\u201d.<\/p>\n A investiga\u00e7\u00e3o recebeu apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient\u00edfico e Tecnol\u00f3gico (CNPq), da Coordena\u00e7\u00e3o de Aperfei\u00e7oamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES), da Funda\u00e7\u00e3o de Amparo \u00e0 Pesquisa do Estado de S\u00e3o Paulo (Fapesp) e da Funda\u00e7\u00e3o de Amparo \u00e0 Pesquisa e Inova\u00e7\u00e3o de Santa Catarina (Fapesc).<\/p>\n Acesse o artigo Depicting the molecular features of suicidal behavior: a review from an \u2018omics\u2019 perspective<\/a>.<\/em><\/p>\n Texto original de Jos\u00e9 Tadeu Arantes\/Ag\u00eancia FAPESP<\/em><\/a><\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" De acordo com a OMS, mais de 700 mil pessoas morrem por suic\u00eddio anualmente no mundo.(imagem: Gordon Johnson\/Pixabay) Um estudo coordenado pela professora\u00a0Manuella Kaster, do Departamento de Bioqu\u00edmica, do Centro de Ci\u00eancias Biol\u00f3gicas (CCB) da UFSC, aponta um\u00a0conjunto de altera\u00e7\u00f5es moleculares presentes no c\u00e9rebro e no sangue de indiv\u00edduos que… Continue lendo