{"id":267010,"date":"2025-04-03T08:45:40","date_gmt":"2025-04-03T11:45:40","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/267010"},"modified":"2025-04-03T08:45:40","modified_gmt":"2025-04-03T11:45:40","slug":"mortes-de-criancas-e-adolescentes-pela-pm-dobram-em-sp-sob-governo-tarcisio-sem-utilizacao-correta-de-cameras-diz-estudo","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/267010","title":{"rendered":"Mortes de crian\u00e7as e adolescentes pela PM dobram em SP sob governo Tarc\u00edsio sem utiliza\u00e7\u00e3o correta de c\u00e2meras, diz estudo"},"content":{"rendered":"

Uma em cada tr\u00eas crian\u00e7as e adolescentes mortos violentamente em SP foram assassinados pela pol\u00edcia, segundo levantamento do Unicef e do F\u00f3rum Brasileiro de Seguran\u00e7a P\u00fablica. Crian\u00e7as e adolescentes negros s\u00e3o 3,7 vezes mais v\u00edtimas de interven\u00e7\u00f5es letais da PM do que brancos. Ryan da Silva Andrade Santos, de 4 anos, morreu ap\u00f3s ser baleado no Morro S\u00e3o Bento, em Santos (SP)
\nArquivo Pessoal
\nO n\u00famero de crian\u00e7as e adolescentes mortos no estado de S\u00e3o Paulo por policiais militares em servi\u00e7o mais do que dobrou durante a gest\u00e3o do governador Tarc\u00edsio de Freitas (Republicanos).
\nSegundo o levantamento, 77 crian\u00e7as e adolescentes entre 10 e 19 anos morreram em interven\u00e7\u00f5es policiais no estado em 2024, no segundo ano do governo Tarc\u00edsio. Enquanto em 2022, na gest\u00e3o Rodrigo Garcia, foram 35 v\u00edtimas \u2014 o que representa um aumento de 120%.
\nOs dados s\u00e3o do estudo “As c\u00e2meras corporais na Pol\u00edcia Militar do Estado de S\u00e3o Paulo”, divulgado nesta quinta-feira (3) pelo F\u00f3rum Brasileiro de Seguran\u00e7a P\u00fablica e pelo Fundo das Na\u00e7\u00f5es Unidas para a Inf\u00e2ncia (UNICEF).
\nO g1 mostrou nesta quinta imagens in\u00e9ditas de policiais militares torturando adolescentes em S\u00e3o Paulo.
\nDepois dos homic\u00eddios dolosos, a segunda forma violenta mais comum de mortalidade de crian\u00e7as e adolescentes \u00e9 a provocada por interven\u00e7\u00f5es policiais, na frente de les\u00f5es corporais seguidas de morte, latroc\u00ednios e feminic\u00eddios.
\n\u201c1 a cada 3 mortes violentas nessa faixa et\u00e1ria acontece devido a a\u00e7\u00f5es de policiais militares em servi\u00e7o. Esse cen\u00e1rio refor\u00e7a a necessidade urgente de investirmos em pol\u00edticas p\u00fablicas de seguran\u00e7a que protejam, de fato, a vida de meninos e meninas, e que garantam prioridade na investiga\u00e7\u00e3o e responsabiliza\u00e7\u00e3o dos culpados\u201d, afirma Adriana Alvarenga, chefe do escrit\u00f3rio do UNICEF em S\u00e3o Paulo.
\nConfira o n\u00famero de mortes de crian\u00e7as e adolescentes por ano:
\n2017: 177
\n2018: 149
\n2019: 104
\n2020: 96
\n2021: 46
\n2022: 35
\n2023: 51
\n2024: 77
\nO aumento ocorreu no mesmo per\u00edodo em que foram alterados protocolos de uso das c\u00e2meras corporais e outros mecanismos de controle das for\u00e7as de seguran\u00e7a, segundo a organiza\u00e7\u00e3o. (Leia mais abaixo.)
\nUm desses mortos \u00e9 o menino Ryan Silva Andrade, de 4 anos. Ele foi atingido por um tiro disparado por um policial no morro S\u00e3o Bento, em Santos, no litoral Sul paulista, em 5 de novembro de 2024, durante uma a\u00e7\u00e3o da PM. Sete policiais foram afastados na \u00e9poca do crime, mas j\u00e1 voltaram \u00e0s ruas.
\nOutro caso \u00e9 do adolescente Gregory Ribeiro Vasconcelos, de 17 anos, morto com tiros pelas costas disparados por policial militar tamb\u00e9m em Santos, tamb\u00e9m em novembro do ano passado.
\n“O Gregory era uma crian\u00e7a ainda. Ele era muito alegre, gostava de crian\u00e7a, de bicho. Tanto que a gente tem um cachorro aqui em casa que a gente fala que parece com ele”, conta a irm\u00e3.
\nOs policiais envolvidos voltaram a trabalhar. “Quero justi\u00e7a e eu quero que quem fez isso pague, que eles n\u00e3o fiquem na rua fazendo o que deu der na telha s\u00f3 porque eles usam farda, n\u00e3o quero que nenhuma outra fam\u00edlia fa\u00e7a o que eu estou passando. \u00c9 que eu quero justi\u00e7a”, diz a irm\u00e3.
\nN\u00famero maior
\nSegundo o estudo, o n\u00famero de crian\u00e7as e adolescentes mortos pela PM pode ser ainda maior. H\u00e1 uma falha no preenchimento dos boletins de ocorr\u00eancia no campo idade, que s\u00e3o a base de dados usada no levantamento. Entre 2017 e 2024, 134 registros n\u00e3o possu\u00edam informa\u00e7\u00e3o sobre a idade da v\u00edtima \u2014 o equivalente a 23,3% do total de B.O.s.
\nEm 2017 e 2024, 1.051 crian\u00e7as e adolescentes foram mortas por PMs no estado, das quais 735 foram v\u00edtimas de policiais que estavam em servi\u00e7o (69,9%).
\nA partir da implementa\u00e7\u00e3o do Programa Olho Vivo e da ado\u00e7\u00e3o das c\u00e2meras corporais, a mortalidade dessa faixa et\u00e1ria sofreu uma queda de 66,3%. Em 2019, 104 crian\u00e7as e adolescentes foram mortas \u2014 contra 35 em 2022. Os n\u00fameros voltaram a crescer na gest\u00e3o Tarc\u00edsio, quando houve mudan\u00e7as no uso do equipamento.
\n\u201cAs recentes mudan\u00e7as nas pol\u00edticas de controle de uso de for\u00e7a resultaram no crescimento da letalidade policial tanto nos batalh\u00f5es que utilizam as c\u00e2meras como nos demais, na evid\u00eancia de que a tecnologia \u00e9 importante, mas precisa estar associada a outros mecanismos de controle. As intera\u00e7\u00f5es entre policiais militares e cidad\u00e3os ficaram mais violentas, por isso gera grande preocupa\u00e7\u00e3o a substitui\u00e7\u00e3o das c\u00e2meras por uma nova tecnologia que n\u00e3o possui grava\u00e7\u00e3o ininterrupta. \u00c9 urgente que tenhamos uma pol\u00edtica de controle de uso da for\u00e7a robusta, com supervis\u00e3o dos agentes\u201d, afirma Samira Bueno, diretora-executiva do F\u00f3rum Brasileiro de Seguran\u00e7a P\u00fablica.
\nGregory, adolescente morto pela PM
\nArquivo pessoal
\nOutro n\u00famero que cresceu em S\u00e3o Paulo foi o de policiais militares mortos em servi\u00e7o. Em 2024, 14 agentes foram assassinados enquanto cumpriam sua fun\u00e7\u00e3o, um crescimento de 133% em rela\u00e7\u00e3o a 2022, quando 6 policiais foram mortos.
\nO cen\u00e1rio \u00e9 oposto ao observado na primeira edi\u00e7\u00e3o do estudo, lan\u00e7ado em 2023, que indicou uma queda de 66,3% nas mortes de crian\u00e7as e adolescentes de 10 a 19 anos entre 2019 e 2022, atribu\u00edda ao uso das c\u00e2meras corporais e \u00e0 ado\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas para controle do uso da for\u00e7a policial.
\n No mesmo per\u00edodo, tamb\u00e9m houve redu\u00e7\u00e3o de 62,7% nas mortes gerais por interven\u00e7\u00e3o de agentes de seguran\u00e7a e 57% nas mortes de policiais militares em servi\u00e7o \u2013 tornando a experi\u00eancia de S\u00e3o Paulo uma refer\u00eancia internacional em pol\u00edticas de controle da letalidade policial.
\nGr\u00e1fico com principais n\u00fameros do estudo do Unicef e F\u00f3rum Brasileiro de Seguran\u00e7a P\u00fablica
\nArte\/g1
\nPerfil racial
\nOs dados tamb\u00e9m apontam disparidade racial na letalidade policial. Entre crian\u00e7as e adolescentes, a taxa de mortes provocadas por policiais militares em servi\u00e7o \u00e9 de 0,33 para cada 100 mil brancos. Para negros, o \u00edndice sobe para 1,22 a cada 100 mil \u2014 o que significa que crian\u00e7as e adolescentes negros s\u00e3o 3,7 vezes mais v\u00edtimas de interven\u00e7\u00f5es letais da PM do que brancos.
\nPara a chefe do escrit\u00f3rio do Unicef em S\u00e3o Paulo, Adriana Alvarenga, esse n\u00famero “demonstra um pouco da nossa sociedade, que \u00e9 uma sociedade racista, que enfrenta o racismo em suas diferentes esferas. \u00c9 preciso investir em informa\u00e7\u00e3o, em treinamento dos agentes policiais para que a abordagem n\u00e3o seja por caracter\u00edsticas f\u00edsicas, mas por atos suspeitos”.
\nAumento total de mortes
\nSomando crian\u00e7as, adolescentes e adultos, o n\u00famero total de mortes por policiais militares em servi\u00e7o em S\u00e3o Paulo cresceu 153,5% em rela\u00e7\u00e3o a 2022, saltando de 256 para 353 em 2023 e chegando a 649 em 2024. Confira os dados por ano:
\n2017: 641
\n2018: 641
\n2019: 712
\n2020: 657
\n2021: 427
\n2022: 254
\n2023: 349
\n2024: 647
\nPor dois anos consecutivos, a gest\u00e3o Tarc\u00edsio registrou aumento no n\u00famero de mortos pela PM. Tanto em 2024 quanto em 2023, a Pol\u00edcia Militar realizou opera\u00e7\u00f5es na Baixada Santista. Elas foram consideradas as mais letais desde o massacre do Carandiru, com 56 mortos, no ano passado, e 28, em 2023.
\nNo in\u00edcio de dezembro, ap\u00f3s uma s\u00e9rie de casos de viol\u00eancia policial, o governador admitiu que “tinha uma vis\u00e3o equivocada” sobre o uso de c\u00e2meras corporais na farda dos policiais militares e disse que estar “completamente convencido de que \u00e9 um instrumento de prote\u00e7\u00e3o da sociedade e do policial”.
\nQual \u00e9 o perfil das v\u00edtimas? A maior parte das pessoas mortas em interven\u00e7\u00f5es da PM s\u00e3o do sexo masculino, negras e jovens. Entre 2017 e 2024, 99,6% das v\u00edtimas era do g\u00eanero masculino.
\nC\u00e2meras
\nO estudo tamb\u00e9m mostra que houve maior aumento das mortes provocadas pela pol\u00edcia nos batalh\u00f5es que utilizam c\u00e2meras corporais (+175,4%) e nos que n\u00e3o utilizam (+129,5%).
\nO estudo usa um levantamento da Defensoria P\u00fablica do Estado de S\u00e3o Paulo, baseado em 457 solicita\u00e7\u00f5es de ocorr\u00eancias entre julho e novembro de 2024, mostrou que a PMESP n\u00e3o forneceu resposta para 48,3% dos casos. No caso das ocorr\u00eancias respondidas, em apenas 100 casos foi poss\u00edvel realizar a an\u00e1lise das imagens recebidas, o que equivale a 21,9% do total de casos solicitados
\nPara Samira, os n\u00fameros indicam que h\u00e1 mau uso das c\u00e2meras e que s\u00f3 a posse delas n\u00e3o adianta para a redu\u00e7\u00e3o da mortalidade.
\n“A gente tem um discurso pol\u00edtico que foi condenando a utiliza\u00e7\u00e3o das c\u00e2meras e minando a pol\u00edtica institucionalmente. H\u00e1 v\u00e1rias reportagens sobre policiais obstruindo a grava\u00e7\u00e3o e o estudo da Defensoria P\u00fablica apontando sobre a dificuldade de se analisar imagens de ocorr\u00eancias. Ent\u00e3o, o que a gente est\u00e1 dizendo \u00e9 que a tecnologia importa, mas que \u00e9 preciso outros mecanismos que funcionem para garantir esse controle sobre a tropa”, diz a diretora.
\nO estudo revela que, apesar da continuidade do programa de c\u00e2meras corporais em S\u00e3o Paulo, outras pol\u00edticas e mecanismos adotados no passado sofreram mudan\u00e7as significativas. Entre 2022 e 2024, houve 46% de redu\u00e7\u00e3o no n\u00famero de Conselhos de Disciplina \u2013 respons\u00e1veis por julgar pra\u00e7as que cometeram infra\u00e7\u00f5es ou crimes \u2013, assim como 12,1% de redu\u00e7\u00e3o no n\u00famero de processos administrativos disciplinares, e queda na quantidade de sindic\u00e2ncias e Inqu\u00e9ritos Policiais Militares (IPMs). No caso de IPMs, o volume registrado em 2024 foi o menor dos \u00faltimos oito anos.
\n“\u00c9 importante compreender que n\u00e3o s\u00e3o s\u00f3 as c\u00e2meras que resolvem o problema. Ent\u00e3o tem um conjunto de fatores, de pol\u00edticas p\u00fablicas que precisam ser implementadas. Isso tem a ver com as comiss\u00f5es de \u00e9tica e de disciplina que existem j\u00e1 como mecanismo da Secretaria da Seguran\u00e7a p\u00fablica, para entender o que vem acontecendo, analisar os casos e identificar medidas que precisam ser tomadas com rela\u00e7\u00e3o ao policial”, diz Adriana Alvarenga.
\nLaudo conclui que tiro que matou menino Ryan partiu de arma de PM em Santos<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Uma em cada tr\u00eas crian\u00e7as e adolescentes mortos violentamente em SP foram assassinados pela pol\u00edcia, segundo levantamento do Unicef e do F\u00f3rum Brasileiro de Seguran\u00e7a P\u00fablica. Crian\u00e7as e adolescentes negros s\u00e3o 3,7 vezes mais v\u00edtimas de interven\u00e7\u00f5es letais da PM do que brancos. Ryan da Silva Andrade Santos, de 4… Continue lendo → <\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-267010","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-sem-categoria"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/267010","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=267010"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/267010\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=267010"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=267010"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=267010"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}