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O \u201cDia da Liberta\u00e7\u00e3o\u201d, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, batizou o evento desta quarta-feira, 2 de abril, nos jardins da Casa Branca, no qual anunciou as diretrizes da nova pol\u00edtica comercial americana, teve um alcance muito maior para a economia global que passou despercebido em meio \u00e0s bravatas de Trump.<\/p>\n
A imposi\u00e7\u00e3o de tarifas rec\u00edprocas m\u00ednimas de 10% para todos os mais de 200 pa\u00edses do mundo com os quais os EUA trocam mercadorias, anunciada pelo presidente americano, foi apenas um detalhe diante do duplo efeito que deve causar.<\/p>\n
O primeiro \u00e9 a \u00faltima p\u00e1 de cal na moribunda Organiza\u00e7\u00e3o Mundial de Com\u00e9rcio (OMC), \u00f3rg\u00e3o multilateral criado pelos EUA no p\u00f3s-Guerra para regular o com\u00e9rcio internacional, que j\u00e1 vinha sendo ignorada por governos americanos anteriores e havia se tornado irrelevante desde a guerra comercial entre EUA e China, a partir de 2019.<\/p>\n
Ao criar regras pr\u00f3prias para punir pa\u00edses com os quais os EUA t\u00eam d\u00e9ficit comercial, Trump n\u00e3o s\u00f3 jogou de vez a OMC no ostracismo como abriu caminho para o que deve vir na sequ\u00eancia \u2013 uma guerra comercial global, com efeitos imprevis\u00edveis para a economia do planeta.<\/p>\n
\u201cAs medidas de Trump representam um fim abrupto para uma era de com\u00e9rcio internacional livre e extensivo com base em um sistema baseado em regras constru\u00eddo pelos pr\u00f3prios Estados Unidos\u201d, disse Eswar Prasad, professor de pol\u00edtica comercial na Universidade Cornell.<\/p>\n
\u201cEm vez de consertar as regras das quais muitos parceiros comerciais dos EUA reconhecidamente tiraram vantagem para seu pr\u00f3prio benef\u00edcio, Trump escolheu explodir o sistema que governa o com\u00e9rcio internacional\u201d, acrescentou.<\/p>\n
A certeza de que uma nova era de embate comercial, envolvendo os EUA de um lado e os demais pa\u00edses de outro, ficou clara com o tom amea\u00e7ador do presidente americano ao anunciar as medidas.<\/p>\n
Trump diz que muitos pa\u00edses t\u00eam como alvo os Estados Unidos com \u201cbarreiras n\u00e3o monet\u00e1rias\u201d, como manipula\u00e7\u00e3o de moeda, subs\u00eddios, impostos exorbitantes e roubo de propriedade intelectual.<\/p>\n
\u201cEles querem nos enganar\u201d, discursou o presidente americano, que chamou o d\u00e9ficit comercial de uma \u201cemerg\u00eancia nacional\u201d que amea\u00e7a a seguran\u00e7a dos EUA, expondo o argumento legal que sustenta suas a\u00e7\u00f5es.<\/p>\n
Trump diz que os EUA calcular\u00e3o uma sobretaxa para outros pa\u00edses com base em tarifas e \u201coutras formas de trapa\u00e7a\u201d. Assim, o governo americano decidiu uma taxa rec\u00edproca na linha de base de 10% \u2013 na qual Brasil foi encaixado \u2013, aumentando o \u00edndice conforme a diferen\u00e7a entre taxas cobradas pelos EUA e por cada pa\u00eds.<\/p>\n
A Uni\u00e3o Europeia. por exemplo, enfrentar\u00e1 uma tarifa de 20% \u2013 tarifa rec\u00edproca de 10%, al\u00e9m da linha de base de 10%. A China enfrentar\u00e1 sobretaxa\u00e7\u00e3o conjunta de 34% e a \u00cdndia, de 26%. At\u00e9 mesmo o Jap\u00e3o sofreu um baque: 24% de tarifas no total.<\/p>\n
Em nota, o governo brasileiro lamentou o pacote tarif\u00e1rio anunciado por Trump. \u201cA nova medida, como as demais tarifas j\u00e1 impostas aos setores de a\u00e7o, alum\u00ednio e autom\u00f3veis, viola os compromissos dos EUA perante a Organiza\u00e7\u00e3o Mundial do Com\u00e9rcio e impactar\u00e1 todas as exporta\u00e7\u00f5es brasileiras de bens para os EUA\u201d, informa a nota.<\/p>\n
E prossegue dizendo que \u201cuma vez que os EUA registram recorrentes e expressivos super\u00e1vits comerciais em bens e servi\u00e7os com o Brasil ao longo dos \u00faltimos 15 anos, totalizando US$ 410 bilh\u00f5es, a imposi\u00e7\u00e3o unilateral de tarifa linear adicional de 10% ao Brasil com a alega\u00e7\u00e3o da necessidade de se restabelecer o equil\u00edbrio e a \u201creciprocidade comercial\u201d n\u00e3o reflete a realidade\u201d.<\/p>\n
Enquanto o presidente americano anunciava o pacote, a C\u00e2mara dos Deputados no Brasil aprovava, em vota\u00e7\u00e3o simb\u00f3lica, o projeto de lei que estabelece mecanismos para o governo brasileiro retaliar eventuais barreiras comerciais ou medidas protecionistas que afetem a competitividade de produtos nacionais no exterior. A medida, uma vacina \u00e0 pol\u00edtica tarif\u00e1ria dos EUA, segue para san\u00e7\u00e3o presidencial.<\/p>\n
O presidente americano foi ir\u00f4nico ao apresentar a \u00fanica solu\u00e7\u00e3o poss\u00edvel aos pa\u00edses que adotam tarifas de importa\u00e7\u00e3o maiores que as americanas: \u201cSe voc\u00eas querem que sua tarifa seja zero, ent\u00e3o construam seu produto aqui mesmo na Am\u00e9rica.\u201d<\/p>\n
Scott Linciome e Colin Grabow, especialistas em com\u00e9rcio global do Cato Institute, fizeram um levantamento hist\u00f3rico no qual argumentam que as justificativas para a nova pol\u00edtica comercial dos EUA s\u00e3o fr\u00e1geis e conflitantes, num claro sinal do que vem pela frente.<\/p>\n
\u201cCom o an\u00fancio de hoje, as tarifas dos EUA se aproximar\u00e3o de n\u00edveis n\u00e3o vistos desde o Smoot-Hawley Tariff Act de 1930, que incitou uma guerra comercial global e aprofundou a Grande Depress\u00e3o\u201d, disse Grabow.<\/p>\n
Durante sua apresenta\u00e7\u00e3o \u2013 no qual falou em tom informal, como se estivesse num talk show<\/em> -, Trump escolheu a dedo tarifas altas que pa\u00edses estrangeiros cobram sobre produtos americanos.<\/p>\n Mas obviamente n\u00e3o fez men\u00e7\u00e3o a tarifas elevadas dos EUA sobre certos produtos, como a\u00e7\u00facar, cal\u00e7ados, vestu\u00e1rio e amendoim, decididas anos atr\u00e1s para proteger essas ind\u00fastrias.<\/p>\n O leque tamb\u00e9m inclui tarifas de 350% sobre tabaco de muitos pa\u00edses, sobretaxa de 260% sobre substitutos de manteiga irlandesa e tarifas de 197% sobre utens\u00edlios de cozinha de a\u00e7o inoxid\u00e1vel chineses, por exemplo.<\/p>\n V\u00e1rios especialistas, por\u00e9m, j\u00e1 preveem uma retalia\u00e7\u00e3o de v\u00e1rios pa\u00edses num segmento fort\u00edssimo dos EUA que tem sido ignorado nos discursos de Trump.<\/p>\n Os setores de servi\u00e7os \u2014 que incluem as ind\u00fastrias de finan\u00e7as, viagens, engenharia, entretenimento e medicina, entre outros \u2014 comp\u00f5em a maior parte da economia americana.<\/p>\n Os EUA s\u00e3o o maior exportador de servi\u00e7os do mundo. As exporta\u00e7\u00f5es desses servi\u00e7os trouxeram mais de US$ 1 trilh\u00e3o em arrecada\u00e7\u00e3o no ano passado, incluindo um super\u00e1vit comercial de quase US$ 300 bilh\u00f5es. Uma grande parcela desse segmento, de servi\u00e7os financeiros a computa\u00e7\u00e3o em nuvem, s\u00e3o entregues digitalmente.<\/p>\n Pode vir da\u00ed uma frente vulner\u00e1vel aos EUA numa poss\u00edvel guerra comercial global porque esse dom\u00ednio americano d\u00e1 a outros pa\u00edses alguma influ\u00eancia nas negocia\u00e7\u00f5es em torno de retalia\u00e7\u00f5es \u00e0s sobretaxas americanas. A Uni\u00e3o Europeia, por exemplo, poderia usar ferramentas projetadas para restringir servi\u00e7os que entram no bloco.<\/p>\n \u201cA verdadeira alavancagem que os europeus t\u00eam est\u00e1, em \u00faltima an\u00e1lise, no lado dos servi\u00e7os\u201d, disse Mujtaba Rahman, diretor administrativo para a Europa do Eurasia Group, empresa de pesquisa pol\u00edtica. \u201cIsso vai aumentar antes de diminuir.\u201d<\/p>\n Toda vez que um turista europeu se hospeda em um hotel dos EUA, por exemplo, o dinheiro gasto \u00e9 contabilizado na cesta de exporta\u00e7\u00e3o de servi\u00e7os. E toda vez que algu\u00e9m no Canad\u00e1, Jap\u00e3o ou M\u00e9xico paga para ouvir m\u00fasica ou assistir a filmes e programas de televis\u00e3o feitos nos Estados Unidos, eles est\u00e3o aumentando o super\u00e1vit americano no com\u00e9rcio de servi\u00e7os.<\/p>\n Muitos dos pa\u00edses que os EUA est\u00e3o mirando para tarifas t\u00eam um d\u00e9ficit de servi\u00e7os com os Estados Unidos, incluindo Canad\u00e1, China, Jap\u00e3o, M\u00e9xico e grande parte da Europa, de acordo com o US Census Bureau.<\/p>\n \u201cA UE est\u00e1 agora equipada com ferramentas pol\u00edticas para estender o alcance da retalia\u00e7\u00e3o contra tarifas dos EUA para atingir importa\u00e7\u00f5es de servi\u00e7os dos EUA\u201d, escreveu Filippo Taddei, diretor administrativo de pesquisa de investimento global do Goldman Sachs, em uma nota de pesquisa sobre poss\u00edveis respostas europeias.<\/p>\n Provavelmente a op\u00e7\u00e3o mais extrema \u00e9 conhecida como Instrumento Anticoer\u00e7\u00e3o. Tais medidas podem incluir tarifas, restri\u00e7\u00f5es ao com\u00e9rcio de servi\u00e7os e limites a aspectos relacionados ao com\u00e9rcio de direitos de propriedade intelectual.<\/p>\n Isso pode afetar gigantes da tecnologia americana como o Google. Por mais de uma d\u00e9cada, a Uni\u00e3o Europeia foi atr\u00e1s das maiores empresas do Vale do Sil\u00edcio por pr\u00e1ticas comerciais anticompetitivas, prote\u00e7\u00f5es fracas de privacidade de dados e pol\u00edticas frouxas de modera\u00e7\u00e3o de conte\u00fado.<\/p>\n A supervis\u00e3o agressiva da Europa levou a mudan\u00e7as not\u00e1veis em produtos porque a Uni\u00e3o Europeia, lar de cerca de 450 milh\u00f5es de pessoas, \u00e9 um mercado importante. O Google mudou a maneira como exibe os resultados de pesquisa, a Apple ajustou sua App Store e a Meta fez ajustes no Instagram e no Facebook por causa das regras da UE.<\/p>\n Esse trunfo tamb\u00e9m pode ser usados por outros pa\u00edses que se sintam prejudicados por Trump. A guerra comercial global, portanto, ainda nem come\u00e7ou e j\u00e1 tem um arma que pode atingir os EUA.<\/p>\n<\/div>\n source <\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Siga @radiopiranhas O \u201cDia da Liberta\u00e7\u00e3o\u201d, como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, batizou o evento desta quarta-feira, 2 de abril, nos jardins da Casa Branca, no qual anunciou as diretrizes da nova pol\u00edtica comercial americana, teve um alcance muito maior para a economia global que passou despercebido em… Continue lendo
Fonte
\nNeofeed<\/p>\n