Tema ser\u00e1 discutido nesta ter\u00e7a-feira (1\u00ba) na reuni\u00e3o semanal de l\u00edderes partid\u00e1rios. Anistia n\u00e3o \u00e9 um debate do Brasil, e Motta tem um abacaxi para descascar
\nO projeto de lei que garante anistia aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro virou um verdadeiro cabo de guerra entre governo e oposi\u00e7\u00e3o. Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pressionam pela urg\u00eancia e querem que o texto entre na pauta da C\u00e2mara agora nos primeiros dias de abril.
\nO tema ser\u00e1 discutido nesta ter\u00e7a-feira (1\u00ba) na reuni\u00e3o semanal de l\u00edderes partid\u00e1rios, e o presidente da C\u00e2mara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), enfrenta, logo no in\u00edcio de sua gest\u00e3o, o que pode ser o maior desafio de seu mandato.
\nA proposta \u00e9 defendida por bolsonaristas e divide o Centr\u00e3o. J\u00e1 a outra parte e o governo veem nisso um risco desnecess\u00e1rio. Isso porque, ainda que o projeto avance na C\u00e2mara, h\u00e1 grande chance de ser barrado no Senado, onde o presidente da Casa, Davi Alcolumbre (Uni\u00e3o Brasil-AP) j\u00e1 sinalizou que o tema n\u00e3o ser\u00e1 pautado. Para muitos, trata-se de uma \u201cconfus\u00e3o demais para resultado de menos\u201d.
\nO momento do pa\u00eds tamb\u00e9m contribui para tornar o debate ainda mais delicado. O Brasil enfrenta alta nos pre\u00e7os dos alimentos, uma crise na seguran\u00e7a p\u00fablica, necessidade urgente de impulsionar a economia e de regulamentar pontos da reforma tribut\u00e1ria. Em meio a tantas urg\u00eancias, dedicar tempo e recursos do Legislativo a uma anistia para cerca de 1,4 mil pessoas envolvidas em atos antidemocr\u00e1ticos soa, para muitos, como uma desconex\u00e3o com as prioridades reais da popula\u00e7\u00e3o.
\nNovo presidente da C\u00e2mara, Hugo Motta (Republicanos-PB), em solenidade de abertura do ano legislativo.
\nMario Agra\/C\u00e2mara dos Deputados
\nComo bem definiu Alcolumbre, \u201cesse n\u00e3o \u00e9 um debate do Brasil\u201d. A anistia interessa a um grupo restrito de apoiadores de Bolsonaro, muitos dos quais j\u00e1 foram julgados, firmaram acordos com o Minist\u00e9rio P\u00fablico ou aguardam julgamento \u2014 incluindo nomes do alto escal\u00e3o militar e o pr\u00f3prio ex-presidente.
\nA vota\u00e7\u00e3o dessa proposta tem potencial de paralisar os trabalhos legislativos e, se decidir pautar a anistia, o presidente da C\u00e2mara pode acirrar os \u00e2nimos, gerar um confronto com o Supremo Tribunal Federal (STF), tensionar a rela\u00e7\u00e3o com o Senado e dividir ainda mais a sociedade. Por outro lado, se optar por barrar o projeto, pode sofrer press\u00f5es da ala bolsonarista e de parte do Centr\u00e3o. Hugo Mo ta tem um baita abacaxi na m\u00e3o para descascar.
\nAl\u00e9m disso, especialistas alertam que anistiar indiv\u00edduos que participaram de atos claramente criminosos \u2014 como a invas\u00e3o das sedes dos Tr\u00eas Poderes \u2014 pode representar um grave retrocesso democr\u00e1tico. A discuss\u00e3o sobre a dosimetria das penas \u00e9 v\u00e1lida e cabe \u00e0 Justi\u00e7a, mas perdoar integralmente os envolvidos, muitos ainda nem julgados, seria, uma afronta ao Estado Democr\u00e1tico de Direito.<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"