{"id":260855,"date":"2025-03-28T09:44:27","date_gmt":"2025-03-28T12:44:27","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/260855"},"modified":"2025-03-28T09:44:27","modified_gmt":"2025-03-28T12:44:27","slug":"negros-em-cargos-do-executivo-tem-origem-popular-e-alta-qualificacao","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/260855","title":{"rendered":"Negros em cargos do Executivo t\u00eam origem popular e alta qualifica\u00e7\u00e3o"},"content":{"rendered":"
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Pessoas altamente qualificadas, que frequentaram o ensino superior p\u00fablico e possuem p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o. Esse \u00e9 o perfil da maior parte das pessoas negras que ocupam os cargos de lideran\u00e7a no Poder Executivo. Embora a porcentagem de l\u00edderes negros e ind\u00edgenas tenha crescido nos \u00faltimos 25 anos , elas relatam que ainda h\u00e1 barreiras para a presen\u00e7a nos principais postos, sobretudo em posi\u00e7\u00f5es de alto escal\u00e3o.<\/p>\n
Os relatos fazem parte do estudo in\u00e9dito Lideran\u00e7as Negras no Estado Brasileiro (1995-2024)<\/em> , divulgado nesta sexta-feira (28). A pesquisa foi realizada pelo N\u00facleo de Pesquisa e Forma\u00e7\u00e3o em Ra\u00e7a, G\u00eanero e Justi\u00e7a Racial (Afro-Cebrap), com apoio da Funda\u00e7\u00e3o Lemann e da Imaginable Futures.<\/p>\n A pesquisa mostra que houve um aumento de 17 pontos percentuais na quantidade de pessoas negras e ind\u00edgenas em cargos de lideran\u00e7a nos minist\u00e9rios, autarquias e funda\u00e7\u00f5es entre 1999 e 2024<\/strong> . Essa porcentagem passou de 22% para 39% em 25 anos. Homens brancos seguem, no entanto, ocupando sozinhos a maior fatia das posi\u00e7\u00f5es de lideran\u00e7a, 35%.<\/p>\n Entre junho e dezembro de 2024, os pesquisadores fizeram entrevistas aprofundadas com 20 lideran\u00e7as autodeclaradas negras, pretas ou pardas (seguindo as nomenclaturas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica), que ocuparam ou ocupam cargos de ministros, secret\u00e1rios, assessores, chefias, diretorias e coordena\u00e7\u00f5es entre 1994 e 2024. Os entrevistados n\u00e3o foram identificados. S\u00e3o dez homens e dez mulheres com idades entre 31 e 65 anos de todas as regi\u00f5es do pa\u00eds.<\/p>\n Segundo a coordenadora da pesquisa, a soci\u00f3loga e professora da Universidade Federal Fluminense, Flavia Rios, um dos achados da pesquisa \u00e9 que as pessoas que ocuparam ou ocupam cargos de lideran\u00e7a s\u00e3o altamente qualificadas.<\/p>\n \u201cEssas pessoas eram altamente qualificadas, mas muito qualificadas na sua forma\u00e7\u00e3o. N\u00e3o s\u00f3 uma qualifica\u00e7\u00e3o educacional, mas uma qualifica\u00e7\u00e3o profissional. As pessoas que a gente entrevistou eram realmente pessoas com conhecimento sobre o que fazem e um conhecimento formal t\u00e9cnico de universit\u00e1rio, de estudos no exterior, etc, muito grande. Ent\u00e3o a gente tem, na verdade, uma qualifica\u00e7\u00e3o desses quadros que \u00e9 algo que chama bastante aten\u00e7\u00e3o\u201d, diz.<\/p>\n O estudo revela tamb\u00e9m que a maioria das lideran\u00e7as negras vem de classes populares.<\/strong> <\/p>\n \u201c\u00c9 \u00f3bvio que, se a gente sabe que na estrutura social, as pessoas negras est\u00e3o em condi\u00e7\u00f5es mais desvantajosas, evidentemente parece se esperar que aquelas que n\u00f3s vamos encontrar no Estado, elas v\u00e3o ter origens sociais populares e foi de fato o que aconteceu. Raramente, a gente encontrou algu\u00e9m que viesse de trajet\u00f3ria de elite ou que tivesse um pai embaixador, por exemplo. N\u00e3o. Era: \u2018Eu sou embaixador, meu pai era pedreiro\u2019<\/strong> , essa que \u00e9 a que s\u00e3o as hist\u00f3rias\u201d, diz Rios.<\/p>\n<\/blockquote>\n A partir das entrevistas, a coordenadora da pesquisa diz que identificou que h\u00e1 dificuldades para chegar nesses cargos, que muitas vezes s\u00e3o conquistados por confian\u00e7a. \u201cA gente confia nas pessoas porque elas s\u00e3o altamente qualificadas, mas a gente tamb\u00e9m confia porque ela \u00e9 recomendada pelos nossos amigos, por pessoas, por algumas categorias. Ent\u00e3o, tem aquela parte do capital social que \u00e9 muito influente na constru\u00e7\u00e3o da confian\u00e7a. E essas pessoas negras n\u00e3o t\u00eam pai, parente, irm\u00e3o que tenham sido gestores ou que tenham ocupado cargos de lideran\u00e7as no Estado, elas s\u00e3o as primeiras\u201d, diz Rios.<\/p>\n E acrescenta: \u201cElas circulam bem, mas elas n\u00e3o t\u00eam esse capital todo. Ent\u00e3o, eu acho que isso \u00e9 uma das travas\u201d.<\/p>\n Al\u00e9m disso, h\u00e1, de acordo com Rios, barreiras hist\u00f3ricas e estruturais que regem as din\u00e2micas do pa\u00eds e que geram impactos no pr\u00f3prio Estado. Elas s\u00e3o sentidas pelos entrevistados diariamente.<\/p>\n Um dos pontos em comum nos relatos daqueles que est\u00e3o em espa\u00e7os de lideran\u00e7a \u00e9 ter passado situa\u00e7\u00f5es constrangedoras. Essas situa\u00e7\u00f5es, segundo a pesquisa, t\u00eam em comum o fato de que a pessoa negra ocupando cargos de lideran\u00e7as frequentemente n\u00e3o \u00e9 reconhecida pelo p\u00fablico externo ou mesmo pelos pr\u00f3prios trabalhadores do Estado, sejam eles funcion\u00e1rios p\u00fablicos ou funcion\u00e1rios terceirizados. Um secret\u00e1rio relatou que foi tratado como seguran\u00e7a, como porteiro e chegou a ser barrado nos pr\u00e9dios e eventos oficiais.<\/p>\n Outro ponto em comum entre os entrevistados que a pesquisa aponta \u00e9 que apesar de serem lideran\u00e7as que conquistaram espa\u00e7os sem serem beneficiados por a\u00e7\u00f5es afirmativas, h\u00e1 uma defesa un\u00e2nime pelas cotas como o caminho fundamental para um Poder Executivo Federal mais diverso.<\/p>\n Um dos entrevistados ressaltou a import\u00e2ncia de investimento em letramento racial para os quadros e funcion\u00e1rios, para que a tem\u00e1tica racial \u201cn\u00e3o fique \u00e0 merc\u00ea do interesse individual e volunt\u00e1rio de cada servidor\u201d, diz o estudo. H\u00e1 a expectativa de que o Concurso P\u00fablico Nacional Unificado (CNU) reduza as desigualdades, justamente por ter reservas de vagas a pessoas negras e ind\u00edgenas, al\u00e9m de pessoas com defici\u00eancia.<\/p>\n Outra entrevistada ressaltou que n\u00e3o \u00e9 suficiente apenas a pessoa ingressar no servi\u00e7o p\u00fablico, \u00e9 preciso que mais pessoas negras e ind\u00edgenas estejam em cargos de lideran\u00e7a.<\/p>\n \u201cQuando perguntada sobre o papel das a\u00e7\u00f5es afirmativas para o enfrentamento das desigualdades raciais, defendeu que a pol\u00edtica \u2013 embora muito importante para melhorar a qualidade dos perfis dos servidores p\u00fablicos federais \u2013 n\u00e3o gerou mudan\u00e7as radicais, pois, segundo ela, para haver mudan\u00e7as efetivas \u00e9 preciso que as pessoas negras estejam em posi\u00e7\u00f5es elevadas<\/strong> . Isso porque as pol\u00edticas de a\u00e7\u00f5es afirmativas garantem o acesso ao funcionalismo p\u00fablico, mas n\u00e3o a mobilidade na carreira, que continua sendo controlada majoritariamente por pessoas brancas\u201d, diz a pesquisa.<\/p>\n<\/blockquote>\n Os entrevistadores tamb\u00e9m investigaram os chamados pontos de virada nas carreiras das pessoas entrevistadas, ou seja, os contextos e as causas que as levaram \u00e0s posi\u00e7\u00f5es de poder.<\/p>\n Entre os aspectos citados est\u00e1 a import\u00e2ncia das lideran\u00e7as negras no Estado para que outras tamb\u00e9m possam se tornar l\u00edderes. Um dos entrevistados diz que conseguiu dois cargos \u201cpor sele\u00e7\u00e3o, e n\u00e3o por indica\u00e7\u00e3o\u201d. Mas que, um terceiro, apenas foi poss\u00edvel \u201cpor meio do convite de uma mulher preta em posi\u00e7\u00e3o de poder\u201d. O quarto foi na assessoria internacional obtido na vac\u00e2ncia do chefe quando n\u00e3o havia outra pessoa para assumir.<\/p>\n Os entrevistados citaram ainda, entre os pontos de virada, que a experi\u00eancia t\u00e9cnica, a articula\u00e7\u00e3o pol\u00edtica, o capital acad\u00eamico e at\u00e9 mesmo as trocas de governo foram o que possibilitaram que ocupassem espa\u00e7os de lideran\u00e7a.<\/p>\n \u201cA cria\u00e7\u00e3o de assessorias de participa\u00e7\u00e3o e diversidade nos minist\u00e9rios foi identificada tamb\u00e9m como um espa\u00e7o importante para perfis profissionais altamente qualificados em termos t\u00e9cnicos e que ainda poderiam apresentar de forma substantiva proposi\u00e7\u00f5es sobre a tem\u00e1tica da diversidade de g\u00eanero, ra\u00e7a e outros assuntos que costumam n\u00e3o estar na pauta priorit\u00e1ria dos espa\u00e7os decis\u00f3rios. Nessas assessorias, pessoas negras tiveram a oportunidade de assumir cargos em \u00e1reas com baixa presen\u00e7a de pessoas negras\u201d, diz a pesquisa.<\/p>\n As assessorias de Participa\u00e7\u00e3o Social e Diversidade dos Minist\u00e9rios foram criadas em 2023 e devem ser implementados em todas as pastas. Fazem parte do Sistema de Participa\u00e7\u00e3o Social.<\/p>\n<\/div>\n source <\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Siga @radiopiranhas Pessoas altamente qualificadas, que frequentaram o ensino superior p\u00fablico e possuem p\u00f3s-gradua\u00e7\u00e3o. Esse \u00e9 o perfil da maior parte das pessoas negras que ocupam os cargos de lideran\u00e7a no Poder Executivo. Embora a porcentagem de l\u00edderes negros e ind\u00edgenas tenha crescido nos \u00faltimos 25 anos , elas relatam… Continue lendo \n
Situa\u00e7\u00f5es constrangedoras<\/h2>\n
Defesa de pol\u00edticas e a\u00e7\u00f5es afirmativas<\/h2>\n
\n
Pontos de virada<\/h2>\n
Fonte:
\nR\u00e1dio Piranhas<\/p>\n