Estudo publicado nesta quinta-feira (21) esclarece, ap\u00f3s o monitoramento de mais de 20 beb\u00eas, o motivo de certas recorda\u00e7\u00f5es ficarem inacess\u00edveis com o tempo. Beb\u00ea viraliza ao fazer cara de bravo logo ap\u00f3s o nascimento em S\u00e3o Roque de Minas, no in\u00edcio de mar\u00e7o
\nCarol Wolf\/Arquivo Pessoal
\nOs primeiros anos dos humanos s\u00e3o um per\u00edodo de aprendizagem r\u00e1pido, mas normalmente n\u00e3o conseguimos nos lembrar de experi\u00eancias espec\u00edficas dessa \u00e9poca: \u00e9 o fen\u00f4meno conhecido como amn\u00e9sia infantil.
\nUm novo estudo publicado nesta quinta-feira (20), na prestigiosa revista cient\u00edfica “Science”, desafia as suposi\u00e7\u00f5es sobre a mem\u00f3ria infantil, demonstrando que a mente dos beb\u00eas \u00e9, sim, capaz de formar lembran\u00e7as.
\n\u27a1\ufe0fA pergunta \u00e9: por que \u00e9 t\u00e3o dif\u00edcil recuperar essas mem\u00f3rias mais adiante na vida?
\n“Sempre fui fascinado por este misterioso vazio na nossa hist\u00f3ria pessoal”, disse \u00e0 AFP Nick Turk-Browne, professor de psicologia em Yale e principal autor do estudo.
\nPor volta de um ano de idade, as crian\u00e7as se tornam aprendizes extraordin\u00e1rios: adquirem linguagem, andam, reconhecem objetos, compreendem os v\u00ednculos sociais e muito mais.
\n“No entanto, n\u00e3o lembramos nenhuma destas experi\u00eancias, pois existe uma esp\u00e9cie de desajuste entre essa incr\u00edvel plasticidade e nossa capacidade de aprendizado”, afirmou.
\nSigmund Freud, fundador da psican\u00e1lise, sugeriu a hip\u00f3tese de que as primeiras lembran\u00e7as s\u00e3o reprimidas, ainda que desde ent\u00e3o a ci\u00eancia tenha descartado em grande medida a ideia de um processo de supress\u00e3o ativa.
\nAs teorias modernas se centram no hipocampo, \u00e1rea do c\u00e9rebro crucial para a mem\u00f3ria epis\u00f3dica, que n\u00e3o se desenvolve completamente na inf\u00e2ncia.
\nTurk-Browne sentiu-se intrigado com as pistas de estudos comportamentais anteriores.
\nVisto que os beb\u00eas n\u00e3o conseguem comunicar verbalmente as lembran\u00e7as antes de adquirirem a linguagem, sua tend\u00eancia a observar objetos familiares por mais tempo d\u00e1 pistas importantes.
\nEstudos recentes com roedores que monitoram a atividade cerebral tamb\u00e9m demonstraram que os engramas (padr\u00f5es de c\u00e9lulas que armazenam lembran\u00e7as) se formam no hipocampo infantil, mas se tornam inacess\u00edveis com o tempo, embora possam ser reativados artificialmente mediante uma t\u00e9cnica que usa luz para estimular os neur\u00f4nios.
\nAt\u00e9 agora, combinar as observa\u00e7\u00f5es de crian\u00e7as pequenas com imagens cerebrais estava fora do alcance, pois beb\u00eas s\u00e3o sabidamente pouco cooperativos quando se trata de ficarem quietos dentro de uma m\u00e1quina de resson\u00e2ncia magn\u00e9tica funcional (fMRI), o dispositivo que rastreia o fluxo sangu\u00edneo para “ver” a atividade cerebral.
\nPadr\u00f5es psicod\u00e9licos
\nPara superar este desafio, a equipe de Turk-Browne usou m\u00e9todos que seu laborat\u00f3rio aperfei\u00e7oou ao longo dos anos: trabalhar com fam\u00edlias para incorporar chupetas, cobertores e bichos de pel\u00facia; manter os beb\u00eas est\u00e1veis com almofadas para que n\u00e3o se mexam; e usar padr\u00f5es psicod\u00e9licos de fundo para prender sua aten\u00e7\u00e3o.
\nO movimento inevit\u00e1vel produziu, no entanto, imagens borradas que tiveram de ser descartadas, mas a equipe solucionou o problema realizando centenas de sess\u00f5es.
\nNo total, participaram da experi\u00eancia 26 beb\u00eas (sendo a metade de menores de um ano e a outra metade, maiores). Eles tiveram o c\u00e9rebro escaneado durante uma tarefa de mem\u00f3ria, um exerc\u00edcio de estudo para adultos adaptado para eles.
\nPrimeiro, mostraram aos beb\u00eas imagens de rostos, cenas e objetos. Depois, ap\u00f3s verem outras imagens, exibiu-se uma que j\u00e1 tinham visto antes, junto com uma nova.
\n“Quantificamos o tempo que passaram olhando o que j\u00e1 tinham visto e essa \u00e9 uma medida de sua mem\u00f3ria para essa imagem”, explicou Turk-Browne.
\nAo comparar a atividade cerebral durante a forma\u00e7\u00e3o bem-sucedida de lembran\u00e7as com a de imagens esquecidas, os pesquisadores confirmaram que o hipocampo participa ativamente da codifica\u00e7\u00e3o da mem\u00f3ria desde a tenra idade.
\nIsto foi visto em 11 dos 13 beb\u00eas maiores de um ano, mas n\u00e3o nos menores.
\nEles tamb\u00e9m descobriram que os beb\u00eas com melhor rendimento em tarefas de mem\u00f3ria apresentaram uma atividade maior no hipocampo.
\n“Podemos concluir com precis\u00e3o que os beb\u00eas t\u00eam a capacidade de codificar lembran\u00e7as epis\u00f3dicas no hipocampo desde aproximadamente um ano de idade”, afirmou Turk-Browne.
\nLembran\u00e7as apagadas
\n“A ingenuidade de sua abordagem experimental n\u00e3o deve ser subestimada”, escreveram os pesquisadores Adam Ramsaran e Paul Frankland em um editorial da Science.
\nMas o que segue sem resposta \u00e9 o que acontece com estas lembran\u00e7as remotas. Talvez nunca se consolidem por completo no longo prazo ou talvez persistam, mas se tornem inacess\u00edveis.
\nTurk-Browne suspeita da segunda hip\u00f3tese e agora est\u00e1 encarregado de um novo estudo que avalia se beb\u00eas e crian\u00e7as pequenas conseguem reconhecer videoclipes gravados de sua pr\u00f3pria perspectiva quando eram beb\u00eas.
\nOs primeiros resultados provis\u00f3rios sugerem que estas lembran\u00e7as poderiam persistir at\u00e9 cerca dos tr\u00eas anos antes de desaparecerem.
\nTurk-Browne se diz intrigado especialmente com a possibilidade de que estes fragmentos possam ser reativados algum dia em etapas posteriores da vida.
\nGin\u00e1stica para o c\u00e9rebro: tarefas de mem\u00f3ria, aten\u00e7\u00e3o e resolu\u00e7\u00e3o de problemas melhoram a cogni\u00e7\u00e3o em idosos<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"