{"id":18796,"date":"2024-04-05T10:35:43","date_gmt":"2024-04-05T13:35:43","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/18796"},"modified":"2024-04-05T10:35:43","modified_gmt":"2024-04-05T13:35:43","slug":"mae-de-miguel-admite-que-levou-corpo-do-filho-ate-o-rio-e-diz-que-mala-era-o-caixaozinho-dele","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/18796","title":{"rendered":"M\u00e3e de Miguel admite que levou corpo do filho at\u00e9 o rio e diz que \u201cmala era o caix\u00e3ozinho dele\u201d"},"content":{"rendered":"
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Pela primeira vez, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 28 anos, m\u00e3e do menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, falou \u00e0 Justi\u00e7a sobre a morte do filho. Ela \u00e9 a primeira r\u00e9 a ser ouvida durante o julgamento em Tramanda\u00ed, no Litoral Norte, nesta quinta-feira (4).<\/p>\n

A mulher optou por somente responder as perguntas da pr\u00f3pria defesa \u2014 algo que j\u00e1 era previsto pela acusa\u00e7\u00e3o. Al\u00e9m dela, est\u00e1 sendo julgada a madrasta do garoto, Bruna Nathiele Porto da Rosa, 26 anos. As duas respondem pelo assassinato do garoto, por tortura e oculta\u00e7\u00e3o de cad\u00e1ver.<\/p>\n

Num tom sereno em boa parte do depoimento, que durou cerca de duas horas, Yasmin alegou que era uma m\u00e3e presente e zelosa com o filho. Um dos pontos explorados pela defesa foi o fato de o pai n\u00e3o ter aceito a sexualidade da filha. Yasmin tamb\u00e9m alegou que Miguel foi fruto de um relacionamento de um ano e que o pai do garoto nunca teve contato com ele, e que nem sequer conhecia o filho pessoalmente. As perguntas foram feitas pela advogada Thais Constantin, respons\u00e1vel pela defesa dela.<\/p>\n

\u2014 At\u00e9 eu conhecer essa pessoa (Bruna), o Miguel era presente em tudo. Eu sou a m\u00e3e do Miguel. Minha realiza\u00e7\u00e3o da vida era ser m\u00e3e \u2014 disse.<\/p>\n

Yasmin relatou ter conhecido Bruna por meio das redes sociais e que as duas teriam se encontrado pela primeira vez cerca de um m\u00eas depois. A r\u00e9 afirmou que foi o relacionamento dela com Bruna que gerou seu afastamento de Miguel e que ela teria sido a culpada pelo que aconteceu com a crian\u00e7a. A vers\u00e3o \u00e9 o oposto do apresentado pela madrasta, que relatou em audi\u00eancia anterior que quem espancou e dopou Miguel foi Yasmin.<\/p>\n

Mudan\u00e7as<\/strong><\/p>\n

No interrogat\u00f3rio, Yasmin detalhou como teria sido a rela\u00e7\u00e3o com Bruna. Afirmou que elas teriam vivido juntas em Pelotas, no sul do Estado, em Porto Alegre, e tamb\u00e9m em Para\u00ed, na Serra, cidade de onde Miguel era natural. Durante o per\u00edodo na Capital, segundo Yasmin, a situa\u00e7\u00e3o era muito tumultuada na casa de familiares de Bruna:<\/p>\n

\u2014 Se eu n\u00e3o colocasse comida dentro de casa, n\u00e3o tinha como comer.<\/p>\n

A r\u00e9 alegou que a companheira lhe fazia acreditar que s\u00f3 poderia ser feliz ao lado dela, e que assim poderia ter uma fam\u00edlia.<\/p>\n

\u2014 Era briga, pedido de desculpa. \u201cTua m\u00e3e vai te rejeitar. Tua m\u00e3e n\u00e3o te aceita\u201d \u2014 disse.<\/p>\n

\u00c0s 18h56min, Yasmin chorou pela primeira vez, ao contar que teria sido espancada pelo pai, ap\u00f3s a fam\u00edlia descobrir que ela mantinha relacionamento com uma mulher. Por mais de uma vez, ela alegou que Bruna lhe convencia a seguir com o relacionamento, mesmo em meio a brigas.<\/p>\n

\u2014 Eu tava decidida, eu ia embora. Diversas vezes eu pedia dinheiro para minha m\u00e3e pra voltar pra casa. A minha fam\u00edlia era o Miguel. Se ela se juntasse ao Miguel eu ia ter minha fam\u00edlia \u2014 disse.<\/p>\n

Litoral Norte<\/strong><\/p>\n

Ap\u00f3s Miguel come\u00e7ar a morar com as duas, em Porto Alegre, segundo Yasmin eles mantinham uma rotina de fam\u00edlia, at\u00e9 fevereiro de 2021. A r\u00e9 voltou a chorar quando questionada pela defesa sobre uma tentativa de suic\u00eddio, que teria ocorrido em mar\u00e7o, quando ainda estava morando em Porto Alegre.<\/p>\n

\u2014 Era briga atr\u00e1s de briga. O meu filho n\u00e3o tinha passar por aquilo \u2014 disse.<\/p>\n

Yasmin relatou que, mesmo ap\u00f3s esse epis\u00f3dio, manteve o relacionamento com Bruna porque teria sido cuidada por ela durante esse per\u00edodo.<\/p>\n

\u2014 Mais uma vez ela usou o fato de eu ser rejeitada. Ela cuidou de mim. Disse que ficou com muito medo de me perder \u2014 afirmou.<\/p>\n

Yasmin, que afirmou ter se prostitu\u00eddo em alguns momentos, alegou que decidiu ir morar no Litoral Norte como forma de deixar a casa da fam\u00edlia da namorada. Ela teria feito contato com um homem com quem j\u00e1 havia mantido uma rela\u00e7\u00e3o anteriormente, para que ele lhe auxiliasse financeiramente. Para isso, teria passado a ser acompanhante deste homem, em troca de dinheiro.<\/p>\n

\u2014 Quando eu tive oportunidade, falei que n\u00e3o ia mais ficar l\u00e1. Ou ela ia comigo, ou eu ia sozinha. E a\u00ed ela veio junto, como cuidadora do Miguel e minha cuidadora \u2014 relatou.<\/p>\n

A rela\u00e7\u00e3o de Bruna e Miguel<\/strong><\/p>\n

Yasmin disse que num dos encontros que teve com este homem, ele teria lhe beijado e Bruna teria visto a cena.<\/p>\n

A m\u00e3e alegou que no in\u00edcio era ela quem auxiliava o filho a realizar as tarefas da escola em Imb\u00e9 e que eram feitas de forma remota por conta do per\u00edodo de pandemia. No entanto, quando estava trabalhando num restaurante, Bruna teria passado a auxiliar o enteado com os estudos. Yasmin disse que a companheira reclamava constantemente do menino.<\/p>\n

\u2014 \u201cO Miguel era isso, era aquilo. O Miguel n\u00e3o sabe ler\u201d. Era s\u00f3 reclama\u00e7\u00e3o. Ela dizia que o Miguel n\u00e3o era dedicado. Eu n\u00e3o gostava porque tinha que ficar escutando reclama\u00e7\u00e3o o dia inteiro. Eu trabalhava o dia inteiro e tinha que ficar escutando blim, bilm de telefone o dia inteiro de uma criatura que ficava o dia todo em casa, sem fazer nada. Eu n\u00e3o quero tirar a minha culpa. Mas n\u00e3o era f\u00e1cil \u2014 disse.<\/p>\n

Yasmin disse que a namorada fazia uso excessivo de medicamentos e que havia uma suspeita de que ela pudesse sofrer de espectro autista. Yasmin tamb\u00e9m alegou que a companheira passou a relatar que tinha transtorno dissociativo de identidade, ap\u00f3s assistir ao filme Fragmentado. Depois disso, segundo a r\u00e9, Bruna passou a apresentar cinco personalidades. Uma delas teria o nome de Lorenzo. Durante as investiga\u00e7\u00f5es, a pol\u00edcia localizou mensagens trocadas entre as duas, nas quais Bruna escreveu: \u201cTudo bem amor? O Miguel se soltou da\u00ed o Lorenzo prendeu de novo e deu comida para ele, ele mandou dizer pra ti prender mais forte da\u00ed, da\u00ed eu tomei caf\u00e9\u201d.<\/p>\n

\u2014 Lorenzo \u00e9 um ser que habitava o corpo dela, junto com quatro personalidades \u2014 disse Yasmin.<\/p>\n

Yasmin disse que Bruna insistia que ela deveria ser mais r\u00edgida com Miguel. \u00c0s 19h28min, a r\u00e9 chorou mais uma vez.<\/p>\n

\u2014 Eu sou um monstro. Eu sou muito monstro. Se estou aqui \u00e9 porque errei para caramba. Se est\u00e1 todo mundo aqui, \u00e9 porque eu fui p\u00e9ssima como m\u00e3e, como ser humano. Mas eu jamais imaginei que ela pudesse fazer isso \u2014 afirmou.<\/p>\n

A r\u00e9 negou que soubesse que Miguel estava sendo preso num arm\u00e1rio pela companheira. Disse que Miguel teria passado a ficar cada vez mais arredio, e que teria se afastado dela.<\/p>\n

\u2014 Foi a\u00ed que eu comecei a pedir para minha m\u00e3e buscar ele, mas n\u00e3o era o que eu desejava. O meu filho foi meu sonho de vida. Queria que ela (a av\u00f3) cuidasse dele porque eu n\u00e3o estava conseguindo cuidar. O Miguel estava emagrecendo, n\u00e3o estava comendo. A Bruna dizia que ele n\u00e3o comia nada o dia inteiro \u2014 falou, emocionada.<\/p>\n

Agress\u00f5es<\/strong><\/p>\n

Yasmin admitiu ter batido no filho na segunda-feira anterior ao crime. Ela relatou ter novamente batido no filho, ao chegar em casa, com mais for\u00e7a. Nas duas oportunidades, o menino teria sujado as roupas e os m\u00f3veis da casa com fezes. Sobre o dia da morte do menino, Yasmin alegou que o filho acordou estranho:<\/p>\n

\u2014 Molinho, geladinho, sem querer comer. Ele estava magro e eu estava dando ele para minha m\u00e3e. Eu soquei comida nele. Fazia caldo de feij\u00e3o e tocava nele. Era o m\u00ednimo que eu tinha que fazer, obrigar ele a comer. Nesse dia ele n\u00e3o quis comer. Eu fiz sopa, fiz mamadeira, fiz suco, fiz caldo de feij\u00e3o, fiz tudo. Nada ele quis. Eu peguei, fui na farm\u00e1cia, comprei duas seringas e ia fazer ele comer. N\u00e3o importasse como \u2014 disse.<\/p>\n

No mesmo dia, Yasmin teria pedido ao homem com quem mantinha relacionamento para que levasse alguns medicamentos para o filho.<\/p>\n

\u2014 \u00a0Hoje eu sei que independente do que fosse acontecer, eu deveria ter levado para o m\u00e9dico, mas naquele dia eu n\u00e3o fiz isso \u2014 alegou.<\/p>\n

O corpo no rio<\/strong><\/p>\n

Ao falar sobre o momento da morte de Miguel, Yasmin se desesperou. Ela narrou que passou cerca de 40 minutos conversando com o homem do lado de fora da pousada, e que quando retornou deparou com Bruna sob a mesa, em posi\u00e7\u00e3o fetal.<\/p>\n

\u2014 Olhei pra ela e perguntei: \u201cCad\u00ea o Miguel?\u201d. Sa\u00ed correndo para dentro do quarto e do banheiro. Eu vi o Miguel deitado. Eu n\u00e3o queria. Vi o Miguel deitado, no ch\u00e3o. Ele estava todo gelado, todo roxo. Voltei pra ela. Perguntei o que tinha acontecido. Ela simplesmente disse que o Miguel estava morto. Estava roxo e duro \u2014 afirmou.<\/p>\n

Yasmin disse que n\u00e3o pediu ajuda porque se sentiu culpada por ter deixado o filho morrer.<\/p>\n

\u2014 Ent\u00e3o eu peguei ele no colo, ele n\u00e3o tava vestido adequado, estava frio. Vesti um casaco quentinho e coloquei um casaco. Ela levantou e veio com a mala, e disse que a gente tinha que fazer alguma coisa.<\/p>\n

Vi o Miguel deitado, no ch\u00e3o. Ele estava todo gelado, todo roxo. Voltei pra ela. Perguntei o que tinha acontecido. Ela simplesmente disse que o Miguel estava morto. Estava roxo e duro.
\nNeste momento, Yasmin se desesperou, e o delegado Ant\u00f4nio Carlos Ractz, que investigou o caso, retirou-se da sala. A investiga\u00e7\u00e3o apontou que Yasmin espancou o filho brutalmente e dopou a crian\u00e7a, provocando a morte do filho.<\/p>\n

\u2014 Eu levei ele at\u00e9 o rio \u2014 desesperou-se outra vez.<\/p>\n

Yasmin admitiu ter sido ela a colocar o filho dentro da mala e ter carregado o corpo da crian\u00e7a at\u00e9 o rio. A defesa indagou por qual motivo ela carregou a mala.<\/p>\n

\u2014 Naquele momento e estava pensando no meu filho. O meu filho estava morto. E aquela mala era o caix\u00e3ozinho dele. E eu n\u00e3o podia deixar ningu\u00e9m mais carregar. O filho era meu \u2014afirmou.<\/p>\n

Yasmin diz que se sente culpada por ter permitido que Miguel convivesse com pessoas, como Bruna.<\/p>\n

\u2014 Eu amava o meu filho. Amo meu filho. Rezo pelo Miguel todos os dias. Pe\u00e7o que ele me perdoe todo os dias. S\u00f3 queria por um mil\u00e9simo de segundo ouvir a seguinte frase: \u201cMam\u00e3e, eu te perdoo e eu te amo\u201d. Eu fui m\u00e3e de Miguel, at\u00e9 conhecer a Bruna, depois eu fui s\u00f3 uma genitora. (Ga\u00fachaZH)<\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Pela primeira vez, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 28 anos, m\u00e3e do menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos, falou \u00e0 Justi\u00e7a sobre a morte do filho. Ela \u00e9 a primeira r\u00e9 a ser ouvida durante o julgamento em Tramanda\u00ed, no Litoral Norte, nesta quinta-feira (4). A mulher optou por… Continue lendo → <\/span><\/a><\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":0,"comment_status":"closed","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"footnotes":""},"categories":[1],"tags":[],"class_list":["post-18796","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-sem-categoria"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18796","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=18796"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/18796\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=18796"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=18796"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=18796"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}