{"id":13518,"date":"2024-03-23T05:19:22","date_gmt":"2024-03-23T08:19:22","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/13518"},"modified":"2024-03-23T05:19:22","modified_gmt":"2024-03-23T08:19:22","slug":"estudo-traz-nova-hipotese-sobre-a-ocupacao-do-litoral-sul-brasileiro-ha-2-mil-anos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/13518","title":{"rendered":"Estudo traz nova hip\u00f3tese sobre a ocupa\u00e7\u00e3o do litoral sul brasileiro h\u00e1 2 mil anos"},"content":{"rendered":"
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Um importante cap\u00edtulo da hist\u00f3ria da ocupa\u00e7\u00e3o do litoral brasileiro est\u00e1 sendo reescrito por pesquisadores do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de S\u00e3o Paulo (MAE-USP) apoiados pela FAPESP.<\/p>\n

Em estudopublicado\u00a0na revista\u00a0PLOS ONE<\/em>\u00a0nesta quinta-feira (21\/03), o grupo, que inclui ainda autores de Santa Catarina, Estados Unidos, B\u00e9lgica e Fran\u00e7a, mostra que os povos construtores de sambaquis do s\u00edtio Galheta IV, na cidade catarinense de Laguna, n\u00e3o foram substitu\u00eddos por ancestrais dos povos J\u00ea do Sul, como se aventou no passado.<\/p>\n

\u201cA intera\u00e7\u00e3o dos sambaquieiros com os povos proto-J\u00ea, como chamamos, foi muito menor do que se imaginava. As pr\u00e1ticas funer\u00e1rias e a cer\u00e2mica eram diferentes. Al\u00e9m disso, os sambaquieiros viveram ali desde a inf\u00e2ncia e eram descendentes de outros que viveram naquele mesmo lugar\u201d, resume\u00a0Andr\u00e9 Strauss, professor do MAE-USP e coordenador do estudo.<\/p>\n

A hip\u00f3tese da substitui\u00e7\u00e3o de um povo pelo outro se deu, em parte, porque s\u00edtios como Galheta IV marcam o fim da pr\u00e1tica de constru\u00e7\u00e3o de sambaquis. Monumentos mais emblem\u00e1ticos da arqueologia da costa sul-americana, os sambaquis s\u00e3o grandes montes de conchas e ossos de peixes erguidos intencionalmente. Foram usados tanto como habita\u00e7\u00e3o quanto como cemit\u00e9rios e para demarcar territ\u00f3rio.<\/p>\n

Nas camadas mais recentes desses montes, s\u00e3o encontrados restos de cer\u00e2mica semelhante \u00e0 dos ancestrais dos povos ind\u00edgenas J\u00ea do Sul (Kaingang e Lakl\u00e3n\u00f5-Xokleng). Esse foi outro motivo pelo qual se aventou, por muito tempo, que as popula\u00e7\u00f5es do planalto catarinense tenham substitu\u00eddo os construtores de sambaquis, o que foi refutado agora.<\/p>\n

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\nExemplo de Sambaqui do litoral de Santa Catarina: montes formados por conchas, areia e restos de fogueira onde pessoas eram sepultadas\u00a0(foto: J\u00e9ssica M. Cardoso<\/em>)<\/p>\n

\u201cN\u00e3o se sabe por que os sambaquis pararam de ser constru\u00eddos. Algumas hip\u00f3teses v\u00e3o do contato com outras culturas at\u00e9 mudan\u00e7as ambientais, como a altera\u00e7\u00e3o da salinidade e do n\u00edvel do mar, que pode ter diminu\u00eddo a disponibilidade de moluscos que eram mat\u00e9ria-prima para a constru\u00e7\u00e3o desses s\u00edtios\u201d, explica\u00a0J\u00e9ssica Mendes<\/a> Car<\/a>doso<\/a>, primeira autora do estudo, realizado durante seu doutorado no MAE-USP e na Universidade de Toulouse, na Fran\u00e7a.<\/p>\n

Cardoso reanalisou o material coletado entre 2005 e 2007 por outra equipe do MAE-USP e do Grupo de Pesquisa em Educa\u00e7\u00e3o Patrimonial e Arqueologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (Grupep\/Unisul), quando os esqueletos de oito indiv\u00edduos foram exumados. Dessa vez, foram utilizados m\u00e9todos como an\u00e1lise de is\u00f3topos de estr\u00f4ncio, carbono e nitrog\u00eanio.<\/p>\n

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\nJ\u00e9ssica Cardoso analisa restos de animais presentes no s\u00edtio arqueol\u00f3gico Galheta IV (foto: acervo pessoal<\/em>)<\/p>\n

As t\u00e9cnicas foram determinantes para definir a dieta daquele povo, que era 60% composta de recursos marinhos, como peixes. A an\u00e1lise dos ossos mostra ainda que os indiv\u00edduos n\u00e3o foram cremados, como faziam os proto-J\u00ea do sul do pa\u00eds com seus mortos.<\/p>\n

Outras an\u00e1lises inclu\u00edram os restos de fauna, principalmente peixes, comuns em sambaquis. Diferente de outros, este s\u00edtio contava ainda com ossos de aves marinhas, como albatrozes e pinguins, e mesmo mam\u00edferos, como um lobo-marinho.<\/p>\n

\u201cEstes animais n\u00e3o eram parte da dieta cotidiana, mas consumidos sazonalmente, nos per\u00edodos em que estavam migrando e podiam ser capturados naquele local. Provavelmente, seu consumo era parte de rituais funer\u00e1rios, uma vez que as pessoas n\u00e3o moravam nesse s\u00edtio, apenas enterravam seus mortos\u201d, conta Cardoso. Em um dos sepultamentos, por exemplo, havia 12 albatrozes.<\/p>\n

Uma nova data\u00e7\u00e3o determinou ainda que o s\u00edtio \u00e9 mais antigo do que se calculava, tendo sido constru\u00eddo e frequentado entre 1.300 e 500 anos atr\u00e1s. A estimativa anterior dava conta de 1.170 a 900 anos atr\u00e1s.<\/p>\n

Pedra de roseta<\/strong><\/p>\n

A an\u00e1lise da cer\u00e2mica encontrada no s\u00edtio arqueol\u00f3gico tamb\u00e9m aponta que os proto-J\u00ea podem ter sido apenas uma influ\u00eancia cultural adotada pelos sambaquieiros. Dos 190 fragmentos presentes no s\u00edtio, 131 com tamanho suficiente para a an\u00e1lise foram examinados.<\/p>\n

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\nEquipe do MAE-USP e Grupep\/Unisul faz escava\u00e7\u00e3o no s\u00edtio arqueol\u00f3gico Galheta IV em 2006 (foto: Paulo DeBlasis<\/em>)<\/p>\n

\u201cA cer\u00e2mica tem caracter\u00edsticas de forma e decora\u00e7\u00e3o muito distintas das encontradas no planalto de Santa Catarina. As semelhan\u00e7as se d\u00e3o com as do litoral, tanto ao norte quanto ao sul do Estado, o que mostra um tr\u00e2nsito desses objetos pela costa. Inclusive, essa \u00e9 a cer\u00e2mica mais antiga j\u00e1 encontrada no Estado, com 1.300 anos, enquanto a do planalto tem cerca de mil anos\u201d, explana\u00a0Fabiana Merencio, coautora do trabalho, realizado durante doutorado no MAE-USP com\u00a0bolsa\u00a0da FAPESP e atualmente p\u00f3s-doutoranda na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).<\/p>\n

\u201cEstamos mostrando o aparecimento de uma nova express\u00e3o da materialidade humana na costa, por volta de mil anos atr\u00e1s, que \u00e9 a substitui\u00e7\u00e3o dos sambaquis por s\u00edtios sem conchas de moluscos e presen\u00e7a de cer\u00e2mica. Este s\u00edtio \u00e9 uma pedra de roseta para entender essas conex\u00f5es\u201d, encerra Strauss.<\/p>\n

Fonte: FAPESP<\/p>\n<\/div>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

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