{"id":13095,"date":"2024-03-22T10:04:40","date_gmt":"2024-03-22T13:04:40","guid":{"rendered":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/13095"},"modified":"2024-03-22T10:04:40","modified_gmt":"2024-03-22T13:04:40","slug":"entenda-como-a-nova-onda-de-fake-news-influencia-a-guerra-digital","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/agencia4.jornalfloripa.com.br\/leragencia4\/13095","title":{"rendered":"Entenda como a nova onda de fake news influencia a guerra digital"},"content":{"rendered":"
H\u00e1 uma nova onda de desinforma\u00e7\u00e3o no Brasil, impulsionada por conte\u00fados e not\u00edcias falsas \u2013 fake news \u2013 nas \u00e1reas de sa\u00fade, educa\u00e7\u00e3o, atreladas aos costumes. Neste primeiro trimestre de 2024, teorias conspirat\u00f3rias se propagam nas redes sociais com informa\u00e7\u00f5es falsas sobre vacinas, dengue, aborto, escola sem partido, doutrina\u00e7\u00e3o de esquerda, cultura LGBT e erotiza\u00e7\u00e3o, observam pesquisadores.<\/p>\n
Em anos eleitorais, atesta a jornalista e pesquisadora Magali Cunha, do Instituto de Estudos da Religi\u00e3o (Iser), do Rio de Janeiro, a propaga\u00e7\u00e3o de fake news \u00e9 intensificada.<\/p>\n
\u201cOs anos de 2018, 2020 e 2022 foram muito intensos com desinforma\u00e7\u00e3o nos ambientes digitais. J\u00e1 entre 2019 e 2021, houve deliberadamente uma pol\u00edtica de desinformar, promovida pelo governo [do presidente Jair] Bolsonaro. Mas desde outubro do ano passado, \u00e9 cada vez mais alta a intensidade e quantidade de not\u00edcias falsas\u201d,<\/em> constata Magali. Uma verdadeira guerra digital, acrescenta.<\/p>\n H\u00e1 ainda um ataque sist\u00eamico \u00e0 m\u00eddia tradicional. \u201cA manipula\u00e7\u00e3o da informa\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m \u00e9 promovida pelo grande ataque \u00e0 credibilidade dos jornais, r\u00e1dios, emissoras de televis\u00e3o e jornalistas. Outro objetivo \u00e9 identificar pontos mais sens\u00edveis na polariza\u00e7\u00e3o da sociedade e minar o trabalho s\u00e9rio da imprensa tradicional\u201d<\/em>, explica Solano de Camargo, presidente da Comiss\u00e3o de Privacidade, Prote\u00e7\u00e3o de Dados e Intelig\u00eancia Artificial da Ordem dos Advogados do Brasil, seccional S\u00e3o Paulo (OAB SP).<\/p>\n Grupos conservadores e de extrema direita est\u00e3o sendo eficientes nessa guerra de informa\u00e7\u00e3o pelas redes sociais. Quando o assunto \u00e9 sa\u00fade, a dissemina\u00e7\u00e3o de ideias-chave pelas redes sociais vive um momento crescente e \u201cutiliza a pol\u00edtica para convencer a popula\u00e7\u00e3o e criar p\u00e2nico verbal\u201d,<\/em> alerta a especialista em comunica\u00e7\u00e3o e religi\u00e3o Magali Cunha.<\/p>\n \u201cO nosso monitoramento de grupos de influenciadores religiosos aponta um verdadeiro bombardeio de conte\u00fados falsos, que depois acaba sendo alimentado pela pr\u00f3pria grande m\u00eddia. S\u00e3o not\u00edcias com t\u00edtulos enganosos, que podem induzir leitores a construir pensamentos e a\u00e7\u00f5es negativas sobre determinadas pautas. Estamos num momento muito grave do ponto de vista da comunica\u00e7\u00e3o e da informa\u00e7\u00e3o. Isso passa pelos produtores e disseminadores da desinforma\u00e7\u00e3o, os chamados influenciadores das fake news. Mas a grande imprensa e muitos pol\u00edticos tamb\u00e9m t\u00eam seu papel negativo nesse ecossistema, porque municiam a desinforma\u00e7\u00e3o com conte\u00fado n\u00e3o verdadeiro, que depois \u00e9 trabalhado por esses grupos\u201d,<\/em> avalia Magali.<\/p>\n Para Eliara Santana, pesquisadora associada do Centro de L\u00f3gica, Epistemologia e Hist\u00f3ria da Ci\u00eancia da Universidade Estadual de Campinas (CLE\/Unicamp), onde atua no projeto Pergunte a um\/uma cientista e integrante do Observat\u00f3rio das Elei\u00e7\u00f5es, houve um recuo programado na dissemina\u00e7\u00e3o de fake news no fim de 2022, com a elei\u00e7\u00e3o de Luiz In\u00e1cio Lula da Silva para a Presid\u00eancia da Rep\u00fablica.<\/p>\n \u201cMas ao longo de 2023 isso foi retornando. Trata-se de uma estrat\u00e9gia. Agora tudo volta com muita for\u00e7a\u201d,<\/em> analisa Eliara.<\/p>\n A manipula\u00e7\u00e3o da opini\u00e3o p\u00fablica atrav\u00e9s da desinforma\u00e7\u00e3o, rememora Solano de Camargo, ficou evidente no processo de consulta da popula\u00e7\u00e3o do Reino Unido sobre a sa\u00edda da Uni\u00e3o Europeia em 2020 e vem se aperfei\u00e7oando cada vez mais, principalmente agora com o uso de intelig\u00eancia artificial.<\/p>\n \u201cOs processos s\u00e3o muito elaborados e planejados com o uso de deep fake [t\u00e9cnica que permite alterar um v\u00eddeo ou foto com ajuda de intelig\u00eancia artificial] para alterar discursos, alterar textos escritos, \u00e1udios, fotos e v\u00eddeos. Pode-se manipular a opini\u00e3o p\u00fablica como quiserem, o que ter\u00e1 reflexos, inclusive, em pesquisas de opini\u00e3o\u201d,<\/em> afirma o advogado.<\/p>\n Somente uma plataforma de checagem de conte\u00fado, a Ag\u00eancia Lupa, que integra o The Trust Project no combate \u00e0 desinforma\u00e7\u00e3o e educa\u00e7\u00e3o midi\u00e1tica, registra que em janeiro e fevereiro, mais os 15 primeiros dias de mar\u00e7o deste ano, foram analisadas 137 informa\u00e7\u00f5es que circulam pelas redes sociais com conte\u00fado falso.<\/p>\n A dengue \u00e9 uma pauta predominante nesse per\u00edodo, com 28 postagens listadas pela Lupa. S\u00e3o falsas not\u00edcias com receitas milagrosas para a cura da doen\u00e7a, indica\u00e7\u00e3o de medicamentos como a ivermectina \u2013 f\u00e1rmaco para tratamento de parasitoses, mas sem efic\u00e1cia, e que fora recomendada para o tratamento da covid durante a epidemia da doen\u00e7a \u2013, entre outros temas relacionados, que chamam a aten\u00e7\u00e3o do cidad\u00e3o e criam teorias conspirat\u00f3rias que se propagam pelas redes sociais com informa\u00e7\u00f5es falsas.<\/p>\n Ainda de acordo com registros da Lupa, em 2023 houve a checagem de 4.009 postagens falsas com in\u00fameros conte\u00fados, o que perfaz uma m\u00e9dia de 5,5 not\u00edcias desinformativas e manipuladoras por dia.<\/p>\n Circuito desinformativo<\/strong><\/p>\n O ecossistema de desinforma\u00e7\u00e3o \u00e9 retroalimentado por um circuito onde as fake news trafegam e ganham cada vez mais espa\u00e7o, sem que as pessoas percebam.<\/p>\n \u201cTudo come\u00e7a com um meme com desinforma\u00e7\u00e3o que viraliza. Ent\u00e3o esse meme \u00e9 replicado por um ve\u00edculo de imprensa normalmente atrelado ao campo da direita ou extrema-direita, que vai usar a informa\u00e7\u00e3o, fazer entrevistas, repercutir tal fato\/caso. Na sequ\u00eancia, um parlamentar sobe na tribuna da C\u00e2mara, em Bras\u00edlia, ou nos estados ou munic\u00edpios, e faz um discurso sobre o mesmo tema, dando legitimidade ao conte\u00fado. \u00c9 o que faltava para que a grande m\u00eddia fa\u00e7a mat\u00e9rias a respeito, alimentando esse ecossistema de desinforma\u00e7\u00e3o\u201d,<\/em> explica Magali Cunha.<\/p>\n Tudo isso \u00e9 transformado em mensagens, que s\u00e3o repetidas \u00e0 exaust\u00e3o em grupos de WhatsApp e em redes sociais. \u201cCria-se uma bolha informacional na medida em que pessoas com interesses parecidos compartilham entre si os mesmos conte\u00fados\u201d,<\/em> chama a aten\u00e7\u00e3o a pesquisadora Eliara Santana. Assim, o algoritmo detecta essa ocorr\u00eancia e aprende aquilo que o grupo entende ser importante e quer receber.<\/p>\n Na pr\u00e1tica funciona assim: um parlamentar federal conservador de extrema direita faz coment\u00e1rio sobre um trecho espec\u00edfico de v\u00eddeo de debate na Confer\u00eancia Nacional de Educa\u00e7\u00e3o, realizada em janeiro. Ele critica a milit\u00e2ncia LGBT. S\u00f3 que o trecho utilizado na cr\u00edtica \u00e9 manipulado de modo a parecer que o governo federal trabalha para formar milit\u00e2ncia LGBT nas salas de aula.<\/p>\n Esse deputado pega um trecho do debate onde representante do movimento LGBT diz ser preciso ter os pr\u00f3prios materiais e conte\u00fado nas salas de aula e formar militantes do movimento. Mas nesse ponto exato da fala, o v\u00eddeo \u00e9 pausado e o deputado comenta em tom de den\u00fancia: \u201cele acaba de admitir que v\u00e3o formar militantes LGBT dentro das escolas\u201d.<\/em><\/p>\n Essa fake news come\u00e7a a ser espalhada nas redes sociais por meio de grupos evang\u00e9licos, conservadores e v\u00e1rios outros. Atrelada a essa informa\u00e7\u00e3o falsa, surgem outras desinforma\u00e7\u00f5es, promovidas pelo algoritmo.<\/p>\n Uma dessas manobras desinformativas \u00e9 refletida numa not\u00edcia de agosto de 2023, na m\u00eddia de extrema-direita. A mat\u00e9ria diz que o \u201cgoverno Lula retoma educa\u00e7\u00e3o sexual nas escolas\u201d. Uma outra destaca que o \u201cMinist\u00e9rio da Sa\u00fade vai liberar R$ 90 milh\u00f5es para a iniciativa\u201d.<\/p>\n Assim, os coment\u00e1rios sobre esses posts se sucedem sempre no tom escandaloso de \u201ccomo o governo Lula permite isso\u201d, al\u00e9m de conter cr\u00edticas, ofensas e xingamentos. Tudo o que vai contribuir para a constru\u00e7\u00e3o de uma m\u00e1 avalia\u00e7\u00e3o do governo federal e para a cria\u00e7\u00e3o de imagem falsa sobre o trabalho na \u00e1rea de Educa\u00e7\u00e3o nas escolas do pa\u00eds.<\/p>\n A Ag\u00eancia Lupa, ao checar os posts citados acima, e a suposta informa\u00e7\u00e3o de que \u201cgoverno Lula retoma educa\u00e7\u00e3o sexual nas escolas\u201d, comprova a manipula\u00e7\u00e3o no post desinformativo.<\/p>\n O fato real \u00e9 que em 26 de julho de 2023, o Minist\u00e9rio da Sa\u00fade anunciou a retomada da promo\u00e7\u00e3o da educa\u00e7\u00e3o sexual e reprodutiva e da preven\u00e7\u00e3o de doen\u00e7as sexualmente transmiss\u00edveis no Programa Sa\u00fade na Escola. A iniciativa \u2013 conforme a Portaria n\u00ba 1.004\/2023 \u2013 prev\u00ea a destina\u00e7\u00e3o de R$ 90,3 milh\u00f5es para os munic\u00edpios que aderiram ao programa para o ciclo 2023\/2024.<\/p>\n Os grupos evang\u00e9licos, diz Magali Cunha, \u00e9 uma das partes respons\u00e1veis por essa hegemonia conservadora na propaga\u00e7\u00e3o da desinforma\u00e7\u00e3o. \u201cMas os grupos cat\u00f3licos conservadores tamb\u00e9m atuam com muita intensidade\u201d,<\/em> chama a aten\u00e7\u00e3o a pesquisadora. Ela cita ainda jornalistas, pol\u00edticos, artistas e os chamados influencers como pontos base na dissemina\u00e7\u00e3o de fake news.<\/p>\n O C\u00f3digo Penal e o Poder Judici\u00e1rio s\u00e3o importantes respostas da sociedade para combater a desinforma\u00e7\u00e3o e fake news. \u201cMas a melhor resposta \u00e9 o letramento, o ensinamento sobre o que \u00e9 desinforma\u00e7\u00e3o e suas consequ\u00eancias, al\u00e9m da divulga\u00e7\u00e3o de fontes de informa\u00e7\u00e3o confi\u00e1veis e a valoriza\u00e7\u00e3o da m\u00eddia tradicional e do trabalho de jornalistas \u00e9ticos e respeitados\u201d, observa Solano de Camargo, da OAB SP.<\/p>\n Pesquisa Senado<\/p>\n Pelo menos 76% da popula\u00e7\u00e3o brasileira foi exposta a informa\u00e7\u00f5es falsas sobre pol\u00edtica no segundo semestre de 2022. Essa \u00e9 uma das constata\u00e7\u00f5es registradas no Panorama Pol\u00edtico 2023, uma pesquisa do Senado Federal que investigou as opini\u00f5es sobre democracia, sociedade e prioridades do cidad\u00e3o em um contexto p\u00f3s-eleitoral.<\/p>\n A pesquisa revelou que 89% dos entrevistados disseram ter tido contato com not\u00edcias falsas sobre pol\u00edticas que acreditavam ser falsas. Mais ainda, entre os usu\u00e1rios de WhatsApp e Telegram, 67% entendem que tiveram acesso a algum tipo de conte\u00fado que pode ser desinformativo. Esse n\u00famero sobe para 83% no Facebook, Instagram e Youtube.<\/p>\n Eduardo Reina- Rep\u00f3rter da Ag\u00eancia Brasil \u2013 S\u00e3o Paulo<\/strong><\/p>\n<\/div>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" H\u00e1 uma nova onda de desinforma\u00e7\u00e3o no Brasil, impulsionada por conte\u00fados e not\u00edcias falsas \u2013 fake news \u2013 nas \u00e1reas de sa\u00fade, educa\u00e7\u00e3o, atreladas aos costumes. 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