Saúde e realização nos negócios

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Apesar de ser conhecida como um período de descanso, a aposentadoria tem um significado diferente para Ivone Mousinho e Josefa Martins, com 64 e 68 anos, respectivamente. Ambas preferiram aproveitar essa fase da vida fazendo o que amam: o artesanato. O trabalho como artesãs é especialmente importante para elas, tendo-lhes ajudado a combater a depressão.

Josefa começou a estudar e produzir artesanato, há oito anos, como um hobby. Foi apenas mais tarde que ela começou a comercializar suas obras. “A minha história com o artesanato começou em um momento de tristeza. Perdi dois filhos e entrei em uma depressão profunda. Fiquei em estado de loucura, sem saber quem eu era, onde estava. Fiz um tratamento, na época, comecei a usar o WhatsApp e fui vendo alguns trabalhos pelo celular. Foi o artesanato que me livrou da depressão”, conta.

Utilizando-se da reciclagem para criar suas peças, a artesã revela que, a partir de materiais como garrafas PET, tecidos e cimento, elabora diversos tipos de produtos. “Eu costuro, faço tapete, almofada, peças para jardim, peso de porta e pinto quadros. Tudo de artesanato que me pedir, eu faço”, pontua.

Além de vender os itens na feira de artesãs da Praia do Sol, que acontece no primeiro domingo de cada mês, Josefa também aceita encomendas. No início de seu empreendimento, a artesã enfrentou algumas dificuldades, principalmente, na maneira de divulgar o negócio. Foi a partir das redes sociais que seu trabalho ganhou maior visibilidade. “Comecei a publicar no Instagram e em grupos de amigos no WhatsApp. Assim, começaram a sair mais encomendas”, relata.

Para Josefa, seus 68 anos não representaram nenhum impedimento para empreender, mas, pelo contrário, são vistos como uma vantagem. “A idade não quer dizer nada. Tem que ir em frente. Na verdade, a idade ajuda muito; quanto mais velho, mais inteligente”, avalia.

Linhas e agulhas

Formada em Pedagogia e professora aposentada de Ensino Infantil, Ivone Mousinho faz crochê há 35 anos. E, assim como aconteceu com Josefa, encontrou no hobby, além de um negócio, um aliado de sua saúde mental.

“No início, eu fazia crochê apenas para mim. Nessa época, ainda estava em sala de aula. Depois, saí e parei com o crochê também. Tenho um problema, que tem tempo que não falo com ninguém, desligo o celular, me tranco. Eu estava com aquele problema, a depressão”, lembra a artesã, admitindo que escondia a doença de seu próprio marido: “Eu pedia que ele saísse de casa. Quando ele saía, eu desligava a campainha, fechava as portas e me trancava no meu quarto, passava o resto da tarde lá”. Preocupada, uma amiga pediu que Ivone costurasse um sousplat (peça de mesa usada como suporte para pratos), alegando que, assim, ela poderia se entreter com algo.

“Eu peguei a agulha, ainda tinha um resto de linha em casa, e fui tentar [costurar], só que estava sem ânimo. Desisti e falei que não iria fazer. Foi quando minha amiga disse: ‘Você consegue, não desista, por favor’. Então, decidi fazer e consegui, ficou lindo. Foi assim que eu ‘peguei’ ânimo”, explica. Para ela, hoje em dia, o artesanato é “um vício”. “Eu não passo um dia sem fazer crochê. Posso dizer, com sinceridade, que ele resolveu 80% da depressão”, confessa.

Ivone havia aprendido os fundamentos mais básicos do crochê com sua sobrinha, mas foi sozinha, e apenas assistindo a aulas pelo YouTube, que a professora aposentada passou a produzir tipos variados de peças. Atualmente, ela confecciona chapéus, bolsas, vestidos, blusas, saídas de praia, biquínis, colchas de cama e tapetes, entre outros itens, que vende por encomenda e na feira de artesanato da Praia do Sol.

Paixão por pizza gerou empreendimento tradicional em JP

Outro exemplo de aposentado empreendedor é Marco Antônio Viesti, de 72 anos, que segue administrando sua pizzaria e, às vezes, ainda coloca a mão na massa — literalmente. Paulista e neto de italianos, Marco trabalhava em uma multinacional, quando teve a oportunidade de aprofundar seus conhecimentos gastronômicos.

“Eu ia todo ano para a Itália a trabalho. Lá, é comum os homens cozinharem, e eu já gostava da cozinha. Eu sabia fazer pizza, mas de uma maneira muito primária. Com o tempo, fui aprendendo melhor o ponto da massa, o cozimento, como fazer o forno e como comercializar”, pontua o empresário, que também diz ter conhecido João Pessoa em meio a viagens profissionais. Em 1992, Marco se mudou para a capital, onde a prática culinária continuou evoluindo. “Fiz meu primeiro forno em casa, mas era uma bagunça. A gente [ele e seus amigos] não tinha prática. Às vezes, caía o teto dele e tínhamos de interromper a ‘brincadeira’ da pizza. Mas desistir não é meu feitio; por isso, falo que a pessoa tem que ser perseverante naquilo que deseja”, recorda. Com dificuldades financeiras e incentivado pelos amigos, Marco decidiu, em 1994, abrir sua própra pizzaria, a Pizza do Paulista.

Mesmo mantendo o negócio dentro de sua casa, ele chegou a instalar mais de 40 mesas no local, além de fazer entregas. “A família toda ajudava: minha mulher, no delivery, e meus filhos tomavam conta das mesas. E, assim, [o negócio] foi crescendo, até que resolvemos abrir uma outra pizzaria no bairro do Bessa”, narra Marco. Porém, diante da alta demanda e após os filhos partirem para viver no exterior, ele fechou esse segundo estabelecimento, abrindo, posteriormente, uma unidade em Manaíra, que funciona até hoje.

Segundo Marco, para investir no empreendedorismo, deve-se ter convicção do que se quer. “Você vai encontrar muita dificuldade, mas tem que continuar, vencer os obstáculos”, frisa. Para ele, ter boa vontade e encontrar métodos para divulgar seu negócio são as chaves para um trabalho bem-feito. “Você precisa fazer publicações [na internet], é preciso levantar poeira para poder aparecer. Também é preciso ser simpático e perseverante”, conclui.

Benefícios

Envolver-se em atividades empreendedoras, na terceira idade, ajuda a manter a mente ativa, auxiliando a prevenir o declínio cognitivo e doenças como Alzheimer, conforme a psicóloga Ana Luiza Silva. De acordo com ela, as interações sociais decorrentes do empreendedorismo também podem reduzir a solidão. “Embora o empreendedorismo possa ser estressante, muitos idosos relatam que o controle sobre o próprio trabalho e a flexibilidade resultam em níveis de estresse mais baixos, em comparação com empregos tradicionais”, afirma.

Ainda segundo Ana Luiza, reforçar a renda e satisfazer interesses inexplorados durante suas carreiras são os principais motivos para os idosos decidirem empreender após a aposentadoria: “Manter–se ativo, mental e fisicamente, também é uma motivação comum, pois empreender ajuda a evitar o tédio e a sensação de inutilidade. O desejo por mais autonomia e controle sobre suas decisões e horários, além do interesse em enfrentar novos desafios e continuar aprendendo, também são incentivos para muitos”.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de julho de 2024.

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A União

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