Censo do IBGE mostra avanço na PB

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O acesso ao Ensino Superior, na Paraíba, avançou nas duas primeiras décadas deste século. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de pessoas com 25 anos de idade ou mais e nível superior completo quase triplicou, de 2000 a 2022, passando de 5,3% para 14,5%. O percentual supera a média da Região Nordeste (13%), na qual o estado teve o terceiro melhor índice — inferior apenas aos registrados no Rio Grande do Norte (15,1%) e em Sergipe (14,9%). Por outro lado, ainda ficou abaixo da média nacional (18,4%), sendo a oitava unidade federativa (UF) com a menor proporção. Os dados foram publicados ontem, na pesquisa “Educação: Resultados preliminares da amostra”, referente ao Censo Demográfico 2022.

“Uma possível explicação para esse crescimento tem relação com o desenvolvimento de políticas públicas nacionais para favorecer a chegada à graduação”, aponta a professora de Sociologia Maria de Assunção Lima de Paulo, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Entre essas políticas, ela destaca o Programa Universidade para Todos (Prouni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies), voltados para o ingresso em instituições privadas. Outros marcos foram a criação do Instituto Federal da Paraíba (IFPB) e do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni), além da expansão da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Tais políticas, aliadas à unificação do acesso às universidades, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), ampliaram os cursos ofertados e interiorizaram o Ensino Superior.

Assunção diz que, a partir de 2008, foram criados 14 novos cursos na Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e 24 na UFCG. O Reuni, portanto, foi uma política que expandiu o número de vagas e que criou oportunidades tanto em cursos diferentes, com um perfil mais novo, quanto em outros que, apesar de já existirem na universidade, estavam mais concentrados nos centros maiores. “O IFPB tem 63 cursos de graduação, enquanto a UEPB oferta 59 cursos, em vários municípios da Paraíba. E nós temos uma população, nos municípios pequenos, que, em muitos casos, trabalha e não dispõe de um sistema de transporte fácil. Com a interiorização, essas pessoas passaram a ter mais acesso ao Ensino Superior”, relata Assunção.

Raça e gênero

Ainda de acordo com o IBGE, no universo dos paraibanos com Ensino Superior completo e idade igual ou maior que 25 anos, o crescimento mais significativo foi registrado entre pretos e pardos. Somando-se os dados desses dois grupos, a população negra que concluiu a graduação passou de 4,9%, em 2000, para 21,6%, em 2022. Os números, portanto, quadruplicaram, com uma alta de 16,7 pontos percentuais (p.p.).

Para Assunção, esse cenário deve-se, inicialmente, às políticas de inclusão social, como o Bolsa Família, que deu garantia de renda às famílias mais pobres, permitindo que crianças e jovens priorizassem os estudos. “O principal fator, contudo, foram as ações afirmativas. Tivemos essa ampliação por causa do ingresso por meio de cotas, para estudantes de escolas públicas, estudantes pretos, pardos e indígenas e pessoas com deficiência. As cotas levam em consideração que a desigualdade social e econômica atinge mais essas populações, e isso é explicado pelo longo processo escravocrata no Brasil e pela dificuldade que essa população teve para acessar a educação básica”, afirma a docente.

Com base nas informações divulgadas pelo IBGE, também é possível comparar a escolaridade das mulheres e dos homens, com 25 anos ou mais, na Paraíba — o que revela um nível de instrução médio maior entre as pessoas do sexo feminino. No universo das mulheres dessa faixa etária, 17% tinham nível superior completo, enquanto, entre os homens, a proporção era de 11,7%. Considerando-se a população sem instrução e com Ensino Fundamental incompleto, por sua vez, 51,9% dos homens estavam nessa condição, enquanto a porcentagem, entre as mulheres, era de 43,6%. Além disso, o número médio de anos de estudo é maior entre o público feminino do que entre o masculino, em todos os grupos de idade a partir dos 20 anos.

Para a professora Luciana Leandro da Silva, vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd) da UFCG, a maior presença de mulheres entre as pessoas com melhor nível de instrução é resultado do processo de emancipação feminina, vivido nos últimos anos, e de políticas de assistência estudantil. “As mulheres foram historicamente excluídas do sistema educacional, mas, nos últimos 30 a 40 anos, têm buscado obter mais autonomia e independência. Ainda assim, é preciso considerar que as desigualdades no mercado de trabalho persistem, tendo em vista que mulheres com mesmo nível de escolaridade continuam ganhando menos que homens, estão em menor número na política e em cargos de comando e ainda assumem jornada dupla ou tripla de trabalho, sobretudo as mulheres pobres e pretas”, complementa.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 27 de fevereiro de 2025.

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A União

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