O que dizem hoje economistas liberais que “fizeram o L” em 2022

Economistas liberais que apoiaram Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno das eleições presidenciais de 2022, no confronto com o então presidente Jair Bolsonaro (PL), hoje se mostram céticos em relação à política econômica do petista em seu terceiro mandato.

Visões antiquadas em relação à economia, a falta de preocupação com a questão fiscal e ataques à política do Banco Central são algumas das principais críticas feitas pelos apoiadores. Confira a seguir o que dizem Pedro Malan, Elena Landau, Armínio Fraga, Pérsio Arida e Henrique Meirelles – este, o único do grupo com visão favorável ao governo.

Pedro Malan: governo tem visão de 15 anos atrás

Um dos mais críticos e que apoiou Lula no segundo turno é o ex-ministro da Fazenda no governo Fernando Henrique Cardoso e um dos pais do Plano Real, Pedro Malan. Em um artigo publicado na segunda semana de fevereiro no “O Estado de S. Paulo”, ele aponta que um pensamento de 15 anos atrás ainda prevalece no governo.

Segundo ele, o Estado já se sobrecarregou de obrigações que testam os limites de sua capacidade. “Ao dispersar demais suas atividades, o Estado fica mais suscetível a ceder a interesses isolados, a persistir em promessas que não pode cumprir.”

O ex-ministro ressalta que, ao longo dos próximos três anos, será fundamental “de maneira clara e crível, sinalizar para os agentes econômicos que existe um sistema de regras de responsabilidade fiscal que represente compromisso firme em assegurar a sustentabilidade da trajetória das finanças públicas do país.”

Malan ressalta que há uma falta de um sistema de regras fiscais no país, mesmo apesar dos esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, contra o fogo amigo de integrantes do governo e de seu partido. “Uma política fiscal insustentável pode impedir o desenvolvimento econômico e social sustentado no longo prazo.”

Elena Landau: política industrial é ruim e tem ideias atrasadas

Críticas também vêm da economista Elena Landau, que já foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e coordenou a área econômica da candidata do MDB à presidência, Simone Tebet.

Ela avaliou o programa Nova Indústria Brasil, lançado por Lula em janeiro para destinar R$ 300 milhões ao setor até 2026, como sendo ruim e tendo ideias atrasadas. À “Folha de S. Paulo”, ela disse que, assim como Lula plantou em 2010 o “desastre” dos governos Dilma, o presidente está “plantando de novo o desastre” de seu sucessor no Planalto.

Segundo a economista, a filosofia da política industrial é a de sempre. “Economia protegida, subsídio, elegendo determinados setores. Então, como desenho é ruim.” A economista também considera que o problema no Brasil não é a falta de financiamento, mas sim a ausência de segurança jurídica.

Arminio Fraga: Lula deu “rasteira” em Haddad

Outro economista que apoiou o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) durante a campanha eleitoral, especialmente no segundo turno, foi o
ex-presidente do Banco Central durante o governo Fernando Henrique e sócio da
Gávea Investimentos, Armínio Fraga. O apoio estava relacionado à composição do
Congresso, mais conservador e mais favorável a Jair Bolsonaro.

Fraga apontou, em entrevista à “Veja” no final do ano passado, que uma das principais preocupações em relação à política econômica de Lula é a questão fiscal. Dados do Banco Central (BC) mostram que a economia saiu de um resultado primário positivo de 1,25% do PIB em 2022 para um déficit de 2,29% em 2023. O endividamento público passou de 71,6% do PIB para 74,3% do PIB.

“Claramente ele [Lula] deu uma rasteira no ministro [Haddad] numa situação que já tinha dificuldades, que já vinha lá de trás”, afirmou. “O caminho da bagunça fiscal é trágico e agora ele levou essa rasteira. Os analistas já esperavam essa dificuldade, sobretudo porque o lado do gasto vem crescendo há décadas no Brasil, e não pode entrar na equação. Ele foi excluído por decisão do governo, presumo que do próprio presidente.”

Fraga avaliou que não está sendo fácil a condução da economia por parte de Haddad, mas que este apontou o “Brasil para a direção certa.” Ele aponta que o ministro da Fazenda meio que pegou o ônibus e mudou a direção. Apontou para a direção certa, mas ainda não andou muito.

“Acho que ele está enfrentando fogo amigo, que enfrentou no início e na transição também. E acho que ele está tentando, mas não está sendo fácil para ele.”

Em outubro, durante a Feira Literária de Parati (Flip), ele disse para “O Globo” que um governo bem arrumado pode crescer entre 3% e 4% ao ano. Mas ele avaliou que não é a cena do atual governo. “Pode vir a ser, mas acho improvável”, disse. A mediana das projeções do último relatório Focus, do Banco Central, divulgado nesta terça (6), sinaliza para um crescimento de 1,77%, em 2024.

Pérsio Arida: retrocessos em diferentes áreas

Outro apoiador de Lula que manifestou críticas à política
econômica foi o economista Pérsio Arida, outro dos pais do Plano Real. Ele
afirmou, em 2022, que Bolsonaro era um risco para a instabilidade institucional
do país.

Em entrevista ao “Valor”, Arida apontou retrocessos na agenda ambiental e na política externa. Também manifestou críticas em relação aos ataques feitos pelo presidente e por figuras próximas ao Banco Central e à tentativa de revisão nas regras do marco legal do saneamento.

Arida também foi um dos apoiadores do manifesto pela
aprovação da reforma tributária, que uniu, em novembro, economistas de
pensamento heterogêneo e antagônico, como o ex-ministro petista Guido Mantega –
que durante o governo Dilma insistiu em uma política de reforço dos gastos
públicos para incentivar a economia – e Marcos Mendes, crítico de Lula e um dos
responsáveis pela elaboração do Teto de Gastos.

Henrique Meirelles: elogios a Haddad

Ex-presidente do Banco Central nos dois primeiros mandatos de Lula e ministro da Fazenda no governo de Michel Temer (MDB), Henrique Meirelles apoiou o petista no segundo turno de 2022, mas lançou dúvidas sobre sua política econômica antes mesmo da posse. Disse que o país poderia ter “clima de recessão” caso não houvesse limites aos gastos extras que o presidente recém-eleito pleiteava e criticou a tentativa do PT de barrar a indicação de Ilan Goldfajn ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Em fevereiro de 2023, já com Lula na Presidência, Meirelles criticou os ataques do petista ao Banco Central e sua política de juros. Depois, em maio, lamentou a troca do teto de gastos – criado na gestão de Meirelles na Fazenda – pelo novo arcabouço fiscal, que classificou de “complexo” e “de difícil execução”. Mais: disse que o presidente havia anunciado, logo após a eleição, “uma política na linha do que foi o governo da ex-presidente Dilma, que levou o Brasil a uma recessão muito grande”. “É um risco que corremos”, afirmou.

Mais recentemente, no entanto, Meirelles elogiou o trabalho do Ministério da Fazenda. Referindo-se à pressão do Congresso por emendas parlamentares, movimento que considerou “legítimo e constitucional, mas perigoso”, elogiou o que classificou de “empenho” da pasta liderada por Fernando Haddad.

Em artigo no jornal “O Estado de S. Paulo” no início do mês, Meirelles disse que as pressões sobre o governo estariam insuportáveis se o Ministério da Fazenda não se mantivesse firme na busca do déficit zero neste ano, apesar da desconfiança do mercado e do trabalho dos políticos.

“O compromisso com o déficit zero é um sinal de empenho da Fazenda, o que dá um sinal positivo ao mercado e freia o ímpeto do Congresso e da máquina pública pelo gasto”, escreveu.

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Fonte : Gazeta do Povo

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