Entenda por que pais exaustos esquecem filhos dentro de carros

Na última semana uma menina de 4 anos morreu depois de ser esquecida dentro de um carro pelo pai, em Alagoinhas (BA). Entretanto, esse não é um caso isolado desse tipo de tragédia. 

Apesar de não existirem dados de órgãos oficiais sobre esse tipo de incidente, um levantamento feito pela pesquisadora Driely Costa, da Universidade Federal de Juiz de Fora, identificou 59 casos de crianças deixadas sem supervisão no carro entre 2006 e 2018. Em 80% dos casos, elas foram esquecidas, e, em 17%, as crianças entraram nos veículos sozinhas e ficaram presas.

Negligência, falta de atenção ou sinal de ausência? Afinal, por que pais e mães esquecem filhos em carros? O Metrópoles conversou com especialistas que alertam para a principal causa do esquecimento e como evitá-lo.

O caso

Na quarta-feira (6/3), foi a vez do pai de Izzi Gil de Oliveira levar a menina, de apenas quatro anos, para a escola. Normalmente essa responsabilidade era atribuída à mãe de Izzi, mas naquela manhã foi diferente e a família saiu da rotina. Mais tarde, naquele mesmo dia, a mulher ligou na escola para ter notícias da filha, que estava gripada. Porém ela foi informada pela equipe da instituição que Izzi não havia sido deixada naquela manhã.

A mulher ligou para o marido, para entender por que a menina não estava na escola. Ao perceber que tinha esquecido de deixar a filha no colégio, o homem, de 40 anos, correu em direção ao carro e encontrou a filha desacordada. A suspeita é de que a menina tenha ficado cerca de três horas presa dentro do carro.

À polícia, o homem disse que, durante o trajeto, a filha adormeceu e, como ele não estava acostumado a levá-la, esqueceu de parar no colégio e seguiu direto para o trabalho.

A morte de Izzi Gil de Oliveira foi confirmada pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e o corpo da criança foi levado ao Instituto Médico Legal (IML). Já o pai de Izzi foi levado pela polícia e autuado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Nas redes sociais do Metrópoles, uma mulher, que diz trabalhar na instituição onde Izzi estudava, comentou que a menina era doce e meiga e pediu a Deus para que a família fosse livrada do julgamento de pessoas desconhecidas. 

“Um dos melhores momentos do final do meu dia era ficar sentada brincando com ela, mesmo sem entender quase nada do que ela falava. Eu espero solenemente que Deus conforte a família neste momento, e livre ela de todos esses comentários de pessoas desconhecidas que só vai gerar mais dor neste momento de perda. Nós amamos você, Izzi”, escreveu a mulher.

O que dizem os especialistas?

A psicóloga de família, Ivalda Alves de Morais, explica que, geralmente, o fenômeno do esquecimento é resultado de um estilo de vida de excessos. “As pessoas estão cada vez mais comprometidas com os excessos de trabalho e responsabilidade. Tudo é urgente. Tudo para ontem. Uma mudança na rotina, seja ela qual for, é suficiente para desestruturar e provocar sérias consequências”, disse Ivalda.

Para a psicóloga, isso não demonstra falta de presença na vida e rotina do filho, mas sim uma sobrecarga de atenção, que pode vir do trabalho ou de outros compromissos, aliada ao “sair da rotina”. “A vida estressante que a maioria das pessoas vivem hoje é um dos fatores que induzem a esse tipo de situação, infelizmente”.

Membro do Conselho Regional de Psicologia do Distrito Federal, o psicólogo Vitor Barros afirma que qualquer pai ou mãe está sujeito ao esquecimento e que ele não está ligado ao quão afetuosos são esses pais com seus filhos. “Quero deixar claro que não se trata de um esquecimento emocional do tipo ‘quero deletar essa pessoa da minha vida’, mas sim um esquecimento acidental por excessos nas rotinas”.

Para ele, esses excessos são, justamente, resultados de se fazer muitas coisas ao mesmo tempo, sendo todas essas responsabilidades consideradas urgentes, somado aos desafios de criar e educar uma criança. “Os cuidados relacionados a uma criança são intensos e exaustivos. Na atual conjuntura de correria e atenção difusa, se tornam uma bomba-relógio para o funcionamento pleno do cérebro”. 

O que pode ser feito para prevenir acidentes?

  • Ao sair da rotina, tenha o costume de deixar pertences pessoais que sempre estão com você (como bolsas, carteiras e celulares) no banco de trás do carro enquanto estiver dirigindo, assim, tendo algo que te remeta à sua rotina original, você será direcionado a conferir o banco traseiro; 
  • Reforce, diariamente, o que é mais importante em suas vida. O bem-estar da família e de seus entes é algo que precisa ser prioridade, sempre;
  • Quando tiver uma alteração da rotina, certifique-se do que realmente tem que ser feito. Faça listas e programe alarmes;
  • Tente, no dia a dia, retirar, pelo menos, uma sobrecarga. É possível. Você consegue tirar aquilo que está em excesso;
  • Organize melhor a dinâmica familiar para que todos sejam cuidados e protegidos.

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Por Metrópoles

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