Maior sonho é subir ao pódio

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Edival Marques Quirino Pontes, o Netinho Marques,  26 anos, natural de João Pessoa, é um dos representantes da Paraíba e do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris. O atleta de taekwondo foi vice-campeão mundial em 2022, possui quatro medalhas em Grand Prix e dois ouros em Jogos Pan-Americanos: um no individual em Lima-2019 e outro no torneio por equipes em Santiago-2023, ao lado de Paulo Melo e Maicon Andrade. Lutador da categoria até 68 quilos, sendo considerado desde cedo uma grande promessa do esporte brasileiro, Netinho foi campeão das Olimpíadas da Juventude em 2014. Em Tóquio 2024, acabou eliminado na primeira fase dos Jogos Olímpicos. Em Paris, o taekwondo é uma das últimas modalidades a iniciarem suas disputas, que ocorrem a partir do dia 7 de agosto, o paraibano estreia dia 8. Antes de viajar para a França no dia 1o de agosto, o taekwondista bateu um papo com a Rádio Tabajara e contou um pouco de sua história, bem como, falou da preparação para os Jogos Olímpicos de 2024, no qual, desta vez, chega com grandes chances de medalha.

A entrevista

 Falando um pouco do seu início, a gente conversou com a sua mãe, com os seus primeiros professores, eles disseram que sua relação com o taekwondo surgiu da sua amizade com o filho de um mestre. Pode contar essa história?

Lembro bem da história. A gente jogava Super Nintendo, eu e o filho do mestre Manuel. Um dia o mestre chegou, depois do serviço dele, ele era policial, lembro até hoje, ele passando, a gente sentado no chão. Aí ele falou: ‘Netinho, eu sou professor de taekwondo, você não quer ir lá experimentar?’. Então, fui falar para o meu pai que disse: ‘Vamos ver isso aí, veremos se você vai gostar’. Mas foi paixão à primeira vista, assim que eu cheguei lá, já vi que gostava de chutar (risos), e foi assim que aconteceu.

 Quando que o taekwondo deixou de ser uma brincadeira? Quando é que você começou a levar isso a sério, a enxergar como uma profissão?

Então, foi quando percebi que o esporte era uma maneira de mostrar que eu era o melhor, que eu era mais rápido. Acho que foi ali que eu me identifiquei com o esporte de forma geral (ainda na natação). Com os meus 14 anos, quando comecei a ter a oportunidade de frequentar a  Seleção Brasileira de Taekwondo, sendo dois anos reserva, bateu uma tristeza. Ali falei com meu pai que talvez aquilo não fosse para mim, mas ele sempre falava: ‘Netinho, olha onde tu chegou. Tu é reserva da Seleção. A gente nem imaginava que você poderia fazer essas coisas’. Ali eu falei, vou tentar novamente. No ano seguinte, entrei para Seleção, como titular. Nesse momento, cheguei para o meu pai e disse que iria viver do taekwondo.

 Quando viu que precisava sair da Paraíba para ir mais longe no esporte? O que pensou no momento?

Infelizmente, tivemos que sair da Paraíba. Eu queria ter continuado no estado, mas não tínhamos tanto apoio para eu manter o ritmo de treinamento que a Seleção Brasileira pedia. Então, eu precisei ir embora, foi o preço que eu paguei para realizar o meu sonho. Quando  percebi que era aquilo que eu queria para minha vida, também decidi que iria alcançar e não importava o preço que teria que pagar. 

 Qual foi a conquista que mais te marcou, aquela que mais te deixou emocionado?

Foi a medalha nos Jogos Pan-Americanos do Chile. Algo que sempre conto para explicar o porquê é que, quando tinha 12 anos, eu lembro de pular na cama vendo o Diogo Silva sendo campeão em 2007, nos Jogos do Rio de Janeiro. E foi uma coisa que eu pensei: Caraca, Diogo Silva ficou famoso com isso, no esporte que eu estou fazendo, olha que legal. Então, foi uma coisa que me marcou muito, porque eu queria aquela medalha. Eu queria muito ser campeão dos Jogos Pan-Americanos. Eu falava para o meu pai que queria ser famoso daquele jeito. Quando ganhei aquela medalha foi uma loucura, após o pódio, veio muita câmera em cima de mim, aquela coisa toda. Falei na hora, ‘caraca, olha aquela parada que eu estava sonhando com meus 12 anos acontecendo’. É muito emocionante lembrar desse dia.

 Netinho, é difícil falar do taekwondo na sua vida sem falar do seu pai. Pode falar da sua relação com ele e da perda? Como foi esse período?

Foi bem difícil depois que meu pai faleceu. Eu acho que ele era 50% do meu taekwondo. Ele era um cara que eu sempre confiei, que sempre me deu conselhos bons para vida, desde quando eu nasci. Depois que meu pai faleceu, não conseguia mais escutar ninguém, entende. Tudo que eu fazia de errado não conseguia mais identificar porque eu não confiava em ninguém a não ser nele. Hoje, tenho um trabalho com coach, justamente por causa disso, precisava de alguém para me dar conselhos. Fiquei com essa dificuldade porque meu pai era um cara que me guiava, era o meu pilar. Graças a Deus, hoje eu estou com a cabeça melhor, mais adulto. Nada vai substituí-lo, jamais, mas tenho procurado maneiras de ficar bem para desempenhar em alto nível.

 Na sua primeira participação em Jogos Olímpicos, em Tóquio, fazia pouco tempo que seu pai tinha falecido, isso impactou de alguma maneira no seu desempenho naquela competição?

Durante o evento, eu me enganei muito. Eu sempre fui um cara que eu gosto de estar alegre, gosto de levar felicidade para os outros, fazer todo mundo rir. Então, eu sinto que me enganei. Falava o tempo todo para mim mesmo que estava bem, que isso não estava me afetando. Três meses antes dos Jogos, machuquei sério o joelho e aquilo também ficou na minha cabeça. Com a lesão e com o falecimento do meu pai, sempre tentava trazer coisas boas para minha cabeça, caso contrário eu acho que iria ficar louco e não iria conseguir nem lutar naqueles Jogos. Mas depois que passou,  quase um ano e meio depois, caí na real. Falei para algumas pessoas que não estava bem naquele momento. Então, acho que afetou, sim, afetou bastante meu desempenho. Eu olho minha luta, eu olho minha entrada naquela Olimpíadas e penso que não era eu. Olhando de fora agora, eu falo que não estava bem.

 Qual o sentimento de saber que você representará o Brasil pela segunda vez?

A ficha só cai depois que passam alguns dias. Na minha primeira classificação, para Tóquio, meu pai se emocionou muito, me mandou um áudio falando: ‘Netinho, você é fera’. Ali que minha ficha caiu. Então, acho que a ficha vai caindo aos poucos. Até mesmo durante os Jogos, é difícil acreditar. Eu e um colega estávamos na Vila Olímpica em Tóquio, e a gente falava: ‘Cara, tem noção que aqui estão as pessoas que mais levantam peso no mundo e aqueles ali são os atletas mais velozes do mundo. Num momento, paramos e ele falou: ‘E nós somos os caras que mais chutam’. Assim a ficha vai caindo. Agora, chego com outra mentalidade. Eu quero tratar as Olimpíadas como é preciso, já conheço como é e não pode ser como da primeira vez, com aquele turbilhão de emoções. […] Dessa vez, sou um cara mais velho, vou com mais experiência, mais tranquilo e com a cabeça bem melhor. Se Deus quiser, vou trazer essa medalha.

 Em conversa com sua mãe, ela nos confidenciou que não acompanha suas lutas, mas disse também que sempre tem uma velinha acesa no quarto para orar por você, o quanto uma medalha poderia retribuir todo esse amor?

Com certeza, a minha mãe é o que me mantém em pé. Os joelhos dela no chão é o que sempre me mantém bem. Não tenho nem palavras para agradecer o que minha mãe, meu pai, minha irmã e a minha família, como um todo, fez e tem feito por mim. São tudo que eu tenho. Quando meu pai estava doente, falava: ‘só vão ficar vocês três, então, eu quero que vocês sejam muito unidos”. Não tenho palavras para falar sobre minha mãe e minha irmã, porque são tudo pra mim.

*Matéria publicada originalmente na edição impressa do dia 28 de julho de 2024.

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A União

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